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27 de Julho de 2015 às 10:25

Explorando o potencial oculto das ações japonesas

Devido ao facto de, durante muitos anos, os investidores a nível mundial não terem encarado o Japão como uma oportunidade de retornos significativos, neste momento há grande número de oportunidades.

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Apesar do bom desempenho apresentado este ano, as ações japonesas têm sido sistematicamente subestimadas pelos mercados e têm estado constantemente sub-representadas em termos de cobertura por parte dos analistas. Analisando os fatores que conduziram ao bom desempenho apresentado recentemente pelo Japão, Carlos Varela, Diretor Comercial da JPMorgan AM para a Península Ibérica, explica por que motivo este mercado oferece uma série de oportunidades de investimento ainda por explorar, destinadas sobretudo aos gestores de ativos dinâmicos e sediados no país.

Este ano, até ao momento, as ações japonesas têm apresentado uma série de bons resultados verdadeiramente impressionante, não apenas em termos de ienes, mas também no que diz respeito às outras grandes divisas mundiais. Além do mais, estamos em crer que o mercado de ações do Japão tem um grande potencial para gerar lucros adicionais que ultrapassem estes níveis. Existem vários pilares que sustentam este ponto de vista: a política monetária mostra-se propícia e é favorável aos mercados, há setores da economia que estão a melhorar, as empresas japonesas estão a alcançar lucros sem precedentes - e provavelmente irão continuar a fazê-lo - as avaliações dos mercados não parecem caras e a gestão das empresas dá mostra de rápida melhoria.

Uma política monetária favorável e uma melhoria das condições económicas
O Banco do Japão continua firmemente empenhado em gerar inflação, e este tipo de intervenção vai continuar fazer subir os preços dos ativos. Enquanto isso, a economia do país está a começar a encetar uma retoma gradual após o impacto do aumento do imposto sobre o consumo. Está igualmente a colher os benefícios do impacto da queda dos preços do petróleo, que confere à economia um impulso significativo, por o Japão ser um importador líquido desta matéria-prima. Os salários estão a subir. O crescimento dos salários tem sofrido uma ligeira aceleração a partir de níveis baixos, mas trata-se dos aumentos mais significativos desde 1998. E as discussões que mantemos regularmente com responsáveis de empresas japonesas levam-nos a crer que estes preveem um incremento das restrições dos mercados de trabalho.

O papel crítico das reformas da gestão das empresas
Estamos em crer que a principal razão pela qual o Japão poderá finalmente começar a esbater as diferenças que o separam da Europa e dos Estados Unidos tem a ver com as reformas da gestão das empresas que estão atualmente em curso. Além de todos os fatores conjunturais que estão a sustentar as ações japonesas, as reformas de gestão constituem realmente uma mudança estrutural. De forma sucessiva e relativamente rápida, assistimos à criação e implementação de quatro importantes reformas, que estão a alterar o universo dos acionistas.

Em primeiro lugar, temos o novo índice JPX - Nikkei 400 (também conhecido por "índice da vergonha"), que estabelece a rentabilidade dos capitais próprios e os fatores de gestão como critérios de seleção de ações. Em segundo lugar, temos o Código de Responsabilidade Fiduciária para investidores, ao qual já aderiram 160 investidores institucionais. Em terceiro lugar, temos a introdução de diretrizes sobre melhores práticas de gestão para as empresas cotadas. E em quarto lugar, temos as novas orientações de voto dos Institutional Shareholder Services (ISS), que recomendam um limite de 5% de rentabilidade dos capitais próprios e aconselham os acionistas a votar contra empresas que não tenham pelo menos dois diretores externos.

A cobertura de ações japonesas por parte dos analistas continua a ser surpreendentemente escassa
As ações japonesas estão a gerar níveis de lucro sem precedentes, e o mercado tem sofrido atualizações constantes por parte dos analistas nos últimos dois anos. As avaliações a nível global não sofreram praticamente qualquer alteração, mesmo quando os retornos do mercado subiram bastante, pelo que o mercado não parece excessivamente caro aos níveis atuais.

No entanto, devido ao facto de, durante muitos anos, os investidores a nível mundial não terem encarado o Japão como uma oportunidade de retornos significativos, neste momento há grande número de oportunidades ao alcance dos gestores dinâmicos, nomeadamente dos que estão sediados no país. Falando sem rodeios, a cobertura do Japão por parte dos analistas é simplesmente lamentável, apesar de este país se perfilar como o segundo maior mercado de capitais do mundo. O índice TOPIX é um bom exemplo, pois atualmente só há um analista, ou mesmo nenhum, a assegurar a cobertura de cerca de metade de todo o índice.

Esta situação é agravada pelo facto de os analistas no Japão, quando os há, estarem a maior parte das vezes a cobrir as empresas erradas. A maior parte deles estão concentrados nas empresas líderes da última geração de crescimento no Japão, em vez de cobrirem as futuras empresas líderes. Um bom exemplo disso é o da Canon. Embora esta empresa se tenha mantido na liderança da produção mundial de câmaras, este setor praticamente não representa nenhuma grande área de crescimento atualmente.

Uma fonte lucrativa de oportunidade para os gestores dinâmicos
Por isso mesmo, é evidente que os gestores dinâmicos, no mercado atual, têm pela primeira vez a oportunidade de olhar para além do índice e desencantar oportunidades de investimento interessantes e potencialmente lucrativas. Um exemplo disso é a forma como estamos atualmente a tratar o segmento dos carros sem condutor, pois andamos à procura de oportunidades de investimento que não se circunscrevam ao quadro convencional da indústria do setor. Há 20 anos, as três grandes empresas japonesas (Toyota, Honda e Nissan) talvez fossem superiores às suas congéneres no resto do mundo. Embora na altura fizesse sentido um investimento direto nos principais fabricantes, esta estratégia de investimento já não é adequada nos dias de hoje.
No entanto, se fizermos uma análise mais profunda, verificaremos que estão a ocorrer algumas mudanças interessantes. Vasta olhar para o mercado dos carros eletrónicos, que configura um excelente exemplo da forma como estas alterações se estão a operar na prática. Este espaço inovador está a evoluir rapidamente, e o Japão está a servir de palco para muitas das principais empresas de alta tecnologia que fornecem componentes eletrónicos fundamentais para os fabricantes de automóveis. Além disso, os fabricantes especializados de artigos como os dispositivos de segurança que ajudam os condutores a estacionar ou asseguram a condução assistida por meio de ligação à Internet proporcionam aos gestores dinâmicos uma nova forma de exercer a sua atividade.

O crescente impacto económico do fluxo de turistas chineses
No entanto, a única alteração verdadeiramente significativa com impacto no desempenho das ações japonesas nada tem a ver com a gestão das empresas no Japão: trata-se do enorme aumento do fluxo de turistas provenientes da China. O fluxo de turistas da China sofreu um aumento de 80%, o que representa uma nova fonte significativa de procura. Por exemplo, Fukuoka, uma cidade que funciona como porta de entrada na ilha Kyushu, com 1,5 milhões de habitantes, recebe anualmente 1,5 milhões de turistas, a grande maioria provenientes da China. Há mais de 200 navios de cruzeiro a rumar à cidade, e os turistas fazem compras sem restrições, pois os navios de cruzeiro não impõem qualquer limite de peso na bagagem. E a atual contribuição económica do turismo no Japão equivale aproximadamente a acrescentar 1,5 milhões de pessoas à população, simplesmente porque toda esta gente gasta dinheiro a rodos neste país.


Este artigo foi redigido ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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