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09 de Abril de 2007 às 13:59

Das margens do subterrâneo

Tome-se esta experiência muito simples, com a qual lido todas as semanas: quase nenhum dos meus alunos do 5º ano de Direito nasceu antes da adesão de Portugal à União Europeia. E, por maioria de razão, nenhum nasceu antes de 1974. Escusado, pois, presumir

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Se ninguém fizer pedagogia é-lhes completamente indiferente o passado. Não o conheceram e o que está longe da vista está longe do coração.

O que é que lhes é mostrado? Um país integrado na União Europeia, portanto rico, mas o mais pobre ou quase dos ricos. Internamente, actores políticos, mais actores do que políticos e mais chefes partidários do que candidatos a estadistas. Uma vida política caracterizada por uma mediocridade continuada, assente num carreirismo partidário que um dia fará abanar a árvore das patacas e que, com jeitinho e alguma sorte, abrirá as portas de uma qualquer empresa municipal ou aparentada. E uma paleta de políticos, sem outra profissão conhecida, a quem dificilmente se compraria um utensílio para jardinagem. Externamente, uma União Europeia com crescente dificuldade na afirmação de causas motivadoras dos cidadãos dos países que a integram. É este quadro que lhes é mostrado. E eles pensarão – e pensarão muito bem – que daqui não vem uma pinga de motivação e uma gota de solução para os seus anseios legítimos. Portanto, desligam da política. Olhando para a sociedade que os envolve, verificam a ocorrência de uma generalizada apatia, sem causas nem sonhos. A par, lidam todos os dias com a mais feroz das concorrências em que vale praticamente tudo para marcar território e segurar, desde logo, um lugar ao sol que é um emprego em princípio de carreira. Se é assim, como é, para as potenciais elites, calcular-se-á o retrato do restante que desemboca directamente no pantanal mais próximo.

Ora, sem quaisquer referências quanto ao passado e tendo pela frente, interna e externamente, uma realidade cinza sem um raio de sol, tem-se um caldo propício a que das margens do subterrâneo surjam sinais a que se deve dar atenção. Porque o apregoado nacionalismo que, por estes dias, tem mostrado a cara, aparece com uma característica que nunca existiu no nacionalismo português: é xenófobo. Mais: aparece como uma importação de outros comportamentos estranhos ao nacionalismo português. Os portugueses foram os únicos, de entre os povos coloniais, que se miscenizaram. Nunca por nunca ostracizaram os povos colonizados. E, portanto, o que há a fazer é desmontar algo que é manifestamente artificial em relação ao nosso modo de ser.

É contraproducente a gritaria porque dá palco. Mas é perigosa a indiferença porque dá espaço. Desmontar falácias, fazendo pedagogia democrática – eis o caminho que forçará o regresso às margens do subterrâneo. Ser tolerante como é próprio das democracias não é ser pateta como compete aos pobres de espírito.

Neste contexto, não sei se a melhor via é a do cartaz dos "gatos".

Mas há uma coisa em que pode ajudar. Responde com humor e o que os portugueses mais precisam é de rir. Rir com a boca bem aberta em vez de rir às escondidas com a boca tapada pela mão que indicia escândalo. Rir alto e bom som. A pretexto do que quer que seja que tenha humor e graça porque essas são as armas que descredibilizam os extremismos. Rir, até, do estranho caso do padre voador que, com o valor da herança, comprou um Mercedes SLK e se faz deslocar nele, atraindo os jovens das paróquias. Ora aqui está um padre que não vê qualquer incompatibilidade entre a função e o seu conforto entre funções.

Um padre que responde como deve ser ao resultado "verificado" nos "Grandes Portugueses". Um padre, português, moderno.

Bem-haja, padre Diamantino!

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