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28 de Agosto de 2006 às 13:59

Cultura: um factor estratégico para o Turismo

Este mês de Agosto foi profícuo em boas notícias para Portugal que, de forma contígua, associam cultura e turismo.

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No início do mês chegou a informação de que - e na sequência de um protocolo celebrado em Abril último entre o Estado (através do Ministério da Cultura) e a Fundação Centro Cultural de Belém, a Associação Colecção Berardo e o coleccionador José Berardo – foram publicados em Diário da República os estatutos da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea Colecção Berardo. Esta entidade, que concretiza uma parceria público-privada, irá fruir de um conjunto de obras de arte de José Berardo (862 em concreto), por dez anos em regime de comodato, e dispor de um fundo para aquisição de obras de arte anual comparticipado em partes iguais pelo Governo português e pelo conhecido empresário. Além do mais, até ao final deste ano, será criado no Centro Cultural de Belém um importante Museu de Arte Moderna e Contemporânea que contribuirá certamente para reposicionar Portugal, e em particular Lisboa, nos roteiros turísticos e culturais internacionais.

Em meados de Agosto surgiram duas outras notícias igualmente relativas à cultura. A primeira novidade é a de que o Conselho de Ministros aprovou dois diplomas de apoio às artes, cinema e audiovisual: um que estabelece o regime de atribuição de apoios financeiros do Estado às artes e outro que regulamenta medidas relativas ao fomento, desenvolvimento e protecção das artes e actividades cinematográficas e audiovisuais, bem como a criação de um fundo destinado ao fomento do cinema e audiovisual. A segunda boa notícia respeita à assinatura de um contrato de doação, por parte da pintora Paula Rego, de 59 desenhos, 34 gravuras e 8 litografias e de empréstimo de 20 quadros (de sua autoria e do conhecido pintor Victor Willing) à Câmara de Cascais com vista à criação da Casa das Histórias e dos Desenhos Paula Rego. Este museu, com abertura ao público prevista dentro de quatro anos, contemplará uma área de exposição permanente e temporária.

Aliás, e na área do turismo, a ideia de aliar o lazer à cultura parece ser cada vez mais central. É sabido como, por exemplo, em Madrid, capital de país mas cidade interior, a concentração de museus de referência mundial – entre os quais se destacam o Prado, o Nacional Centro de Arte Reina Sofia ou o Thyssen-Bornemisza – é o grande «chamariz» para muitos turistas. Ou, por exemplo, como Paris ou Londres atraem o turismo internacional através do conjunto dos seus museus e/ou espectáculos.

Cientes da crescente importância do factor cultural para o turismo, também os dirigentes políticos dos denominados «países emergentes» se preocupam agora em oferecer uma oferta cultural que «marque a diferença» no respeita ao conjunto da oferta turística. Por exemplo, os Emiratos Árabes Unidos preparam - num horizonte a 5 anos - a abertura de um museu Guggenheim em Abu Dhabi, a sua capital. Este museu de arte moderna e contemporânea tem como objectivo principal converter Abu Dhabi num destino turístico e cultural de dimensão internacional. A Fundação Guggenheim – que tem a sua sede em Nova Iorque e detém outros museus quer nos EUA (Las Vegas), quer na Europa (Bilbao, Berlim e Veneza) – mostra agora sinais de querer apostar no Médio Oriente, podendo esta vir a ser considerada uma região emergente importante em termos de turismo e cultura contemporânea. Além do mais, a oferta local cultural é – internacionalmente – uma nova forma de chamar o turismo de «primeira classe», ou seja, o turismo detentor de um poder de compra superior.

É assim que, quer a criação da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea Colecção Berardo, quer a edificação da Casa das Histórias e dos Desenhos de Paula Rego, são duas excelentes notícias para os portugueses e para o país. A possibilidade de, em breve, em Portugal se poder fruir das obras integradas na Colecção Berardo – um dos mais ricos fundos de arte do século XX existentes no mundo, que contempla um conjunto vasto de obras de alguns dos autores que marcaram a produção artística contemporânea, entre os quais Marcel Duchamp, Andy Warhol, Piet Mondrian e Roy Liechtenstein ou ainda do português Julião Sarmento – através da criação de um museu que albergue parte deste acervo, assim como a oportunidade de se fruir das obras de Paula Rego – pintora de consagrado renome internacional capaz de atrair, de forma intensa, publico nacional e internacional – é algo que deve ser louvado, acarinhado e que, desejavelmente, deve servir para encorajar outras iniciativas congéneres.

Uma última nota. O empreendimento para relançar a oferta museológica do país exige racionalidade e critério. Desde logo porque é necessário identificar e diferenciar os museus «vivos», que asseguram afluência regular, dos museus «mortos». Depois porque importa acautelar, ao nível da credenciação, o tipo de oferta (vocação de cada museu) e traçar o perfil do seu público potencial. Além disso, é preciso assegurar um adequado funcionamento destas instituições. Por exemplo, é incompreensível que – facultando a actual lei laboral formas flexíveis de organizar horários de trabalho em função dos períodos de funcionamento, em particular dos de abertura ao público – a generalidade dos museus ainda encerre um dia (ou até dia e meio) por semana...

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