Opinião
Ainda a questão da inovação?
Recentemente, o presidente da Agência de Inovação (AdI), Lino Fernandes, anunciou que o total de investimento em I&D pelos privados deverá ultrapassar os 500 milhões de euros em 2007. O mesmo responsável garantiu ainda que a taxa de crescimento das despes
O mesmo responsável garantiu ainda que a taxa de crescimento das despesas com I&D é superior a 20% por ano e que, pela primeira vez, o investimento em investigação realizado pelos privados ultrapassou o realizado pelas universidades e outros organismos públicos. Estes valores traduzem uma aposta mais vigorosa do tecido empresarial português na inovação, embora demonstrem, igualmente, que as universidades – que deveriam estar na vanguarda da investigação e servir de respaldo às empresas – se encontram ainda longe da dinâmica que a este nível as suas congéneres norte-americanas, europeias, indianas ou mesmo chinesas patenteiam.
É também de louvar que, no âmbito do QREN, o Governo tenha inscrito um sistema de incentivos à inovação, o SI Inovação, que contempla projectos de produção de bens, processos e serviços que consubstanciem uma progressão na cadeia de valor, bem como projectos que reforcem a orientação das empresas para os mercados internacionais, estimulem o empreendedorismo qualificado e promovam o investimento em áreas com potencial de crescimento. Está previsto ainda o SI I&DT – Sistema de Incentivos à Investigação e Desenvolvimento Tecnológico das Empresas, que visa incentivar o esforço empresarial em I&DT, criar novos conhecimentos com vista ao aumento da competitividade, promover a inserção das empresas em redes internacionais de conhecimento, estimular a experimentação e a transferência de tecnologia para o tecido empresarial, assim como fomentar a cooperação em projectos de investigação entre empresas e entidades do Sistema Científico e Tecnológico.
Este tipo de incentivos faz todo o sentido. Depois de nos últimos vinte anos Portugal – ao contrário, por exemplo, da Irlanda ou da Finlândia – ter centrado os seus investimentos nas infra-estruturas físicas, deve agora focar-se nos investimentos menos tangíveis, como a inovação. Isto porque ser competitivo no mercado global significa ter capacidade de adaptação à mudança, encontrando novas soluções para as realidades que um mundo em constante mutação nos oferece.
Importa, no entanto, desmistificar o conceito de inovação empresarial, para que não se tenha dele uma visão errada ou parcial. É que existe a tendência para considerar inovador apenas o que envolve novas tecnologias e, por isso, apresenta um acentuado carácter “high-tech”. Trata-se de uma leitura manifestamente redutora, na medida em que tem em conta os meios mas descura a forma. Quero com isto dizer que, mais do que as ferramentas de gestão adoptadas, interessa atentar no “core business” e na estratégia que norteia o negócio.
Independentemente dos meios tecnológicos empregues, inovação deverá ser tudo aquilo que no seio de uma empresa permite a criação de novos produtos e serviços, a adopção de estruturas organizacionais mais profícuas, a introdução de processos produtivos mais sofisticados e a elaboração de modelos de relacionamento mais eficazes entre a organização e o consumidor/utilizador.
Assim sendo, nada impede que um estabelecimento de comércio tradicional, uma microempresa de artesanato ou uma unidade de produção agrícola sejam inovadores. O importante é ter um posicionamento estratégico no mercado, o que pressupõe a oferta de produtos e serviços que surpreendam os consumidores.
Acontece que a maioria das empresas portuguesas não está, de facto, preparada para a inovação. Falta massa crítica para adoptar políticas inovadoras, sobretudo em alguns sectores tradicionais. Os avanços nesta matéria verificam-se, quase exclusivamente, nas PME da área das novas tecnologias, dando lastro à ideia – errada – de que a inovação implica sofisticação tecnológica.
Para este cenário concorrem uma série de factores, alguns deles exteriores às próprias empresas. O atraso português em matéria de inovação e empreendedorismo resulta da prevalência de uma mentalidade avessa ao risco e à criatividade, do reduzido número de parcerias entre universidades e empresas, da ausência de cooperação empresarial ao nível da ciência e tecnologia, do ainda baixo investimento (público e privado) em I&DT, da inexistência de um sistema de capital de risco dinâmico, da inadequação dos instrumentos de apoio financeiro às necessidades dos empreendedores e da burocracia ao nível dos procedimentos da Administração Pública.
O esforço do Governo na promoção da inovação é, sem dúvida, meritório. Importa agora que mais empresários percebam a importância do que está em causa e sejam capazes de adoptar uma atitude mais condizente com as premissas da Economia do Conhecimento.