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Armindo Monteiro amonteiro@anje.pt 25 de Fevereiro de 2008 às 13:59

A smart idea

Portugal não é só “linda vista para o mar, Minho verde, Algarve de cal”, não é “só o sal, o sol, o sul,”, não é só “doceiras de Amarante, barristas de Barcelos, rendeiras de Viana, toureiros da Golegã”, como no poema de Alexandre O’Neill. Em Portugal não

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No entanto, no estrangeiro há ainda muita gente que tem esta imagem redutora, estereotipada e arcaica do nosso país. E isso reflecte-se, como é natural, na capacidade de internacionalização da economia portuguesa, a qual, tolhida por um exíguo mercado interno, necessita de galgar fronteiras para ganhar escala e expandir as suas potencialidades.

A etiqueta “made in Portugal” ainda retira valor aos produtos nacionais, mercê de alguns preconceitos não apenas estritamente económicos, mas também sociológicos e culturais, em relação ao nosso país. Recordo-me, por exemplo, de um estudo que revelava que, pelo simples facto de se colocar uma etiqueta “made in Portugal” no calçado de fabrico nacional, este perdia logo 25% do seu valor comercial no mercado internacional. O mesmo estudo adiantava que 70% dos especialistas preferiam o calçado nacional, por comparação com o calçado de outras origens de fabrico. Contudo, quando reparavam na etiqueta portuguesa, esses mesmos especialistas mudavam de opinião, levando à imediata desvalorização do produto.

Portanto, já não se trata de uma mera questão de patriotismo ou orgulho nacional. O problema é, isso sim, eminentemente económico-financeiro, uma vez que os nossos produtos e serviços são desvalorizados, ou até preteridos, em função da imagem subjectiva, arbitrária ou mesmo ficcional que deles têm no estrangeiro e não, como seria de esperar, em função da sua qualidade, pertinência no mercado, capacidade de diferenciação, componente de inovação, entre outros factores deste tipo. Donde, a competitividade da economia portuguesa é penalizada por uma percepção da marca Portugal desfasada da realidade.

No estrangeiro, Portugal continua a ter a imagem de um país com alguma qualidade de serviço, mas sem capacidade de afirmação de marcas, sem certificação de qualidade, sem mão-de-obra qualificada, sem inovação, sem sofisticação tecnológica e sem design. Ou seja, um país que opera na base da cadeia de valor, amarrado a um paradigma de desenvolvimento obsoleto e, por isso, incapaz de evoluir para a Sociedade do Conhecimento e da Informação. Esta imagem, felizmente, já não corresponde à verdade, embora o país esteja ainda a vencer um atraso estrutural de décadas. Em 2007, por exemplo, Portugal foi já exportador líquido de tecnologia e as empresas nacionais investiram mais em I&D do que as universidades. Portanto, algo está a mudar no tecido produtivo português e essa mudança vai no sentido de uma aposta em factores competitivos como a inovação, o capital humano, a diferenciação de produtos, a criação de marcas ou o investimento em I&D.

Contudo, prevalece um fosso entre aquilo que Portugal verdadeiramente é do ponto de vista socioeconómico e aquela que é a percepção do país além fronteiras. Neste contexto, merece ser saudado o lançamento da campanha Portugal Europe’s West Coast. Trata-se de uma iniciativa de promoção externa do país que, para além da óbvia originalidade, é muito assertiva nos seus propósitos. Há um objectivo claro de associar Portugal a uma ideia de modernidade, inovação e empreendedorismo, resgatando-o da periferia geográfica (mas também económica, social e cultural) onde o acantonaram, para o recolocar num azimute bem mais atractivo: a tal costa oeste, uma espécie de Califórnia europeia, com tudo o que isso significa em termos de desenvolvimento humano, qualidade de vida e progresso económico.

No passado fim-de-semana, a campanha Portugal Europe’s West Coast motivou um importante “happening” em Paris, envolvendo um desfile de moda e um showroom organizados pelo Portugal Fashion. A reconhecida qualidade das criações dos estilistas Fátima Lopes e Luís Buchinho surgiu, então, enquadrado nessa nova imagem do país. E, desta forma, um sector tradicional como o do têxtil e vestuário demonstrou que também ele pode transmitir uma ideia de criatividade, inovação e vanguarda. A moda portuguesa é já um emblema do nosso país no exterior, assim como os rostos de Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Nelson Évora, Vanessa Fernandes, Mariza, Miguel Câncio Martins, Maria do Carmo Fonseca e Joana Vasconcelos estampados nos pequenos Smart’s que serviram de suportes promocionais do “happening” parisiense.

Mas importa realçar que, para que a campanha Portugal Europe’s West Coast seja bem sucedida no exterior, é indispensável que os portugueses também mudem a imagem que têm de si próprios. Não podemos ser eternamente os Calimeros da Europa, só revelando um módico de auto-estima quando a Selecção Nacional ganha. Temos de ter orgulho de ser portugueses, respeitarmo-nos a nós próprios, valorizar as nossas virtudes e procurar corrigir os nossos defeitos. E nunca, mas mesmo nunca, devemos relacionarmo-nos com os países mais desenvolvidos numa posição de inferioridade auto-infligida.

Só com uma postura ambiciosa, confiante e empreendedora é que vamos conseguir reposicionar a imagem de Portugal no exterior e, assim, evitar que muitos empresários portugueses optem por não colocar a etiqueta de origem nacional, de forma a impedir a perda de valor dos respectivos produtos ou serviços. Deste modo, não teremos certamente que dizer, como Alexandre O’Neill, Portugal “meu remorso, meu remorso de todos nós?”.

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