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12 de Setembro de 2008 às 07:00

A China e os Jogos Olímpicos

Com as Olimpíadas de Pequim já finalizadas, vale a pena sublinhar que os Jogos Olímpicos não são apenas a competição mais importante do mundo para muitos atletas, mas também um importante fenómeno económico. O que significou para a economia chinesa ser a anfitriã das 29ª Olimpíadas?

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Organizar as Olimpíadas é algo com grande relevância. Mais de 10 mil atletas participam em 302 eventos, em 37 locais, 31 dos quais em Pequim. E enquanto nos Jogos de 2004, em Atenas, se venderam perto de dois milhões de bilhetes, para Pequim foram vendidos sete milhões.

Os benefícios mais óbvios de receber os Jogos são os impulsos aos sectores relacionados com a construção e as melhorias nos transportes e nas infra-estruturas, devido à construção de instalações e infra-estruturas desportivas. Relativamente a isto, os feitos em Pequim são impressionantes. Com a conclusão do terceiro terminal do aeroporto, o maior edifício aeroportuário do mundo, a capacidade anual de passageiros aéreos aumentou 130% para os 82 milhões. Vários estádios novos foram também construídos, dos quais o mais famoso é o “Ninho de Pássaro” com 91.000 lugares, que demorou 52 meses a ser construído com um custo de 3,5 mil milhões de renminbi, cerca de 501 milhões de dólares (fonte Reuters).

O fluxo de turistas para assistirem aos Jogos fornecerá, igualmente, um enorme impulso aos sectores locais do comércio e do turismo. Embora o dilúvio de visitantes seja temporário, outras cidades anfitriãs, como Barcelona, continuaram a receber números mais elevados de visitantes após o evento. Talvez ainda mais importante seja o facto da cobertura televisiva mundial poder elevar a notoriedade de Pequim e da China, atraindo negócios e investimentos.

Mas haverá um impulso económico a curto prazo para a China como um todo? A resposta é improvável. Tal como a Coreia do Sul, em 1988, a China está a industrializar-se rapidamente. Aquando dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, a Coreia do Sul era uma economia em vias de desenvolvimento com um crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) na ordem dos 10,8% por ano, entre 1986-1988. Este ritmo abrandou para 6,7% no ano posterior aos Jogos Olímpicos, recuperando para os 9,2% em 1990. Curiosamente, o crescimento anual do PIB chinês também tem tido uma média anual de 10,8% nos últimos cinco anos.

A economia chinesa, tal como a dos Estados Unidos, é significativamente maior que a de outras nações anfitriãs. A economia dos Estados Unidos cresceu rapidamente após os Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, mas Atlanta representa apenas 2% do PIB norte-americano, o que sugere a importância de outros factores para o crescimento do país.

Pequim é uma das maiores cidades do mundo, mas é relativamente insignificante dentro da China, contribuindo com menos de 4% para o PIB. Por conseguinte, pode esperar-se que o impacto sobre o PIB seja mínimo. De facto, o impressionante crescimento real do PIB de 12,3% de Pequim, em 2007, apenas conseguiu deixá-la em 27º lugar entre as 31 províncias da China continental em termos de crescimento do PIB.

Um forte receio económico está relacionado com o impacto das medidas para melhorar a qualidade do ar em Pequim, com os grandes poluidores a serem encerrados ou relocalizados. Por exemplo, a Shougang, uma das maiores fábricas de aço da China, esteve a limitar a sua produção durante os Jogos e a transferir-se para a província de Hebei (fonte Reuters). Além disso, as centrais eléctricas tiveram que reduzir as emissões em 30% durante os Jogos Olímpicos, os estaleiros de construção estiveram encerrados e a utilização de veículos foi limitada.

Embora estas medidas ambientais reduzam, temporariamente, da produção, o impacto geral no PIB chinês será pequeno. Com efeito, os concorrentes de outras regiões da China poderão preencher as lacunas deixadas pela produção reduzida em Pequim e nos seus arredores.

A organização dos Jogos Olímpicos na China não deverá causar qualquer impulso económico radical. Tal como os Estados Unidos, a China tem uma vasta economia da qual Pequim é apenas um pequeno componente e, tal como a Coreia do Sul em 1988, já está a crescer a um ritmo acelerado.

No entanto, as medidas para reduzir a poluição deverão melhorar a imagem de Pequim, juntamente com os novos edifícios e infra-estruturas. Mas, talvez o mais importante factor para impulsionar o perfil chinês, seja o sucesso e a ocorrência sem problemas dos próprios Jogos.

A combinação destes três factores deverá ajudar a atrair mais investimento estrangeiro, alcançar um crescimento sustentável no futuro e mostrar ao mundo que a economia chinesa está aqui para ficar.

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