As curvas da pista e a ligeira inclinação criada pela posição da câmara fotográfica dão um movimento vigoroso ao carro parado. E o movimento é circular, cria um círculo imaginário para além da fotografia. A pista está transformada em estrada de asfalto, mostrando bem pintados os traços de permissão de ultrapassagem (mas haverá outros?).

Mas se o Clio anda numa pista de skate, o Nissan Qashqai é ele mesmo um skate no magnífico anúncio televisivo em que uns pés de jovem saltam de prédio em prédio no seu skate, acabando por arrumar o carro num qualquer canto também no alto dum prédio. Se o Clio sugere o voo na cidade, o Qashqai voa pela cidade com enorme elegância e beleza visual. 

Mais longe da metáfora e demasiado desejoso de mostrar o voo está o carro do anúncio do Mazda6: ao longe, um jacto levanta voo de um moderno aeroporto, enquanto em primeiro plano o Mazda como que voa numa ampla estrada - quase uma pista de aviação. Dentro do carro, o condutor e o parceiro põem um braço de fora para mostrar ainda mais claramente que o anúncio simula o voo dum aeroplano.

Mais pobrezinhos são os anúncios do Opel Meriva Fun, em que em vez de estrada o carro está num espaço de casa de férias, e o do Toyota Yaris,  que faz estrada de um filme de celulóide  para convidar o observador a ser "também uma estrela", ao participar no "próximo anúncio TV do Yaris"   esperando-se que seja melhor que este. Alguns destes anúncios oferecem presentes aos prospectivos clientes, certamente jovens. Se aqui é aparecer num anúncio, o Clio dá "brindes" e a possibilidade de "pilotar um Fórmula 1 Renault num circuito europeu". O Mazda, mais clássico, oferece equipamentos e não me trata nem por tu nem por você. O Yaris opta pelo você, mas o Clio - todo ele igual aos putos, com "1.5 dCi 105cv 6 velocidades", pergunta-lhes com toda a legitimidade: "O que é que vais fazer com toda a energia que tens?"

O Alfa Romeo 147 não oferece nada, mas o anúncio também oferece uma estrada de sonho: em vez do asfalto, o que vemos é o plástico duro duma pista de brincar tipo Scalectrix,  com a famosa ranhura ao centro na qual os carros encaixam. "Colado à estrada", diz a frase, e explica que "curvas, gelo, neve e chuva nunca foram tão divertidos". Aqui está o segredo: conduzir é um divertimento, a estrada é um sonho, os carros voam. É só comprar um e esperar pela primeira fila de trânsito a caminho do emprego às oito da manhã.