Opinião
Inteligência artificial: entre a inovação e a sustentabilidade
A IA está a moldar o futuro e oferece oportunidades extraordinárias. No entanto, para que seja verdadeiramente benéfica, é essencial que seja desenvolvida e implementada com responsabilidade, transparência e num compromisso com a sustentabilidade.
A inteligência artificial (IA) está a transformar o mundo dos negócios, a educação e a sociedade em geral. O seu potencial para impulsionar a produtividade, otimizar processos e criar novas oportunidades é inegável. No entanto, à medida que a IA se torna cada vez mais omnipresente, importa refletir sobre os desafios que a sua adoção coloca, nomeadamente no que respeita à sustentabilidade e à ética.
Se pensarmos nos prós da IA, rapidamente colocamos em cima da mesa o aumento da eficiência e a promoção da inovação. Através da automação de tarefas repetitivas, as ferramentas de IA podem levar a um aumento da eficiência, libertando tempo para a criatividade e a inovação. Nos negócios, podem melhorar a capacidade de análise de dados, personalizar experiências e acelerar a tomada de decisões. Já na saúde e na ciência, algoritmos de IA são capazes de diagnosticar doenças precocemente e apoiar no desenvolvimento de novos tratamentos. No setor ambiental, a IA pode auxiliar na otimização de recursos e na monitorização das alterações climáticas. Adicionalmente, estas ferramentas também podem promover a inclusão. Por exemplo, ferramentas baseadas em IA, como assistentes virtuais e tradução automática, promovem maior acessibilidade digital e inclusão de pessoas com deficiências ou barreiras linguísticas.
Contudo, vários estudos têm alertado para os contras da IA, focando desafios ao nível da ética, da transparência, da segurança e da privacidade (proteção de dados), da manipulação da informação e do impacto negativo no mercado de trabalho. O avanço da automação pode conduzir à substituição de trabalhadores em diversas indústrias, levantando questões sobre requalificação profissional e desigualdade económica. Sobre o tema da ética, a IA pode perpetuar preconceitos caso os dados utilizados no treino dos modelos sejam enviesados. Adicionalmente, a falta de transparência em algumas aplicações pode comprometer decisões justas e equitativas. Finalmente, o desenvolvimento e a utilização de modelos de IA exigem elevados recursos computacionais, resultando num consumo energético significativo e num impacto ambiental relevante.
Neste contexto, a avaliação da sustentabilidade da IA deve ser algo que nos deve preocupar. Os investigadores Leonie Bossert e Wulf Loh propõem três critérios. Primeiro, a promoção do bem comum. A IA deve ir além da simples prevenção de danos e focar-se na criação de valor positivo para a sociedade. Segundo, a justiça intergeracional. As decisões tomadas hoje sobre a IA devem considerar o impacto nas futuras gerações. E, terceiro, a importância de uma visão holística sobre a sustentabilidade. A sustentabilidade deve ser tratada como um princípio independente e não apenas ligada a conceitos como transparência ou justiça.
Num artigo deste mês, Bossert e Loh alertam para a necessidade de uma abordagem mais ampla na avaliação da sustentabilidade dos modelos de IA. Embora o consumo energético e as emissões de CO2 sejam aspetos importantes, não são suficientes para medir o verdadeiro impacto da IA. É crucial considerar, através da elaboração de análises de custo-benefício, os efetivos custos e benefícios sociais e ambientais destas ferramentas. Os autores salientam a importância de aferirmos os custos sociais, pois o desenvolvimento e implementação da IA podem acentuar desigualdades, ao concentrar benefícios em grandes empresas e economias avançadas, enquanto deixam para trás regiões menos desenvolvidas; bem como custos ecológicos, pois a produção do hardware necessário para executar modelos de IA implicam, por exemplo, o uso intensivo de água e a geração de resíduos tecnológicos. Mas, por outro lado, existem benefícios sociais e ambientais que não podem ser esquecidos. A IA tem potencial para contribuir para uma economia mais sustentável, desde a monitorização de ecossistemas até à otimização da eficiência energética em diversos setores.
Assim, para garantir que a IA seja verdadeiramente sustentável, é essencial adotar uma visão integrada, que considere impactos de curto e longo prazo, bem como a necessidade de políticas regulatórias eficazes. E as "business schools" têm uma responsabilidade acrescida nesta matéria, formando líderes que compreendam não apenas o seu potencial tecnológico, mas também os desafios relacionados com a ética, a responsabilidade social e a sustentabilidade, para garantir que o desenvolvimento tecnológico não comprometa valores fundamentais.
Em conclusão, a IA está a moldar o futuro e oferece oportunidades extraordinárias. No entanto, para que seja verdadeiramente benéfica, é essencial que seja desenvolvida e implementada com responsabilidade, transparência e num compromisso com a sustentabilidade. A discussão ética e a regulação internacional são imperativas para equilibrar inovação e responsabilidade, garantindo que a IA seja um motor de progresso para todos. Para além da pegada de carbono, a análise do impacto da IA deve incorporar custos e benefícios sociais e ambientais, assegurando um desenvolvimento equilibrado e sustentável.