Opinião
Riscos do futuro: desilusão ou resiliência?
Ao refletirmos sobre os riscos globais e o panorama político, fica claro que a sustentabilidade deve permanecer no centro das nossas agendas. Porque, no final, cuidar do planeta é cuidar do nosso próprio futuro.
Nos últimos anos, as iniciativas relacionadas com a Sustentabilidade Ambiental, Social e de Governança (ESG, na sigla em inglês) enfrentaram crescentes críticas e resistências, especialmente em contextos politizados como os Estados Unidos da América (EUA). Assim, a pergunta que muitos fazem neste início de 2025 é: será que a sustentabilidade ainda é uma prioridade para as empresas?
A resposta encontra-se nos dados. O barómetro anual de sustentabilidade para CEO, publicado pela Bain em setembro de 2024, oferece uma análise reveladora. De acordo com o estudo, superámos a "fase do entusiasmo" e entrámos na "vala da desilusão", uma etapa do ciclo de Gartner que reflete a perceção de que a transformação não será tão rápida ou fácil quanto inicialmente esperado. Apesar das dificuldades, o relatório insta os líderes empresariais a adotarem uma perspetiva de longo prazo, evitando reações exageradas a tendências de curto prazo. O caminho para a sustentabilidade pode ser desafiante, mas é essencial refinar e reorientar os esforços, em vez de abandoná-los.
A urgência de agir também é evidenciada no último Global Risks Report do World Economic Forum, uma antecipação do encontro de líderes em Davos. Embora os riscos de curto prazo tenham mudado, com conflitos armados entre Estados e confrontos geoeconómicos a ganhar destaque ao lado de eventos climáticos extremos, os riscos a uma década continuam focados na degradação planetária pelo quinto ano consecutivo. Este relatório destaca que os quatro maiores riscos globais a longo prazo são todos ambientais: eventos climáticos extremos, alterações críticas nos sistemas terrestres, perda de biodiversidade e colapso dos ecossistemas, e escassez de recursos naturais. Estes riscos enfatizam a necessidade de uma gestão responsável que priorize a preservação do planeta, o que reforça a importância de integrar estes riscos em planos e estratégias empresariais, considerando dependências e responsabilidades associadas.
E a política? Uma questão pertinente é se a política será um obstáculo ao progresso. A resposta curta é sim – mas não é um impeditivo definitivo. O relatório Top Risks for 2025 da Eurasia Group, focado em riscos políticos, conclui com uma mensagem otimista: "Apesar de soluços ocasionais ao longo do caminho, a transição energética global continuará a progredir". Um exemplo mencionado como "soluço ocasional" é a campanha "drill baby drill" da nova administração dos EUA, que defende o aumento da exploração de combustíveis fósseis. Contudo, o custo-eficiência das energias renováveis e o impacto de políticas anteriores fortaleceram a resiliência da transição energética norte-americana. Além disso, a eventual retirada dos EUA deste cenário global pode criar oportunidades para outros países, como a China, ganharem maior participação no mercado.
Assim, manter a sustentabilidade como prioridade corporativa continua a ser a decisão certa, tanto do ponto de vista ético quanto estratégico. A ciência e os relatórios apontam para a necessidade de ação a longo prazo, mesmo diante de desafios políticos e sociais. Os líderes empresariais têm a responsabilidade de moldar o futuro através de escolhas informadas, que não apenas mitiguem riscos ambientais, mas também criem valor sustentável para todas as partes interessadas.
No final das contas, a sustentabilidade não é apenas uma obrigação. É também uma estratégia inteligente para enfrentar os desafios do futuro e garantir a resiliência empresarial. Como o relatório da Bain sugere, o momento exige foco, pragmatismo e compromisso a longo prazo. O desafio não está apenas em sobreviver à referida "vala da desilusão", mas em prosperar nela.
Ao refletirmos sobre os riscos globais e o panorama político, fica claro que a sustentabilidade deve permanecer no centro das nossas agendas. Porque, no final, cuidar do planeta é cuidar do nosso próprio futuro. E é com este mote que a Católica Porto Business School se associou à iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30 e ao Prémio Nacional de Sustentabilidade do Jornal de Negócios, acolhendo, em 29 de janeiro, a Conferência Social: Educação, Imigração e Qualidade de Vida – Que caminhos?