Opinião
Corte de taxas de juro: o que nos espera em 2025?
O crescimento económico previsto de 2% em 2025 é insuficiente para fomentar a convergência com a média europeia. O país precisaria de crescer 3% ao ano para recuperar o atraso acumulado nas últimas décadas.
Na sua última reunião de política monetária de 2024, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu reduzir as taxas de juro diretoras em 0,25 pontos percentuais. Este corte é mais um passo no movimento iniciado após setembro de 2023, quando as taxas de refinanciamento atingiram 4,5%. Com esta decisão, as taxas de refinanciamento e de depósito caíram para 3,15% e 3%, respetivamente. Mas o que significa esta mudança e o que podemos esperar para 2025?
A descida das taxas de juro tem impactos positivos para particulares e empresas. Os bancos comerciais, ao obterem financiamento mais barato junto do BCE, podem reduzir as taxas aplicadas nos empréstimos. Um exemplo claro é a Euribor a 12 meses, que caiu de um pico de 4,2% em setembro de 2023 para os atuais 2,4%. A decisão do BCE foi unânime, embora tenha havido discussão sobre um corte mais acentuado de 50 pontos-base. A presidente Christine Lagarde sublinhou que futuras decisões dependerão da evolução da economia e da inflação. No entanto, o mercado já está a descontar novas reduções, refletindo uma confiança crescente de que o BCE continuará a atuar para estimular a economia. As taxas futuras esperadas indicam que as taxas Euribor poderão estabilizar ligeiramente abaixo dos 2% até final de 2025.
O BCE justificou esta decisão com base em três fatores principais. Primeiro, com base no argumento de que a inflação está controlada a médio prazo. As projeções apontam para uma taxa de 2,4% em 2024, diminuindo para 2,1% em 2025, 1,9% em 2026 e 2,1% em 2027. Estes valores aproximam-se do objetivo do BCE de 2% a médio prazo. Segundo, porque a economia está em abrandamento. Prevê-se um crescimento anémico na Zona Euro, com taxas de crescimento do PIB de 0,7% em 2024, 1,1% em 2025, 1,4% em 2026 e 1,3% em 2027. O consumo está a enfraquecer, as empresas adiam investimentos e setores industriais enfrentam desafios competitivos a nível global. Adicionalmente, os salários estão a aumentar, mas menos do que antes. Ainda estão a ser criados novos postos de trabalho, mas a um ritmo relativamente menor. Finalmente, a ineficácia na transmissão da política monetária. Apesar das medidas adotadas, o impacto nos mercados financeiros e na economia real tem sido limitado, exigindo ajustes adicionais.
Christine Lagarde destacou ainda riscos descendentes para a inflação, como a baixa confiança económica, o stress geopolítico e a redução do investimento. A fragilidade económica da Zona Euro é evidente. A Alemanha permanece em recessão, enquanto a França estagna. Estes problemas, aliados ao aumento da dívida pública em ambos os países, levantam preocupações sobre a estabilidade financeira. Com uma dívida pública em cerca de 135% do PIB, a situação em Itália também é crítica. E a ausência de estabilidade política nestes países dificulta o controlo da dívida através da redução de despesas públicas e o controlo dos défices excessivos.
E quando o motor da Europa, a Alemanha, começa a "gripar", Portugal, como economia aberta e dependente das exportações, sente também o impacto. Setores como o automóvel enfrentam desafios sérios, levando ao encerramento de várias fábricas. O crescimento económico previsto de 2% em 2025 é insuficiente para fomentar a convergência com a média europeia. O país precisaria de crescer 3% ao ano para recuperar o atraso acumulado nas últimas décadas.
Globalmente, os grandes bancos centrais, incluindo a Reserva Federal dos EUA (Fed), estão a cortar taxas. Contudo, os riscos inflacionistas nos EUA mantêm as suas taxas acima das da Europa, refletindo desafios distintos entre as duas economias. Para 2025, o BCE enfrenta o desafio de equilibrar a promoção do crescimento económico com a manutenção da estabilidade financeira. Embora a política monetária mais acomodatícia ofereça alívio para particulares e empresas, as soluções para problemas estruturais, como o crescimento económico lento e o elevado endividamento, continuarão a depender de reformas mais amplas quer a nível europeu, quer a nível nacional, onde reformas estruturais tardam a aparecer. Assim, o ano de 2025 não vai ser menos desafiante do que o ano que agora termina.