Opinião
Só nos faltava esta!
O Governo e os partidos políticos devem reconhecer que, sem estabilidade e um compromisso real com reformas estruturais, Portugal corre o risco de ficar para trás numa Europa que já enfrenta dificuldades para crescer.
O investimento é um dos pilares fundamentais para o crescimento económico. Contudo, num contexto de elevada incerteza, a captação de investimento torna-se um desafio ainda maior. Portugal enfrenta um cenário particularmente complexo, em que a necessidade de reforçar o investimento choca com um contexto de instabilidade global, agravado pelo abrandamento económico europeu e pela crise política interna.
A Europa vive um período de elevada incerteza. As tensões geopolíticas, a desaceleração do crescimento da economia europeia e a necessidade de transição energética estão a moldar as decisões dos investidores. O mais recente EIB Investment Survey 2024 revela que a confiança empresarial na Europa está em declínio, com apenas 7% das empresas a preverem um aumento líquido no investimento – uma redução significativa face aos 14% registados no ano anterior.
A falta de previsibilidade nos mercados e a crescente fragmentação da economia global levam as empresas europeias a adotar posturas mais conservadoras, priorizando investimentos de substituição em detrimento da expansão de capacidade. Este é um sinal claro de que os investidores estão a agir com maior cautela, aguardando por maior estabilidade antes de se comprometerem com novos projetos de grande escala. O relatório do Banco Europeu de Investimento sublinha ainda que as empresas europeias enfrentam barreiras significativas ao investimento, incluindo a incerteza regulatória e a escassez de mão de obra qualificada.
O investimento empresarial na Europa encontra-se abaixo dos níveis pré-pandemia, sendo que apenas o investimento público mantém um crescimento positivo. Para um país como Portugal, fortemente dependente do mercado europeu, esta tendência significa menor procura externa, menos oportunidades de exportação e uma maior necessidade de apostar em dinamizar o investimento interno. Além disso, a perda de dinamismo económico na Europa afeta diretamente os fluxos de investimento direto estrangeiro.
E em Portugal, o problema do subinvestimento é ainda mais evidente. A economia nacional tem demonstrado sinais de resiliência nos últimos anos, mas a sua capacidade de atrair investimento, sobretudo estrangeiro, continua aquém do necessário para sustentar um crescimento robusto. De acordo com a OCDE, o peso do investimento no PIB atingiu, em 2013, o valor mais baixo desde 1960, com um valor de 14,7%. Após uma melhoria deste indicador entre 2013 e 2022, tendo atingido 21,4% em 2022, este é inferior ao verificado antes da crise financeira internacional de 2008 (23,6%). Entre 2022 e 2024, este indicador voltou a cair para os 20%. Em termos relativos, Portugal ocupa, em 2023, o lugar 19.º entre os 27 países da União Europeia, atrás de países como a Chéquia (28%), Estónia (27,7%), Irlanda (26,3%), Roménia (25,8%) e Áustria (25,4%), que ocupam o top 5.
Se o contexto internacional já dificulta a atração de investimento, a crise política em Portugal só vem agravar a situação. A surpreendente incapacidade dos dois principais partidos políticos em encontrar consensos, culminando na recente rejeição da moção de confiança ao Governo a 11 de março, criou um cenário de paralisia decisória que prejudica a execução de políticas estruturais fundamentais para atrair investimento.
A incerteza política desincentiva tanto o investimento privado como o público. Sem um quadro estável, torna-se difícil avançar com reformas essenciais para melhorar o ambiente de negócios, reduzir a burocracia e garantir previsibilidade fiscal e regulatória. Investidores, sejam nacionais ou estrangeiros, tendem a evitar mercados onde o risco político e a falta de consenso institucional estão latentes.
Concluindo, a economia portuguesa precisa urgentemente de um impulso ao investimento para evitar um ciclo prolongado de baixo crescimento. No entanto, este impulso não será possível sem um contexto político e económico que transmita confiança. O Governo e os partidos políticos devem reconhecer que, sem estabilidade e um compromisso real com reformas estruturais, Portugal corre o risco de ficar para trás numa Europa que já enfrenta dificuldades para crescer. Se a conjuntura internacional é desafiante e afeta a confiança dos investidores, a crise política interna só vem reforçar esta dificuldade. O país não pode dar-se ao luxo de adiar decisões cruciais que afetarão a sua competitividade a longo prazo. E consequentemente, a sua capacidade de crescimento e de geração de emprego de forma sustentada. Num momento em que cada euro investido conta, garantir um ambiente de negócios estável e previsível não é apenas desejável – é uma necessidade absoluta.