Opinião
“Centeno será candidato a deputado pelo PS” nas eleições legislativas
As notas da semana de Marques Mendes no seu habitual comentário na SIC. Marques Mendes fala sobre o Debate da Nação, as últimas sondagens, o futuro de Mário Centeno e a Lei de Bases da Saúde.
DEBATE SOBRE O ESTADO DA NAÇÃO
- Balanço do debate: é um debate que nada diz ao país. Porque é feito em circuito fechado. Porque é muito descolado da realidade. E, sobretudo, porque é feito em modo de campanha eleitoral – com muito exagero e pouco realismo. Vejamos:
A oposição acha que a acção do Governo é um deserto. Outro exagero. Há aspectos negativos, é verdade, mas também há indicadores positivos.
Os parceiros de Governo, BE e PCP, fazem geometria variável. O que é bom é mérito deles; o que é mau é culpa do PS. Mais um exagero.
- Balanço do estado do país: deixemo-nos de sectarismos. Há activos e passivos. Mas o balanço destes 4 anos é globalmente positivo.
- As pessoas e as empresas vivem melhor. Há mais emprego, mais poder de compra, mais riqueza criada e o país tem contas certas. É normal que assim seja. Depois do ajustamento da troika e da boleia da Europa, o país só podia melhorar.
- Agora, convém não esconder também o lado negativo. Há impostos a mais, investimento público a menos e serviços essenciais em estado de pré-ruptura, como a saúde e os transportes.
- Finalmente, há um problema de fundo: falta de ambição. Estamos a convergir ligeiramente com a média europeia mas estamos a afastar-nos cada vez mais do nível de vida da Espanha, da Irlanda e dos países do nosso campeonato. Este é o nosso grande problema, como aqui tenho dito várias vezes e como também o afirma Francisco Assis, no Público de 5ª feira.
ESTADO DA NAÇÃO EM NÚMEROS
Os números são normalmente mais rigorosos que as palavras. Vale a pena ver, pois, com rigor, qual tem sido a evolução do país, de 2015 até hoje, nalguns indicadores essenciais. Depois, cada um tira as suas conclusões:
- Evolução Positiva
- DESEMPREGO – Redução de 12,6% para 6,2% - É um resultado impressionante.
- DÉFICE – Redução de 3% para 0,2% - O défice mais baixo da democracia.
- DÍVIDA PÚBLICA – Redução de 128,7% para 119,5% do PIB - Embora em termos absolutos tenha aumentado cerca de 17 mil milhões.
- PESO DAS EXPORTAÇÕES NO PIB – Subida de 40,4% para 44,3% - Mesmo assim, a média europeia está nos 46%.
- CRESCIMENTO FACE À UE – Passámos de divergência (-0,5%) para convergência (+0,3%) - É uma convergência curta mas é convergência.
- Evolução Negativa
- PRODUTIVIDADE FACE À MÉDIA UE – Redução de 77,6% para 74,4% - Estamos a crescer mas não estamos a ser eficientes.
- INVESTIMENTO PÚBLICO FACE AO PIB – Redução de 2,2% para 2,1% - Devia estar a crescer e não a cair.
- CARGA FISCAL – Subida de 34,4% para 35,2% do PIB – O grande calcanhar de Aquiles da nossa economia.
- CONTAS EXTERNAS – Tínhamos um excedente (0,3% do PIB) e deixámos de ter. Neste momento até voltou o défice.
- RANKING DE NÍVEL DE VIDA NA ZONA EURO – Baixámos dois lugares – da 15.ª para a 17.ª posição. Fomos ultrapassados pela Lituânia e pela Estónia.
O FUTURO DE MÁRIO CENTENO
- Mário Centeno é um dos responsáveis dos bons resultados financeiros da governação. E muito se tem especulado sobre o seu futuro. Vai para a Comissão Europeia? Fica no Governo e no Eurogrupo? Vai para o Banco de Portugal?
Durante muito tempo o Ministro das Finanças acalentava a ambição de ir para a Comissão Europeia. Mas, entretanto, o cenário mudou. Ou por vontade própria, ou porque foi convencido pelo Primeiro Ministro, ou pelas duas coisas ao mesmo tempo. Mas sobretudo por duas razões: por um lado, a vontade de "fazer" a Presidência Portuguesa da União Europeia; por outro, a circunstância de o Sr. Timmermans dever ser o próximo Vice-Presidente da Comissão com o pelouro económico-financeiro.
- Assim, o cenário hoje é outro:
- Em princípio, Mário Centeno será candidato a deputado pelo Partido Socialista (como já tinha sido em 2015).
- Se o PS ganhar as eleições, irá continuar no Governo e, desse modo, manterá também o cargo de Presidente do Eurogrupo.
- Sairá do Governo, muito provavelmente no segundo semestre de 2021, depois da Presidência Portuguesa da União Europeia, para ocupar um cargo internacional, eventualmente na OCDE, no FMI ou Banco Mundial.
- Ou seja: Banco de Portugal, não. Governo, sim, até ao fim de 2021. A partir daí enveredará muito provavelmente por uma carreira internacional.
NOVIDADES DAS SONDAGENS
- Duas sondagens este fim de semana – ICS/ISCTE para a SIC/Expresso e Eurosondagem para o SOL – com resultados muito semelhantes.
- Três novidades essenciais, duas nas Legislativas e uma nas presidenciais:
Segunda novidade: o PAN. Numa e noutra sondagem, o PAN está nos 4%, 4,5%. É um grande resultado. Ou seja: se o PS não tiver maioria absoluta, o PAN pode vir a ser o parceiro "à mão de semear" para fazer uma coligação e garantir a estabilidade.
- A terceira novidade é sobre Marcelo Rebelo de Sousa. A sondagem da SIC/Expresso mostra que o PR é um verdadeiro superstar.
- Tem uma popularidade altíssima nos eleitorados do PSD, do PS, do PCP e do CDS. Só no BE é ligeiramente mais baixa, mas, mesmo assim, é muito alta. É um caso único em Portugal.
- Desta forma, o mais provável é que o PS não apresente em 2020 um candidato próprio e decida apoiar Marcelo. Foi o que fez o PSD em 1991 com Mário Soares. Como não queria ter uma derrota humilhante, optou por apoiar Mário Soares.
- Pela primeira vez, António Costa admitiu essa hipótese em entrevista à Visão desta semana.
O VETO DE MARCELO
- O PR vetou a chamada lei do lobby. Fez bem. Como já várias pessoas tinham assinalado, a lei aprovada é música celestial – não tem consistência nem rigor.
- Mas eu diria mais: tudo o que o Parlamento aprovou no "pacote" da transparência é uma nódoa na vida partidária. Porque é uma oportunidade perdida. Não pelo que foi aprovado mas sobretudo por aquilo que os partidos não tiveram coragem de aprovar. Três casos:
Segundo: depois ter sido mudada a lei para obrigar os partidos políticos a ter Comissões de Ética e Códigos de Conduta que garantam comportamentos coerentes. Um exemplo: sempre que há um deputado, autarca ou governante acusado de crimes graves (como corrupção), os partidos devem obriga-los a suspender de imediato as suas funções. O que se passa hoje é um descrédito para a democracia.
Terceiro: devia pensar-se em proibir o financiamento privado dos partidos e campanhas eleitorais. Muita da corrupção começa aqui. Quem dá um donativo para um partido não o faz de forma inocente. Quer uma contrapartida. Condiciona os dirigentes ou candidatos. Acabemos com estes alçapões que só desacreditam a democracia. O financiamento público é um custo virtuoso da democracia.
- Como ainda esta semana dizia Luís de Sousa, um grande especialista em prevenção da corrupção, os partidos não cuidam da ética e vão por mau caminho. É assim que a corrupção vai minando a democracia.
LEI DE BASES DA SAÚDE
- Primeiro apontamento: a votação final é só na próxima sexta-feira. Mas, em princípio, com os últimos dados, o mais provável é haver nova Lei de Bases da Saúde. O que prova que "até ao lavar dos cestos é a vindima".
- Segundo apontamento: é uma boa vitória de António Costa.
- Evitou uma derrota e evitou ser encostado à direita, o que em matéria de saúde não seria bom para o PS;
- Mostrou novamente a sua capacidade negocial e de diálogo – por isso é que no Debate do Estado da Nação esteve especialmente simpático para o PCP e o Bloco;
- Vai poder fazer um discurso de mudança na Saúde, o que em termos eleitorais lhe é favorável. Claro que a lei não muda nada de concreto, mas permite um discurso gerador de boas expectativas para o futuro.
Último apontamento: a dúvida agora é se o PR promulga ou não esta futura lei. Porque ela permite várias interpretações. Uns dirão que as PPP estão excluídas. Mas outros explicarão que fica uma abertura para a elas recorrer a título excepcional e supletivo.
Notas finais:
- Cabeça de lista por Lisboa do Partido Iniciativa Liberal – João Cotrim Figueiredo (ex-Director-Geral da TVI e ex-Presidente do Turismo de Portugal)
- Saudação à Câmara de Mação – Ganhou em tribunal ao Estado
- Lista definitiva dos grandes devedores à banca será divulgada pelo BP no próximo dia 16 de Julho