Opinião
Os Mestrados de Bolonha e a internacionalização das universidades
Terminou na passada sexta-feira a conferência internacional da EFMD sobre os Mestrados de Bolonha, ou pré-experiência. A Católica-Lisbon foi a anfitriã desta conferência que junta várias dezenas de escolas a nível internacional, especialmente na Europa.
A EFMD é a maior associação internacional no campo de desenvolvimento de gestão, com uma rede que inclui mais de 800 membros institucionais em 82 países em todo o mundo.
Estes mestrados foram estabelecidos na sequência do acordo de Bolonha, que harmonizou os graus no espaço europeu de educação. Estão dirigidos a alunos que terminam a licenciatura e pretendem continuar a sua formação académica, ainda antes de desenvolverem experiência profissional significativa. Encontramos grandes diferenças na abordagem das áreas científicas e das escolas a nível europeu face a esta reorganização do ensino superior. Muitas reconverteram a antiga licenciatura de 4 a 5 anos num pacote de licenciatura de 3 anos e mestrado integrado de 1,5 anos, por isso com poucas alterações face ao anterior modelo. Mas, nas áreas de economia gestão, o padrão é uma separação clara entre licenciatura e MSc.
Como ficou bem patente nas sessões da conferência, assistimos a uma enorme proliferação e diversidade de oferta de mestrados por centenas de escolas a nível europeu nas áreas de gestão e economia. Existe igualmente uma grande mobilidade de alunos em busca do mestrado que melhor resposta dá aos seus objetivos de desenvolvimento académico e profissional, muitos deles à procura de uma experiência fora do seu país de origem. Este movimento está a criar um verdadeiro mercado europeu de educação. Existe um crescimento galopante de estudantes em mobilidade, que passaram de dezenas para centenas de milhares, e certamente chegarão aos milhões. Na Católica-Lisbon, como em outras escolas nacionais que compreenderam o potencial deste mercado, e apresentaram propostas de MSc abertas a esta nova realidade internacional, temos assistido a um crescimento continuo e acelerado de candidatos vindos de toda a Europa. No nosso caso, o crescimento dos mestrados pré-experiência tem sido o principal alicerce do desenvolvimento da Faculdade.
A conferência da passada semana veio também mostrar que a magnitude e relevância deste movimento na Europa está a atrair cada vez mais interesse de outras geografias, que marcaram presença no encontro. Escolas na América, Norte e Sul, estão a compreender que alguns destes estudantes poderão ter interesse em fazer o MSc fora do espaço europeu, e com isso estão a lançar programas capazes de dar resposta a este mesmo público, e capturarem uma fatia deste mercado cada vez mais apetitoso.
Em Portugal, apesar das boas experiências que já existem, poucas escolas e áreas científicas abraçaram a oportunidade dos mestrados pré-experiência abertos ao mercado internacional de forma estratégica e determinada. E tem muito mais presença na discussão da internacionalização do ensino superior nacional a presença de alunos do espaço lusófono, ou de outras regiões do mundo, do que a vinda de estudantes europeus. No entanto, a Europa é o nosso mercado natural na educação, como em todas as outras áreas. Além disso, Portugal tem um conjunto condições únicas, desde logo o clima, mas também a segurança, o custo e estilo de vida, e a capacidade de acolhimento de estrangeiros que tornam extremamente apelativa a ideia de qualquer europeu vir cá estudar. Se juntarmos a estas condições ofertas educativas com qualidade, e reconhecidas internacionalmente através de rankings e certificações, temos produtos com grande potencial de crescimento e internacionalização.
Existe por isso uma grande oportunidade para desenvolver e internacionalizar as universidades nacionais através destes mestrados pré-experiência. O desenvolvimento destes produtos educativos deveria por isso estar entre as principais prioridades estratégicas de diretores de faculdade, reitores e agentes políticos. Na Austrália, a educação é o segunda maior indústria de exportação do país. Nós podemos fazer algo equivalente em Portugal. Mas se não atuarmos rapidamente, vamos perder para outros que, sem condições de partida tão favoráveis como as nossas, vão ser mais rápidos a afirmar os seus produtos. E os concorrentes, se nesta fase são sobretudo europeus, em breve vão ser mundiais.
Diretor da Católica-Lisbon School of Business & Economics
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