Opinião
O email tem os dias contados
Sentimos a necessidade de o verificar constantemente, passamos horas a responder-lhe, tememos a sua avalanche quando estamos um dia fora do escritório, recebemos notas desagradáveis quando nos atrasamos ou deixamos passar um deles.
Estou naturalmente a falar do correio eletrónico, ou email, esse instrumento de trabalho crítico para as organizações, mas que tem vindo a transformar-se num enorme fardo para quase todos nós ao longo dos anos. Apesar deste crescimento opressor do email, que se poderia afigurar quase como imparável, penso que o seu fim está mais próximo do que poderíamos pensar. E a razão mistura tecnologia e comportamentos geracionais.
Parte da solução tecnológica está em empresas como a Slack e a Wrike. Estas soluções juntam num único serviço uma rede social interna, blogs e interação rápida através de canais, grupos, chats e videochamada, num contexto empresarial. Por exemplo, em vez de sucessivos emails entre os diretores de várias linhas para preparar a apresentação de resultados anual, cria-se um canal com esse tema, e trocam-se mensagens entre os membros sobre o tópico, ficando toda a comunicação e documentos associados arquivada e pesquisável pelos seus membros. A adoção destas ferramentas tem tido um interesse crescente entre empresas de referência, incluindo o NYTimes, a Samsung ou a eBay. E os resultados são de facto significativos, com reduções de cerca de 50% na utilização de email dentro das organizações que adotam estas ferramentas. Não é por isso surpreendente que a Slack tenha sido distinguida este mês como "startup of the year" 2017 pelo TechCrunch.
Mas, esta tendência irá acelerar ainda mais com a entrada em larga escala da geração Z no mercado de trabalho. Esta geração, que está em permanente comunicação eletrónica, não usa email, tecnologia que veem como antiquada. Eles esperam encontrar nas empresas redes sociais, chats, canais, precisamente o que o Slack e os seus competidores oferecem. O lançamento recente do Microsoft Teams, um produto que oferece este tipo de soluções, demonstra bem a relevância crescente deste mercado.
Mas a alteração mais significativa que resulta de evolução tecnológica e geracional está na utilização do vídeo. Durante várias gerações, o contacto constante e partilha entre pessoas foi realizado através do telefone, primeiro fixo e depois móvel. Mas a geração Z fala através de vídeo. A capacidade que o vídeo tem de capturar e transmitir o nosso contexto faz com que o envio e partilha de vídeos seja a forma mais expedita e imersa de partilharmos a nossa vida com outros. E se este comportamento é estranho para muitos, em larga medida porque não estão acostumados a ao nível de intrusão nas suas vidas que o vídeo representa, ele é totalmente natural para um adolescente, seja em Portugal, nos EUA ou na China. O sucesso estrondoso do Snapchat, uma aplicação de telemóvel para partilhar pequenos vídeos que desaparecem após a sua visualização, é a demonstração mais significativa desta tendência. A Snap, empresa mãe do Snapchat, anunciou este mês a sua oferta pública de aquisição (IPO), que se espera venha a ser a mais significativa desde o IPO do Facebook, atribuindo à empresa um valor de mercado entre 20 e 25 mil milhões de dólares (quase duas vezes o valor de mercado da GALP). O Snapchat é sobretudo usado pela geração Z e por isso ainda está longe de fazer parte da utilização geral num contexto empresarial. Mas isso está a mudar e, tal como as ferramentas que referi acima, a entrada desta geração num contexto profissional irá alterar de forma indelével o modo e ferramentas de comunicação interna. O email é desde já uma espécie ameaçada; o chat e o vídeo serão os seus substitutos. Se ganhamos ou perdemos com a transição é uma questão de perspetiva. Mas a transição será inequívoca e bastante mais rápida do que imaginamos.
Diretor da Católica-Lisbon School of Business & Economics
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico