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[709.] Vimax, Optivisão, Fábrica de Óculos

Os reclames da Fábrica de Óculos estão cheios de imagens e de frases. A desatenção à ortografia é notável pelo exagero de erros.

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Os anúncios de óculos graduados têm uma vantagem e uma dificuldade sobre os outros: o recurso à imagem permite-lhe usar com bom proveito efeitos visuais; mas, ao mesmo tempo, se o observador os vê bem, é porque está bem servido com as lentes que usa no momento da observação.

 

Um anúncio das lentes progressivas Vimax procurou ultrapassar a dificuldade criando uma ficção no seu anúncio de publicidade fixa e recorrendo a uma celebridade, o actor Andy Garcia. Na imagem, Garcia, do lado direito, sorri olhando directamente o observador por detrás dos seus óculos. Vai na rua. Um homem e uma mulher que passam, um homem que conduz um descapotável e, numa barbearia do lado esquerdo, o barbeiro e o cliente, todos andam ou estão de olhos vendados. Só a criança que vai pela mão da mãe no passeio tem os olhos livres e, sem óculos, sorri ao identificar a celebridade.

 

O mundo é cego sem lentes progressivas. Os transeuntes e os da barbearia não vêem o que é importante, nomeadamente a celebridade que passa. A minha ignorância desconhece o que são "as ó[p]ticas mais importantes", mas reproduzo a frase: "Nas ó[p]ticas mais importantes, Andy Garcia escolhe lentes progressivas Vimax." O slogan "Se escolhe Vimax, escolhe ver" sugere a negativa: se não escolher Vimax, não escolherá ver, mantendo a cegueira como a que se vê na imagem.

 

As lojas Optivisão optaram por mostrar uma parte do anúncio desfocado, sugerindo ao observador que está a perder parte do que quer ver. Tal como Vimax, recorreram a pessoas conhecidas do público, os apresentadores Sílvia Alberto (RTP) e João Manzarra (SIC). Eles aparecem, cada um no seu anúncio, desfocados dentro duma espécie de enquadramento rectangular, que delimita a celebridade e o que está desfocado. O efeito resulta. A tendência do observador é para olhar para pessoas na publicidade; neste caso, esse poder de atracção inato prolonga-se pela estranheza inicial da desfocagem e porque, ao insistir no olhar, se percebe que se está a olhar para uma cara conhecida. Deste modo, os anúncios conseguem reter a atenção e, eventualmente, convidar à leitura do slogan em cima: "Cuide dos seus olhos e não perca o que quer ver." A frase aplica-se a tudo o que se quer ver e aos apresentadores e aos programas em que participam e que são referidos nos próprios anúncios, através do logótipo. Nos anúncios de televisão, os reclames têm um desfecho feliz, o de os apresentadores desfocados passarem a focados. Já nos anúncios de imagem fixa, só aparecem desfocados - o que pode ser, paradoxalmente, uma vantagem para quem não aprecia os apresentadores e os seus programas.

 

Na região de Lisboa e na internet há um anúncio de óculos desfocados sem qualquer sofisticação e sem celebridades. Em si mesmo, o nome da empresa convida a uma publicidade básica: Fábrica de Óculos. O slogan é daqueles que eu aprecio na sua brutalidade: "Atenção. Não se deixe enganar. Esta Fábrica só Existe no Cacém. O resto são imitações."

 

Os reclames da Fábrica de Óculos estão cheios de imagens e de frases. A desatenção à ortografia é notável pelo exagero de erros. Alguns deles resultam da confusão gerada em Portugal com a chamada "reforma ortográfica" imposta pelo poder político. Um desses erros é comum às três campanhas aqui referidas: "ótica", em vez de óptica, que deve ser uma das inovações mais estúpidas do chamado "Acordo Ortográfico". Tirar o "p" a óptica origina palavras homónimas referentes a dois sentidos diferentes, pois óptico refere-se aos olhos e ótico refere-se aos ouvidos. De forma que apetecia que o anúncio da Fábrica de Óculos, e porque não os outros dois, viesse com um "disclaimer": "Atenção. Não se deixe enganar pelo 'Acordo Ortográfico'. Este anúncio é sobre óptica e não sobre ótica. Para tratar dos ouvidos, consulte um otorrinolaringologista." 

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