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A CIN assume que "ainda não está fechado" o forte ciclo de investimentos iniciado há cinco anos, que envolveu a ampliação da fábrica portuguesa de tintas em pó (Megadur), a abertura de operações no México, África do Sul e Turquia, e a compra do grupo francês Monopol, fechada no final do ano passado.
O director de marketing do grupo maiato adianta ao Negócios que "há mais algumas oportunidades de negócio em vista" na Europa e também em África, onde está instalado em três países, mas tem presença em quase todos os territórios através de acordos de parceria ou licenciamento. Marcos Castro indica que a Ásia "não é uma prioridade, nem para vender nem para produzir", a menos que surja "uma oportunidade daquelas que fazem pensar três vezes".
Este "investimento forte", não quantificado, retomado depois da entrada da troika, coincidiu com as quebras no mercado interno e no espanhol que puniram as vendas e a rentabilidade do grupo. "Foi o que nos levou a avançar. Os momentos mais difíceis são, quiçá, aqueles em que se consegue posicionar a empresa para estar numa posição mais fortalecida quando a economia voltar a crescer", justifica o gestor. E investidas que "fizeram sentido, alinhadas com o plano estratégico, se não isto é um navio sem rumo".
É por ter ainda dossiês de aquisição em cima da mesa que a CIN está a adiar a reestruturação que "efectivamente vai precisar de fazer nos próximos anos", após comprar negócios que somam produtos, tecnologias, carteiras de clientes, mas também trabalhadores e infra-estruturas. "Eventualmente abandonando unidades produtivas mais pequenas, centralizando a produção em algumas fábricas. Há uma série de racionalizações normais nestes processos, que ainda não ocorreram pois o ‘timing’ não aconselha", concretiza Castro.
Multinacional familiar
Fundada em 1926 por cinco empresários, a Corporação Industrial do Norte comprou logo nesse ano uma marca que levava uma década no mercado e por coincidência, tinha as mesmas iniciais – pertencia à Companhia Industrial do Norte. A maioria do capital esteve nas mãos de Manuel Pinto de Azevedo até à morte do famoso industrial, no final da década de 1950, quando um engenheiro da empresa entra no capital e começa a comprar algumas quotas dispersas.
Foi António Serrenho, o presidente honorário e o pai de João, o actual CEO, que iniciou a internacionalização da CIN. Em 1970 em Angola e três anos depois em Moçambique, países onde ainda hoje tem duas unidades industriais.
Ao todo, emprega 1.400 pessoas e tem sete fábricas principais: duas na Maia (de tintas líquidas e em pó), outras tantas em França e uma em Espanha. A maior produção está em Portugal, com 70 mil toneladas por ano (o dobro da espanhola), mesmo sem trabalhar sequer dois turnos completos. É também na Maia que está o maior centro de investigação e desenvolvimento. Remodelado em 2010, em 3.300 metros quadrados alberga 70 dos 120 profissionais no grupo dedicados à área da inovação.
A travar em 2016
Construção civil (50%), indústria (40%) e soluções de anti-corrosão (10%) para revestir estruturas de betão ou aço, como pontes, são as áreas de negócio da CIN, que pintou a tocha olímpica nos Jogos do Rio e fornece uma das principais marcas de esquis para a neve ou os produtores de frascos para perfumes e cosméticos franceses. A Casa da Música, o aeroporto Sá Carneiro, os estádios do Dragão e da Luz, o Museu Rainha Sofia (Madrid) e a nova sede do Conselho Europeu, em Bruxelas, são projectos que levaram estas tintas na construção, nos produtos industriais aplicados ou na protecção das estruturas.
Em posições muito próximas, Espanha, França e Angola ocupam o pódio dos melhores mercados externos, que há cinco anos passaram a valer mais de metade da facturação. Depois de fechar 2015 com vendas de 220 milhões de euros, o chefe do marketing antecipa que este ano deverão ficar "ligeiramente abaixo", culpando a crise angolana, a desvalorização do metical moçambicano e a travagem da linha anti-corrosão em Espanha, onde no passado recente pintaram milhares de torres eólicas.