Notícia
Ex-auditora da KPMG mete as mãos no lixo
Juliana Oliveira despediu-se da multinacional para tentar salvar a empresa do avô, viu a própria família chumbar o plano de crescimento do negócio e “roubou” um gestor à Unicer para criar a metalomecânica Olimec, na Maia.
Contra a vontade da família e face ao espanto dos amigos, a jovem maiata de 28 anos ficou sem ordenado e depois com o de um estágio profissional, em que ganhava três vez menos do que na consultora. Formada em Economia na Católica, encontrou dois funcionários e um único cliente, da construção civil, que baixava todos os meses o preço da mão-de-obra. Passou as primeiras semanas a "lamber facturas", repetia as análises que estava habituada a fazer na KPMG. Não tardou a perceber que tinha antes de melhorar a habilidade comercial e usar o saber acumulado dos operários com 30 anos de casa.
O Ferrari num Punto
No Verão passado não conseguiu adiar mais o auxílio na gestão. Desafiou Luís Tavares, que conhecera na KPMG, acabara de ser promovido no controlo de gestão da Unicer e ganhava "uma fortuna". Despediu-se um mês depois e começaram a traçar um plano para expandir o negócio – "não tinha contratado um Ferrari para conduzir um Punto", ilustrou. Apresentou o plano à família na condição de se tornar sócia maioritária com entrada de capital, mas foi rejeitado com o argumento de que o avô não quereria seguir esse caminho.
Avançou com Tavares como sócio e esse plano adaptado para criar a Olimec, em Janeiro. Sem poder ficar à espera do empréstimo da banca, investiram do próprio bolso mais de 90 mil euros no "necessário" para arrancar a operação de raiz. Só um stock de parafusos custa 3.000 euros.
Trocou o fato de executiva por calças largas e botas que deixam pegadas de lixo quando vai arranjar as unhas à cabeleireira. Ainda não se arrependeu. Emprega dez pessoas na zona industrial, conta facturar meio milhão de euros no final do ano e tem o primeiro projecto internacional à espera de aprovação na Costa do Marfim.
Preconceito no mundo das start-ups
Juliana Oliveira diz que sente "algum preconceito e estigma" por liderar uma start-up no sector da metalomecânica. Além de não ser um negócio "feminino" (como uma loja de decoração ou um blogue sobre viagens, ironiza) também não precisa, por exemplo, de ter… uma "app".
Inovar coisas simples num sector maduro
"Operar num sector tradicional e dar que falar pela excelência do serviço prestado, isso não é inovador?", questiona a jovem empresária, sustentando que chegou a ter um cliente a dizer-lhe que "nunca ninguém lhe tinha enviado um orçamento no próprio dia, com duas versões, em formato PDF e por e-mail". "Toda a gente nos agradece isso", nota.
Serralheiros em vez de engenheiros
Além da questão da inovação, que tem dificuldade em encaixar nos parâmetros das candidaturas ao Portugal 2020, por exemplo, perguntam-lhe se não vão contratar mão-de-obra dita qualificada. "Não vamos contratar engenheiros mecânicos quando temos é necessidade de ter mais mecânicos e serralheiros", desabafa.
Parceria com Lipor na Costa do Marfim
Há meses esteve em Moçambique para contactos, até porque quase todas as clientes estão nos PALOP. "Não deu em nada" e o primeiro projecto internacional a avançar, a aguardar aprovação na Costa do Marfim, foi apresentado em parceria com a Lipor, prevendo a gestão global de resíduos, desde contentorização, recolha, manutenção, formação e sensibilização.