Outros sites Medialivre
Notícia

Machados servem cabeça do Pinto da Costa

Um almoço entre o presidente do FC Porto e o benfiquista Manuel Damásio, com a bênção de Tomislav Ivic, deu nova assinatura ao bolo da casa beirã que há 28 anos só põe na mesa a vitela assada à moda de Lafões.

29 de Novembro de 2016 às 00:01
Paulo Duarte
  • Partilhar artigo
  • ...
Nos primeiros anos de actividade, Fernando e Isabel Machado serviam um bolo de chocolate, a que chamavam "Cabeça do Savimbi" em referência ao líder histórico da UNITA, e outro à base de pão-de-ló e doce de frutas, que na ementa surgia como "Cabeça do Papa". Até que em meados dos anos 1990 – era Tomislav Ivic treinador do FC Porto, após uma curta passagem pelo Benfica, liderado por Manuel Damásio –, o jugoslavo juntou ao almoço os presidentes dos dois clubes rivais – "ainda se davam todos bem na altura".

"E o Sr. Pinto da Costa virou-se para o meu pai e disse: ‘você tem de ter aqui alguma coisa em minha homenagem’. Ficou logo ali decidido que [essa sobremesa de forma arredondada] passaria a chamar-se a ‘Cabeça do Pinto da Costa’. Estamos todos numa boa, isto não tem nada de clubismo. Às vezes até vêm aí jogadores do FC Porto e dizem: ‘quero a cabeça do presidente’", relata divertido o filho mais velho do casal fundador, que assumiu a gestão do negócio com o irmão Davide.

Num concelho em que ninguém identifica um prato ou doce tradicional, a principal referência gastronómica, na freguesia de Nogueira, é uma casa típica beirã que, além das entradas e sobremesas, apenas põe na mesa a vitela assada no forno à moda de Lafões. É prato único há 28 anos, cozinhado "da forma mais pura e conservadora possível, sem grandes invenções, tal como se cozinhava no tempo dos nossos avós". O frenético e afável gerente, 38 anos, frisa que "não há segredos" e "a fama é um percurso destes anos todos", pois "o importante é hoje e amanhã, quando vem cá no dia seguinte estar igual".

"Tu cá, tu lá"
O Restaurante Machado, com capacidade para 200 pessoas, foi o resultado da decisão, tomada por causa dos filhos, de regressar à pátria depois de perto de sete anos na Suíça, em vez de "continuarem por lá com uma vida de emigrante". Natural de São João da Serra, Oliveira de Frades, Fernando rumou a Sul com 13 anos para trabalhar no hotel da Baleeira, em Sagres, como ajudante de chef de turno. Casou com uma algarvia e em Genebra passou por restaurantes como o Auberge Fédérale, Le Lyrique ou La Fénice.

Fernando supervisiona, "está em todo o lado" e continua a ser o anfitrião. A mãe deixou a cozinha e agora "é a boneca" da casa. O legado que os filhos seguem "com prazer" (e matinalmente ao preparar a vitela para ir ao forno) é o "se queres bem feito, fá-lo tu".

Com apenas 10% de clientela do Grande Porto e cada vez mais estrangeiros a preencherem as seis salas de decoração rústica e ecos de rancho folclórico, Jorge destaca "todo o pacote", que vai desde o ambiente familiar e "tu cá tu lá" até às frutas, aos legumes e ao vinho tinto do Dão produzidos na Quinta da Ponte, propriedade da família na região de Lafões.

Tome nota

Beirão e algarvia caem de pára-quedas pelo avô

Pode não ser fácil encontrá-lo sem GPS, mas ao chegar ao Machado facilmente reconhecerá o ambiente beirão. Reservar mesa é uma recomendação da casa.

Uma segunda versão rústica
Instalado numa rua discreta nos arredores da Maia, o restaurante montado em 1988 por Fernando e Isabel Machado acabou por ser demolido onze anos depois, erguendo-se uma construção mais moderna, que manteve o interior rústico idealizado pelos patrões.

Aterrar na maia por memória familiar
O casal Machado regressou à pátria pelos filhos e caiu "de pára-quedas" na Maia, à qual não tinham ligação, pela proximidade ao Porto, pelos bons acessos e porque o avô de Jorge tinha trabalhado ali perto numa fábrica de transformação de carnes e esta zona "ficou-lhe na memória".

Sazonal
E flexível O restaurante Machado tem dez funcionários fixos e vai contratando outros consoante as necessidades, sobretudo aos fins-de-semana e naquelas que, apesar do advento do turismo, continuam a ser as épocas fortes: o Dezembro natalício e o Maio das comunhões e baptizados.

Disciplina no tempo de descanso
"É preciso saber gerir o tempo. Às segundas e terças estamos fechados, é o nosso sábado e domingo. Temos de ter tempo livre para a família", frisa Jorge Machado, que também goza as férias a que tem direito, embora saiba que muitos colegas da hotelaria não o façam. A esposa também tem um restaurante, caso contrário "não conseguiria compreender esta vida".

Mais notícias