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Le Pen faz disparar prémio de risco da França para máximos de três anos
O diferencial entre a dívida francesa e a dívida alemã está a disparar para máximos de mais de três anos. O lançamento da campanha de Marine Le Pen ao Eliseu estará a penalizar a evolução do prémio de risco.
Marine Le Pen fez este domingo, 5 de Fevereiro, o discurso de lançamento da sua campanha eleitoral para as presidenciais francesas. A líder da Frente Nacional apresentou-se como a "candidata do povo", que vai "pôr a França primeiro". França está ameaçada por "dois totalitarismos", disse, evocando a globalização económica e o fundamentalismo islâmico, e ela quer "uma França que não deva nada a ninguém".
Se for eleita, prometeu, vai "revitalizar o sentimento nacional", tirar França do euro e da União Europeia, sair da NATO, conter a imigração, especialmente de muçulmanos, "erradicar o terrorismo", ter "tolerância zero" com a delinquência e acabar com as segundas oportunidades para os "potenciais terroristas" estrangeiros, que serão expulsos.
A líder da Frente Nacional está em boa posição na corrida presidencial quando faltam menos de três meses para a primeira volta, sobretudo desde que o seu principal adversário, o candidato da direita, François Fillon, enfrenta acusações de ter criado empregos fictícios para a mulher e dois filhos, caindo nas sondagens em benefício de Le Pen e do candidato socialista Emmanuel Macron. Aliás, de acordo com o Financial Times, a saída dos investidores da dívida francesa tem se acentuado há duas semanas, coincidindo com o escândalo que envolve François Fillon.
As palavras da candidata da extrema-direita, e a sua posição nas sondagens, não estarão assim a ser bem acolhidas nos mercados, com os receios dos investidores a penalizarem o prémio de risco da dívida francesa. A dívida pública francesa a dez anos, no mercado secundário, sobe 1,4 pontos base para 1,094%, um máximo de Setembro de 2015. Por outro lado, a dívida alemã no mesmo prazo está a cair 3,1 pontos base para 0,381%. Por conseguinte, o prémio de risco da dívida gaulesa, medido pela diferença entre a dívida alemã e francesa, está nos 71,0 pontos, o que representa o valor mais elevado desde 24 de Janeiro de 2014.
Philippe Gudin, do Barclays, em declarações ao Financial Times, alertou que sondagens "continuam muito voláteis e a incerteza continua elevada". Por outro lado, Julien Manceaux, do ING, em declarações ao mesmo órgão, apontou que "quem quer que vença a eleição presidencial, vai ter um mandato para fazer reformas muito forte, o que pode levar a uma recuperação económica da França nos próximos anos e levar a um crescimento mais elevado do PIB já em 2018, que esperamos que seja de 1,8%". "Entretanto, a incerteza vai continuar a preocupar o mercado de obrigações".
O euro está também a cair face ao dólar – recua 0,37% para 1,0743%. A moeda da Zona Euro estará também a ser penalizada pelas palavras de Marine Le Pen.
Voltando ao mercado secundário de dívida é possível perceber que não é apenas a dívida francesa que sobe. A portuguesa a dez anos cresce 4,8 pontos base para 4,220%, contribuindo para isso, possivelmente, outros factores como a agência de notação financeira Fitch ter mantido o "rating" de Portugal em BB+, com perspectiva estável. O prémio de risco da dívida nacional está também a subir, estando nos 378,5 pontos, o que representa o valor mais elevado desde 3 de Janeiro de 2014.
A dívida espanhola a dez anos, sobe 4,1 pontos base para 1,722% e a dívida italiana na mesma maturidade sobe 5,5 pontos base para 2,320%.