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Juros disparam nos países periféricos depois de Itália dizer “não” às reformas

Os juros dos países periféricos estão a subir no mercado secundário, uma evolução que tem lugar após o referendo em Itália. No escrutínio o “não” venceu, o que levou à demissão do primeiro-ministro e abriu a porta a um clima de instabilidade política.

Reuters
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Itália disse "não" às reformas constitucionais propostas pelo primeiro-ministro italiano e os mercados não tardaram a reagir. O euro afundou para mínimos de 20 meses e os juros da dívida pública dos países periféricos, no mercado secundário, estão a escalar.

No caso da dívida italiana a dez anos, o prazo considerado de referência, as obrigações somam 12,3 pontos base para 2,025%. Nesta sessão, as "yields" tocaram já nos 2,058%, o valor mais elevado desde a última quinta-feira, 1 de Dezembro. Nos restantes prazos, a tendência é semelhante.


Olhando para a dívida portuguesa, os juros exigidos pelos investidores para trocarem dívida entre si também sobem em todos os prazos. A uma década, as "yields" avançam 10,8 pontos base para 3,805%.


As obrigações do tesouro espanhol também registam uma subida em todos os prazos, estando a dez anos a crescer 6,7 pontos base para 1,610%.


A contrariar esta tendência estão os juros da dívida alemã, tida muitas vezes com um activo de refúgio. Por conseguinte, os juros exigidos pelos investidores para trocarem dívida entre si descem em todos os prazos. A dez anos cede 0,7 pontos base para 0,274%.

O prémio de risco da dívida italiana - o diferencial entre a dívida italiana e alemã - está nos 174,1 pontos, o que corresponde ao valor mais elevado desde 29 de Novembro. No caso português, o prémio de risco está nos 347,8 pontos, o valor mais elevado desde 29 de Novembro.


Itália disse "não" às reformas


Matteo Renzi apostou tudo no referendo constitucional deste domingo. E perdeu. A demissão já anunciada era a consequência imediata esperada.


Renzi já disse que esta segunda-feira irá apresentar a demissão ao presidente Mattarella. Mas disse também que ainda terá de ser aprovado o Orçamento do Estado para 2017. Pelo que Renzi, ou o seu Governo, poderão continuar em funções pelo menos no curto prazo.


Sergio Matarella terá depois de decidir se pretende encetar esforços para encontrar alguém no seio do PD capaz de reunir os apoios necessários à formação de um novo Governo. Ou poderá também procurar entendimentos no Parlamento que permitam a constituição de um Governo tecnocrata que assegure a legislatura até às eleições legislativas previstas apenas para 2018. É neste cenário que aposta o director do Corriere della Sera, defendendo que Mattarella terá agora de "encontrar um consenso para uma nova lei eleitoral" que permita "levar o país de forma ordenada a eleições antecipadas". Solução a médio prazo.

Mas há ainda um terceiro cenário: a realização de eleições antecipadas tal como pretendido, e já anunciado, pelo 5 Estrelas e pela Liga do Norte, cujos líderes Beppe Grillo e Matteo Salvini, respectivamente, são os grandes vencedores desta noite eleitoral. Se o comediante Grillo avisou antes do referendo que a primeira coisa que faria se o "sim" perdesse seria pedir novas eleições a Mattarella, o número dois do 5 Estrelas, Luigi Di Maio, já revelou que "estamos a trabalhar para formar a equipa do futuro Governo 5 Estrelas".


Mas aqui tudo se complica. É que se nova lei eleitoral (Italicum) é para alterar, como disse Renzi nas últimas semanas, é preciso saber que Governo irá fazer essas alterações? E como as aprovaria num Parlamento agora previsivelmente ainda mais fragmentado? Questões ainda sem resposta até porque nesta altura tudo é possível: não haver eleições ou, havendo-as, estas serem realizadas com o Italicum, com um Italicum reformulado ou com um Italicum revogado.

Na semana passada, Giorgia Meloni (outra das vencedoras da noite), líder do Irmãos de Itália e antiga aliada de Berlusconi, ameaçou que se desta vez Mattarella "imitar" o ex-presidente, Giorgio Napolitano, nomeando um Executivo de perfil técnico, a oposição irá ocupar as ruas de Itália. É por esta razão que não está colocada de parte a possibilidade de um claro agravamento das condições políticas no país.

Grillo e Salvini não dispõem de maioria para formar Governo, pelo que precisam de eleições para o conseguir. Contudo será também preciso saber com que lei eleitoral serão feitas as novas eleições, independentemente da data das mesmas.

Renzi prometeu demitir-se e já o anunciou, mas não disse se sairá também da liderança do PD. O que, em teoria, até pode significar que o "político veloz" poderá permanecer à frente do partido e encarar eventuais novas eleições.


A bola está do lado de Mattarella. É quase certo que haverá grande instabilidade política em Itália, um país habituado a convulsões políticas. Só que desta feita há uma ameaça real de a força anti-euro 5 Estrelas vencer as próximas eleições, uma vez que surge a par do PD na dianteira das sondagens. Chegado ao poder - presumivelmente aliado à força de extrema-direita do "lepenizado" Salvini - o 5 Estrelas quer referendar a presença no euro, isto num país estagnado economicamente desde a adesão à moeda única. É por isso que se teme um potencial princípio do fim da Zona Euro.

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