05 de Dezembro de 2016 às 10:48
Muita dívida para pouco crescimento Itália tem uma dívida pública superior a 100% do PIB desde a viragem do século. É também por isso que o baixo crescimento preocupa.
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Itália e Portugal destacam-se como duas das economias com mais baixo crescimento na Zona Euro durante a moeda única. Entre 2000 e 2016, Itália terá crescido em média 0,3% ao ano, abaixo dos 0,45% nacionais e substancialmente atrás de Alemanha (1,3%) e Espanha (1,7%). Pior: Itália e Portugal estão também entre as economias com mais baixo crescimento potencial no médio prazo, em torno de 1% ao ano.
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O histórico elevado endividamento público do país exigiu a Itália a adopção de uma política orçamental de relativa contenção. Entre 2000 e 2016 registou excedentes orçamentais sem juros em todos os anos, com a excepção de 2009 e 2010. O saldo primário do país neste período foi de 1,5% do PIB, o que compara com o excedente de 0,6% na Alemanha e défices de 2,3% e 1,7% em Portugal e Espanha.
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Itália não tem margem para errar nas contas públicas: a dívida pública permaneceu acima de 100% do PIB durante todo século XXI, e com a crise iniciada em 2009 o peso da dívida no PIB aumentou mesmo para perto de 130%. É mais um indicador semelhante ao verificado em Portugal e que, aliado ao baixo crescimento da economia, justifica a preocupação com a situação financeira e orçamental do país.
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Baixa competitividade penaliza Itália não registou os défices externos de Portugal, mas também não conseguiu excedentes. Pontua pior que Portugal nos índices de competitividade.
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A participação de Itália na união monetária não teve os impactos dramáticos sobre o seu saldo externo que experimentaram por exemplo Portugal e Espanha - que durante vários anos registaram défices externos anuais superiores a 9% do PIB. Por outro lado, Itália também não conseguiu gerar excedentes que permitissem baixar um nível de dívida externa em torno dos 100% do PIB, metade do português.
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Itália é apontada como uma das economias com piores desempenhos em termos de produtividade e, logo, de competividade externa. Também aqui, há similitudes entre Portugal e Itália, pese embora o significativo mercado interno e a algumas marcas de topo na indústria, que têm vindo a perder relevância. Itália está na 43ª posição no ranking de competitividade do Fórum Económico Mundial, atrás de Portugal.
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Muito desemprego e desigual A desigualdade de rendimento é das mais elevadas da UE, mas fica atrás da registada em Portugal ou Espanha. Desemprego está nos dois dígitos.
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Itália regista um nível relativamente elevado de desigualdade de rendimentos, estando ainda assim melhor que Portugal ou Espanha. Também aqui a Alemanha surge numa posição mais favorável, mas ainda assim ficando a meio da tabela da UE que tem na Noruega e na Dinamarca os países com maior igualdade de rendimentos. Com a crise os níveis de desigualdade aumentaram ou interromperam a tendência de queda.
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O elevado desemprego é uma marca dos países do Sul após a crise iniciada em 2009: 11,5% em Itália previstos para este ano pelo FMI, acima dos 11,2% de Portugal e abaixo dos quase 20% espanhóis. Os três muito distantes dos 4% a 5% na Alemanha, que goza do que os economistas chamam de pleno emprego. O desemprego é uma das causas centrais de pobreza e de pouca receita pública via impostos e contribuições.
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Os maus indicadores económicos podem ter algum impacto na avaliação modesta conseguida por Itália no índice de satisfação de vida no país calculado pela OCDE. 5,8 pontos, abaixo da média de 6,5 pontos da OCDE e acima dos 5,1 pontos nacionais. A associação entre indicadores económicos e sociais e o índice da OCDE deve ser feita com cautela: é que a pontuação alemã é ainda inferior à italiana.
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Sistema financeiro sob pressão As taxas de juro em Itália subiram com a perspectiva de crise política, mas não tanto quanto as portuguesas. Banca tem muito crédito mal parado.
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Longe vão os tempos em que as taxas de juro dos países do Sul e a taxa de juro alemã andavam juntas. Desde a crise, os juros germânicos afundaram e afastaram-se dos de Itália, Espanha ou Portugal. Os investidores estão a exigir quase 2% para emprestar dinheiro a 10 anos a Itália - acusando os riscos de instabilidade, ficando longe dos 0,2% alemães, mas muito abaixo dos 3,7% pedidos a Portugal.
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O elevado nível de malparado na banca italiana (360 mil milhões de euros, ou 17% a 18% do total de crédito no final de 2015, de acordo com dados da EBA trabalhados pelo Parlamento Europeu) é um dos maiores problemas a pesar sobre Itália - aliás como na portuguesa. A realidade é muito heterogénea entre bancos, mas o risco de contágio e de exigir intervenções públicas mantêm Itália no centro das atenções.
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