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Como evoluíram os seis factores-chave para a decisão da DBRS?

O Unicredit analisa os indicadores que a DBRS utiliza para atribuir “ratings”. E conclui que a expectativa é que a agência canadiana mantenha Portugal em grau de investimento.

17 de Outubro de 2016 às 07:00
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A DBRS não deverá fazer alterações no "rating" de Portugal na próxima sexta-feira, 21 de Outubro, segundo o Unicredit."Esperamos que a DBRS deixe o "rating" de Portugal inalterado, já que as variáveis que são observadas de perto pela agência para fazer a sua avaliação não mostram alterações materiais desde a última revisão em Abril", referem os analistas do banco italiano, numa nota de investimento a que o Negócios teve acesso.

O banco italiano explica que "a metodologia da DBRS mapeia os riscos que podem comprometer a capacidade e a vontade dos governos em cumprir com as suas obrigações de forma completa e atempada, com um leque alargado de factores económicos e institucionais". E detalha que "estes factores são agrupados em seis categorias principais e medidos com base em vários indicadores qualitativos e quantitativos".

O Unicredit avaliou cada um desses elementos, estabelecendo uma classificação sobre como evoluíram desde a última revisão do "rating" em Abril.

Política e gestão orçamental ("mais riscos")

O ministro das Finanças esteve reunido com responsáveis da DBRS no final da semana passada e salientou que a agência se sentia "muito confortável" com a situação orçamental portuguesa. No entanto, o Unicredit defende que neste elemento analisado pela agência pode haver mais riscos que na revisão de Abril.

Salienta que se "o défice ficar em linha com a meta de 2,5% isso seria associado a uma abordagem orçamental neutral, sem alterações no saldo primário estrutural". E salienta a pressão da Comissão Europeia "para um ajustamento estrutural de 0,6 pontos percentuais em 2017, 0,2 pontos percentuais do que o planeado no programa de estabilidade".

Apesar de considerar que há mais riscos face à última avaliação, o Unicredit antecipa que as garantias dadas pelo Governo de que se iria atingir a meta de 2,5% do défice este ano "será muito provavelmente suficiente para a DBRS expressar confiança no plano orçamental".

Dívida e liquidez ("A melhorar")

A evolução da dívida e a situação de liquidez do Estado é outro dos pilares na avaliação da DBRS. E para o Unicredit, esses elementos dão sinais de melhoria. O banco italiano revela que a agência utiliza as estimativas do FMI como base da sua análise de sustentabilidade da dívida e salienta que essas projecções apontam "para uma suave trajectória de descida para a dívida sobre o PIB em 2020".

O Unicredit considera que "é improvável que a avaliação da DBRS sobre a dinâmica da dívida divirja de forma significativa da que foi conduzida em Abril, quando o rácio da dívida sobre o PIB foi julgado como continuando num caminho de descida, apesar de ser ‘particularmente susceptível’ a choques negativos".

Já em relação à posição de liquidez são tidos em conta "as almofadas de tesouraria, as necessidades de refinanciamento, o custo e a maturidade média da dívida e a diversificação da base de investidores". O Unicredit considera que esses elementos "melhoraram de forma significativa para Portugal, tornando-o mais resiliente a subidas da pressão dos mercados".

Estrutura e desempenho económico ("Genericamente estável")

Outro dos elementos-chave na avaliação da DBRS são as perspectivas para a economia. E, neste ponto, a DBRS tem feito alguns alertas. Em declarações ao Financial Times, Fergus McCormick, economista-chefe da agência, defendeu que Portugal estava preso a um ciclo vicioso.

E o Unicredit observa que desde a última revisão da DBRS, os números indicam uma forte perda de impulso no crescimento em relação ao que era antecipado pela agência. No entanto, o banco realça que "o que conta para o "rating" soberano é também a perspectiva para o crescimento no médio e no longo prazo. E neste ponto notamos que as estimativas para o PIB no longo prazo publicadas pelo FMI no World Economic Outlook de Outubro não se alteraram, comparadas com Abril".

Política monetária e sector financeiro ("Estável")

Este factor de avaliação inclui uma análise à evolução da política monetária e à situação financeira dos bancos. No que diz respeito às decisões do BCE, o Unicredit refere que o banco central "aparenta estar preparado para tomar medidas adicionais de alívio antes do final do ano, o que pensamos que irá tomar forma com compras adicionais de activos", o que beneficiaria Portugal.

Já em relação ao sistema financeiro português, o Unicredit observa que "sofre com uma rentabilidade estrutural baixa e os elevados níveis de imparidades". No entanto, os analistas do banco destacam que apesar de esses problemas terem obrigado a uma intervenção do Estado na Caixa Geral de Depósitos, a solução para o banco público foi encarada como "um passo bem-vindo por parte da DBRS".

No entanto, o Unicredit alerta que os problemas não se resumem à Caixa e avisa que "a intenção do Governo em criar um veículo especial para ser detido principalmente pelos bancos e o sector provado para absorver o malparado não é uma bala de prata para fortalecer a solvência dos bancos".

Balança de pagamentos ("Estável")

Esta categoria avalia os desenvolvimentos no balanço da conta corrente e a posição líquida de investimento internacional num horizonte de cinco anos. O Unicredit observa que "desde que Portugal entrou no programa de ajuda em 2011, o País fez progressos notórios na redução dos desequilíbrios externos".

No entanto, o banco italiano refere que apesar da balança corrente ter passado de um défice de 12% em 2008 para um superavite de 0,4% em 2015, a posição líquida do investimento internacional "continua muito negativa", com "um dos níveis mais negativos na União Europeia". Apesar deste factor, o Unicredit considera que estes indicadores permanecem "estáveis" face à última revisão.

Situação política ("Estável")

Nesta dimensão, a DBRS avalia a capacidade dos governos em implementarem medidas. E o Unicredit refere a negociação entre o governo e os partidos que o apoiam "sobre os conteúdos do orçamento para 2017 causaram bastante ruído na imprensa portuguesa, o que pode colocar o risco de fazer descarrilar o processo orçamental".

No entanto, no relatório do banco, divulgado antes de se conhecerem as propostas do OE, os analistas defendem que os partidos de esquerda que apoiam o Governo não têm incentivo para cortar o apoio ao Executivo, até porque as eleições autárquicas estão à porta
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Além disso, destacam a evolução do PS nas sondagens, que revelam que se "as eleições fosse hoje, o PS conseguiria deputados suficiente para governar com o apoio de apenas um dos seus parceiros, aumentado os incentivos para os partidos de extrema-esquerda para apoiar os socialistas". 

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