Notícia
The Economist sobre Portugal: DBRS está numa "posição complicada"
A publicação britânica diz que os mercados estão "ansiosos" para saber se a agência de rating mantém o grau de investimento da dívida soberana portuguesa. E que a decisão da DBRS, qualquer que venha a ser, é ela própria um factor de risco.
A oito dias de a DBRS poder rever a classificação atribuída à dívida portuguesa e na véspera de o Governo apresentar o Orçamento de 2017 ao Parlamento, a revista The Economist diz que a agência de rating canadiana – a única que classifica as obrigações nacionais com grau de investimento - tem em mãos uma tarefa difícil.
Num artigo intitulado "Turismo Aventura – O fraco crescimento volta a tornar Portugal vulnerável", que sairá para as bancas neste sábado, a publicação britânica escreve que os mercados esperam "ansiosamente" pela decisão da DBRS. Mas qualquer que venha a ser, a decisão da própria agência tornou-se num factor de risco.
Lembra a publicação que um corte na notação, atirando o "rating" para grau "lixo", poderia afastar as obrigações nacionais do programa de compras do BCE e por essa via dificultar o acesso da banca a financiamento, já que o banco central deixaria de aceitar aqueles títulos como colateral. Um cenário que André Rodrigues, do Caixa BI, acredita que não é um problema de curto prazo para o funcionamento dos bancos, já que os bancos estão "inundados" com liquidez.
Além disso, há que contar o impacto de uma decisão negativa na confiança e na procura pela dívida soberana, que tornaria mais caro o financiamento. Ainda que o Tesouro disponha de uma almofada de financiamento e tenha estado nos mercados a refinanciar dívida, o que permite que "possa ficar fora dos mercados durante algum tempo", segundo Kathrin Muehlbronner, da Moody’s.
"Tudo isto põe a DBRS numa posição complicada. Ela tornou-se parte do risco que está a tentar avaliar", escreve a publicação, lembrando que esta semana a agência considerou estar "confortável" com a posição orçamental de Portugal. Fergus McCormick, economista-chefe da agência, diz que a decisão sobre a notação vai basear-se em indicadores de longo prazo, com o potencial de crescimento do país a influenciar mais do que a situação de endividamento.
A The Economist desfia então os "problemas profundos" com que, diz, a economia portuguesa se debate, nomeadamente com o sector financeiro pouco rentável e demasiado exposto a activos de má qualidade, o ritmo lento de crescimento da economia, a "desilusão" com as reformas estruturais ou a fraca procura da zona euro, além das limitações ao investimento decorrentes do sobreendividamento do sector privado.
"Os dias até 21 de Outubro [data para a decisão] vão ser gastos a tentar descobrir se a recente fraqueza é suficiente para destabilizar o rácio da dívida pública sobre o PIB. Uma decisão de manter o rating seria um voto de confiança, pelo menos por agora," conclui o artigo.
Esta terça-feira, também o Wall Street Journal dedicou um trabalho à situação de Portugal, referindo que o crescimento lento da economia e o elevado endividamento do país para justificar aumentam os receios de que seja necessário recorrer a um novo resgate, que "seria um golpe na moral da União Europeia."