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Bitcoin. Afinal é dinheiro ou não?

As criptomoedas podem ser vistas como a solução onde e quando o dinheiro formal não presta os serviços procurados, considera o Goldman Sachs.

2017 foi um ano em que praticamente todos os dias ouvimos falar da bitcoin. A mais antiga e a mais popular das moedas virtuais disparou mais de 1.700%, desde o início do ano, e chegou a superar os 19.500 dólares. Isto depois de os futuros sobre a bitcoin terem começado a transaccionar na CME Group, uma semana depois da rival de Chicago Cboe Global Markets ter introduzido derivados semelhantes sobre a volátil criptomoeda.
13 de Janeiro de 2018 às 15:00
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O valor do dinheiro provém da sua utilidade enquanto facilitador de transacções e enquanto activo na diversificação de carteiras – papel que o dólar desempenha relativamente bem, daí a sua elevada procura em todo o mundo, sublinha o Goldman Sachs num "research" de 10 de Janeiro.

 

No entanto, prossegue a nota de análise do banco de investimento norte-americano, o mesmo não se pode dizer de muitos outros tipos de dinheiro. "Nalgumas regiões do mundo, e em determinados momentos ao longo da História, múltiplas moedas circularam na mesma área económica – um fenómeno conhecido actualmente como ‘dolarização’. Além disso, os governos frequentemente restringem o uso de moedas nacionais e estrangeiras dentro das suas próprias fronteiras. Nestas circunstâncias, é natural que se tente perceber de que forma é que os formatos alternativos ao dinheiro – como as moedas digitais – podem ser úteis", destaca este "research".

 

O Goldman Sachs, que nesta análise se debruça especificamente sobre a bitcoin na qualidade de "dinheiro", explica que existem muitas evidências de que a procura de criptomoedas tem sido originada em regiões onde existe instabilidade cambial e/ou controlo de capitais. Contudo, há outros dados que apontam para que a origem dessa mesma procura esteja sobretudo na especulação no retalho.

 

Na prática, consideram os analistas do banco, "a bitcoin e outras moedas digitais deparam-se com significativos obstáculos práticos à sua adopção mais alargada – incluindo uma potencial regulação governamental e a excessiva volatidade.

 

E a volatilidade foi, de facto, uma palavra de ordem para a bitcoin em 2017. Uma análise feita pela Bloomberg aos mercados financeiros globais demonstrou que apenas 7 de 250 activos de todas as classes – incluindo acções, obrigações soberanas, moeda e matérias-primas – demonstraram uma elevada volatilidade devido ao sobe-e-desce das suas cotações ao longo do ano passado.

 

A moeda digital bitcoin foi considerada, numa análise da Bloomberg, como um desses sete activos mais voláteis de 2017.

 

A 10 de Outubro passado, a bitcoin superava a fasquia dos 5.000 dólares por unidade [depois de ter iniciado o ano no patamar dos 1.000 dólares], provocando grande euforia junto dos adeptos desta criptomoeda. Desde então, foi sempre a subir, tendo atingido um máximo histórico de 19.511 dólares a 18 de Dezembro. Logo a seguir, em apenas algumas sessões afundou 44%. Regressou à tona, mergulhou de novo e voltou a terreno positivo na última sessão do ano. Quedas à parte, a valorização em 2017 rondou 1.400%.

 

Um urso a ganhar 1.400%?

 

Esta tamanha volatilidade levou mesmo a que a Bloomberg destacasse um aspecto pertinente, no passado dia 21 de Dezembro, quando a bitcoin acumulava um ganho anual de 1.400%: estaria a moeda num "bear market" quando no saldo do ano registava uma subida tão forte?

 

Quando temos um mercado urso, significa que um determinado título, índice ou outro activo regista uma queda de pelo menos 20% face ao anterior máximo. E porquê a figura do urso? Porque ataca de cima para baixo, com as suas garras, provocando um movimento descendente.

 

Ora, a bitcoin, no segundo semestre de 2017, esteve por três vezes em mercado urso. Assim, em meados de Dezembro, quando afundou mais de 40%, o certo é que, no acumulado do ano… estava a disparar.

 

Êxito da bitcoin? Depende do país e do segmento do sistema financeiro

 

Regressando à análise do Goldman Sachs, este questiona-se sobre se a bitcoin poderá ser bem sucedida enquanto "uma forma de dinheiro". Depende… diz o banco norte-americano.

 
"Teoricamente, sim, caso demonstre ser capaz de facilitar transacções a um custo baixo e/ou oferecer às carteiras de investimento melhores retornos ajustados ao risco. Mas, na prática, a fasquia está elevada. As moedas das economias de mercado mais desenvolvidas já prestam esses serviços monetários muito bem. E se as tecnologias blockchain entrarem na corrente dominante, como parece provável, a fasquia ficará ainda mais elevada".

 

"Blockchain", na tradução literal, é uma ‘corrente de blocos’ que é actualizada sempre que se realiza uma nova transacção – e todos os sistemas ligados à rede têm acesso a essa rede, de forma a validar um item e impedir que ele seja vendido duas ou mais vezes.

 

Posto isto, "a bitcoin (e as criptomoedas de uma forma mais geral) poderá oferecer alternativas viáveis em países e recantos do sistema financeiro onde os tradicionais serviços do dinheiro não estão a ser adequadamente fornecidos", concluem os analistas Zach Pandl e Charles P. Himmelberg do Goldman Sachs.

 

Acreditar para investir

 

Esta análise foi divulgada no mesmo dia em que o célebre investidor dono da Berkshire Hathaway, Warren Buffett, disse estar convicto de que "as criptomoedas não vão acabar bem", pelo que não é um investimento em que esteja interessado – aliás, por não conhecer bem este activo [e o chamado Oráculo de Omaha só investe naquilo que conhece bem].

 

Mas as opiniões diferem muito. Na véspera, Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, afirmou estar arrependido de ter dito que considerava a bitcoin "uma fraude", apesar de ter reiterado não estar interessado nesta criptomoeda.

 

Com mais ou menos receios, certo é que haja quem se atire de cabeça nesta aventura. Na terça-feira, 9 de Janeiro, a Eastman Kodak anunciou o lançamento de uma criptomoeda para fotógrafos, a KodakCoin, e as acções da empresa dispararam de imediato, chegando a escalar 128%.

 

Muitas empresas estão, de facto, a navegar a onda das moedas digitais. Em finais do ano passado, segundo uma compilação da Reuters, imensas empresas viram as suas acções escalarem em bolsa muito à conta de passarem a ter palavras como "cripto" ou "blockchain" nos seus nomes.

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