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Um ano depois de "abandonar" o euro, como está a Suíça?
Quando ninguém esperava, o banco central da Suíça anunciou o fim da ligação entre o franco suíço e o euro. Foi há um ano e provocou um verdadeiro "tsunami" nos mercados financeiros.
2016 ainda agora começou e já trouxe várias preocupações aos investidores. Tem sido o pior arranque de ano de sempre em vários activos, à custa das preocupações em torno do rumo da economia chinesa. Mas há um ano, os investidores mundiais foram também confrontados com algo inesperado: o Banco Nacional da Suíça ditou o fim da ligação entre o franco suíço e o euro. Um ano depois, nem tudo parece tão mau.
Depois de mais de três anos a controlar a flutuação do franco suíço face à moeda única europeia, a autoridade monetária da Suíça surpreendeu tudo e todos ao deixar cair o "cap" de 1,20 francos por euro – o limite que a divisa da Suíça podia atingir – nas primeiras horas de negociação do dia 15 de Janeiro de 2015. Esta decisão foi vista como um movimento para antecipar as medidas de estímulo à Zona Euro que o Banco Central Europeu (BCE) acabou por anunciar pouco mais de uma semana depois, o que colocaria demasiada pressão sobre o banco central suíço.
O impacto nos mercados não se fez esperar. A moeda helvética disparou 18,88% e o euro afundou 29%. Nos mercados accionistas, a bolsa de Zurique viveu a pior sessão desde 1988, ao desvalorizar mais de 10%. "Ninguém que tinha ligações ao franco, a 15 de Janeiro, vai esquecer esse dia", frisa à Reuters Tim Mueller, "trader" do mercado cambial no Zuercher Kantonalbank, que conta com uma experiência de 28 anos.
Os impactos chegaram a outros países e tiveram consequências duradouras. Um dos mais afectados foi a Polónia, que tem uma grande percentagem de créditos à habitação indexados à moeda suíça. Com a valorização do franco face ao zloty, as prestações destes empréstimos aumentaram de forma expressiva e depois de vários meses de discussão ainda não está definido qual é a percentagem de perdas decorrentes da conversão destes créditos que os bancos (incluindo o Millennium Bank detido pelo BCP) terão que suportar. Ainda que o presidente da Polónia tenha apresentado esta sexta-feira, 15 de Janeiro de 2016, uma proposta legislativa para que os bancos cheguem a acordo com os clientes ou, então, apliquem uma taxa de câmbio, que será ainda determinada, para efectuar a conversão dos créditos para a moeda local.
Mas, um ano depois, o franco suíço é agora uma das moedas mais estáveis do mundo, lembra a Reuters. Isto porque a taxa de juro dos depósitos continua em valores negativos, nos -0,75%, e as intervenções do banco central da suíça têm mantido a divisa a negociar em torno dos 1,08 euros. O Banco Nacional da Suíça continua a defender que a moeda está "significativamente sobreavaliada", mas num nível que é suportável pelos exportadores para a Zona Euro.
E, na negociação cambial, depois da decisão inesperada, a percepção dos investidores de que a autoridade monetária estava a conseguir os seus objectivos, diminuíram os movimentos especulativos com o franco suíço. Desde então, a moeda sobe mais de 10% face ao euro, sendo que a moeda única cai perto de 8% transaccionando em torno dos 1,09 francos por euro. Mas o banco central terminou o ano com perdas recorde de 23 mil milhões de francos suíços (21,01 mil milhões de euros), com a valorização da moeda a penalizar o valor dos seus activos.
Ainda assim, a Bloomberg relembra que existem sinais positivos um ano depois da decisão do banco central. Por um lado, com os custos de importação em queda, o índice de preços no consumidor desceu 1,1%, no ano passado, a maior queda desde 1950. E o banco central estima que voltem a cair este ano antes de voltarem a subir em 2017, mas a descida dos preços são uma "parte necessária do processo de ajustamento" para que a economia se torne competitiva, sublinhou, esta semana, Andrea Maechler, membro do SNB.
Quanto ao ritmo da economia, a recuperar da recessão, o banco central antecipa um crescimento "um pouco abaixo" de 1%, em 2015, e um avanço de 1,5%, este ano. "À primeira vista, não parece tão mau – evitaram uma recessão técnica no ano passado, as exportações não colapsaram e o mercado de trabalho ainda parece sólido", explicou à Bloomberg Alexander Koch.
Mas "ainda pensamos que haverá quedas. Depende dos desenvolvimentos cambiais", concluiu o economista do Raiffeisen Schweiz. E o banco central continua a enfrentar a pressão de políticos e empresários para que faça mais para proteger a indústria de um franco forte.
O "cap" no mercado cambial é a expressão utilizada para o limite que uma moeda pode atingir. Ou seja, quando um banco central impõe um "cap" está a impedir que a moeda ultrapasse o limite imposto, usando as suas reservas para o efeito. Na Suíça, o banco central decretou que a moeda do país não podia baixar da fasquia de 1,20 francos por euro. Assim, garantia a moeda num nível confortável, receando os efeitos negativos na economia do país. Sem esta medida, o franco suíço não tem limite para variar.