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Crise em Itália afunda bolsas europeias com investidores a fugirem do risco
A bolsa portuguesa está a ser das mais penalizadas pela crise em Itália. O índice da bolsa de Milão caiu para mínimos de nove meses e afunda 13% em três semanas.
A crise política em Itália está a ter um forte impacto na negociação bolsista desta terça-feira, com os índices europeus todos no vermelho e a volatilidade em forte alta, com os investidores a fugirem dos activos de maior risco devido ao regresso dos receios com o colapso do euro.
O Stoxx 600 desce 1,78% para 382,89 pontos, sofrendo a maior queda em 12 meses. Entre os índices nacionais o italiano é o mais castigado, com uma queda de 3,32% para 21.203,52 pontos, tendo já negociado em mínimos de nove meses. Em três semanas o índice italiano afunda 13%.
A bolsa portuguesa segue de perto este desempenho negativo, com o PSI-20 a afundar 2,69% para 5.364,93 pontos. O índice português está a cair pela quinta sessão consecutiva, período em que acumulou uma queda de 7,3%.
"A falta de uma solução óbvia para este impasse [em Itália] é perturbador, especialmente tendo em conta a dimensão da economia italiana e o stock de dívida do país", refere o Morgan Stanley numa nota enviada ontem a clientes, onde alertava que o mercado não estava a reflectir devidamente o problema em Itália.
A descida das acções é generalizada na Europa, com todos os índices nacionais a caírem mais de 1%, com o sector financeiro a comandar as perdas. O índice Stoxx para a banca europeia afunda 3,42%, com todos os 48 membros em terreno negativo. O BCP é o mais penalizado, com as acções do banco português a afundarem 7,49%. Seguem-se os bancos espanhóis e italianos com quedas acima de 5%.
"Os bancos com menor exposição a dívida soberana, níveis mais reduzidos de crédito malparado [NPL] e rendibilidade mais elevada parecem os mais defensivos neste ambiente", referem os analistas do Citigroup, que colocam no pólo oposto os "bancos de média capitalização, que são mais vulneráveis devido à exposição à divida soberana, NPL mais elevados e rendibilidade mais baixa".
Volatilidade dispara. Investidores fogem do risco
Num dia em que até nem foram divulgadas notícias relevantes sobre Itália, os investidores estão claramente a fugir dos activos de maior risco. Os juros da dívida italiana estão a disparar em todos os prazos, tendo atingido máximos de quatro anos acima dos 3%.
Nas maturidades mais curtas as subidas são ainda mais acentuadas (excedem os 100 pontos base nos prazos abaixo de 5 anos), reflectindo os receios do mercado com a possibilidade de os partidos populistas de Itália ganharem força nas próximas eleições e provoquem a saída de Itália da Zona Euro (onde são a terceira maior economia).
Como habitual nestas alturas de turbulência, os investidores estão a refugiar-se na dívida alemã (juros das obrigações a 10 anos caem mais de 10 pontos base para 0,21%). O dólar também beneficia, estando o euro a renovar mínimos de 10 meses abaixo dos 1,16 dólares.
O JPMorgan está a aconselhar os clientes a saírem das acções italianas e refugiarem-se na bolsa alemã.
Outro indicador do nervosismo dos investidores está na evolução do índice que mede a volatilidade. O VStoxx, a versão europeia do norte-americano VIX, conhecido por índice do medo, atingiu esta manhã o nível mais elevado do último ano.
"O que o mercado vai tentar perceber é se os partidos do governo irão aprovar esta nomeação, levando as yields italianas a estabilizar e os mercados a recuperar, ou se pelo contrário, se não houver consenso, as bolsas europeias serão arrastadas pela possibilidade de eleições antecipadas", Carla Maia Santos, da corretora XTB.
Investidores temem eurocépticos a liderar Itália
A justificar este desempenho negativo está a situação política em Itália. Os italianos foram às urnas a 4 de Março, e o Movimento 5 Estrelas ganhou as eleições. Contudo não conseguiu maioria. As negociações com a Liga decorreram e as duas forças políticas conseguiram escolher um nome para primeiro-ministro. Giuseppe Conte foi o escolhido. E aprovado pelo presidente da República, Sergio Mattarella. Contudo, a escolha para a pasta das Finanças foi chumbada pelo chefe de Estado. Conte escolheu Paolo Savona para o Ministério da Economia. Mas Mattarella rejeitou ter à frente das Finanças do país um eurocéptico que defende a saída de Itália da Zona Euro.
Esta situação levou a que Conte desistisse de formar governo. Mattarella foi rápido da solução. Convocou Carlo Cottarelli, um ex-responsável do Fundo Monterário Internacional (FMI) para o convidar a formar governo. Um convite que foi aceite.
Cottarelli aceitou e impôs uma condição: o Parlamento terá de viabilizar o Executivo através de uma moção de confiança. Caso contrário Itália ficará, de novo, sem governo. Num cenário em que o Parlamento aprova este governo apartidário, as eleições deverão ser convocadas para o início de 2019. Se a moção for chumbada, então deverão ser convocadas eleições ainda em Agosto.
Os receios dos investidores estão relacionados precisamente com as eleições. Ou melhor, com o potencial reforço do poder dos partidos eurocépticos.