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Bava não devolveu todo o dinheiro a Salgado

De acordo com o interrogatório a que foi sujeito no âmbito da Operação Marquês, Zeinal Bava não devolveu toda a quantia que recebeu de Ricardo Salgado, através da ES Enterprise. Quanto às operações que fez na PT, o gestor garante que nada faria de diferente.

Pedro Elias
27 de Julho de 2017 às 13:59
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Zeinal Bava, ex-presidente da PT e da Oi, foi confrontado, no interrogatório no âmbito da Operação Marquês, com os pagamentos feitos por Ricardo Salgado. Foram vários e Bava admitiu que devolveu uma parte, mas não a totalidade. Mas garante estar disponível para o fazer, segundo o interrogatório que aconteceu a Fevereiro deste ano, revelado na edição desta quinta-feira pela revista Sábado

Segundo a investigação, Zeinal Bava recebeu, entre 2007 e 2012 um total de 25,2 milhões de euros, através de contas fora de Portugal – na Suíça e Singapura – e transferidos pela ES Enterprise, empresa do universo Espírito Santo. O primeiro pagamento data de Outubro de 2007 e terá sido de 6,7 milhões; o segundo, em Janeiro de 2011, foi de 8,5 milhões; e o terceiro em Setembro de 2011 atingiu os 10 milhões de euros.

Num interrogatório anterior, Ricardo Salgado tinha confirmado a entrega a Bava de 18,5 milhões de euros dizendo que o objectivo era "evitar que os quadros da PT fossem trabalhar para empresas concorrentes", o que já na altura não correspondia à explicação que Bava tinha dado ao Expresso e Observador de que o dinheiro estava-lhe entregue fiduciariamente para que fosse utilizado, no futuro, na aquisição de acções da PT. Já então Salgado e Bava diziam que o dinheiro, os 18,5 milhões, tinha sido devolvido. 

Agora, no interrogatório a que foi sujeito – e no âmbito do qual saiu do Ministério Público arguido – Zeinal Bava volta a referir que o dinheiro era para ser utilizado na compra de acções da PT  que lhe estava confiado mas que não era para si. Às questões do procurador Rosário Teixeira e dos investigadores Inês Bonina e Filipe Costa, Bava assegurou que nunca se tinha sentido confortável com esta situação e garantiu que tinha insistido com Salgado para que esse acordo ficasse registado, o que só aconteceu mais tarde.

Mas porque só devolveu 18,5 milhões dos 25,2 milhões recebido, quiseram saber os investigadores. Faltava-lhe segurança jurídica, disse Zeinal Bava, por isso, só devolveu "aquilo que eu, legalmente, senti que fazia sentido devolver com as garantias que tinha. Se me disser, está disposto a devolver o resto? absolutamente disposto", declarou. Zeinal Bava, tal como o Negócios avançou, aderiu ao perdão fiscal para fazer entrar no país dinheiro que estava no estrangeiro. 

Assegurou, também, que só Bava sabia, na PT, desse dinheiro. Nem Henrique Granadeiro, que era o "chairman" e que chegou a acumular com a pasta de CEO, saberia. "O contrato era confidencial. Eu não tinha, não tinha autorização para falar com ninguém. (...) Nem o Granadeiro, nem ninguém".

Bava, alegando inocência, garante ter tentado devolver o dinheiro a Salgado, a título privado, tendo dito no interrogatório, de acordo com a Sábado, que lhe escreveu para o banco em Outubro de 2014 – Salgado já tinha saído do BES que em Agosto desse ano foi objecto de uma Resolução. "Mandei para o banco. Como já lhe disse, a casa dele eu só fui umas duas vezes ou três" (mais à frente diz também que nunca foi a casa de José Sócrates, nem sequer sabia exactamente onde morava o ex-primeiro-ministro).

Aliás, Bava por várias vezes faz questão de sublinhar que não recebeu o dinheiro, este apenas lhe foi confiado. 

Sobre os negócios que estão sob investigação – OPA da Sonae sobre a PT, cisão da PT Multimédia, venda da Vivo e entrada na Oi – Bava disse que não falava com José Sócrates, embora admita que tenha estado numa reunião em São Bento (onde disse não ter tido "grande intervenção"). Mas sobre os processos concluiu: "em relação a tudo que a gente falou sobre decisões da OPA, na venda da Vivo, no reajustamento da Vivo, etc, em nada, em nada eu faria diferente do que aquilo que fiz. Ok? Em nada".

No final, ficou a ideia de que Zeinal Bava poderá voltar a ser chamado para novo interrogatório na Operação Marquês. 

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