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Salgado assume pagamentos ao “sábio agrícola” Granadeiro e “garantia fiduciária” a Bava

Ricardo Salgado assumiu, no interrogatório a que foi sujeito no Ministério Público, que fez pagamentos a Bava e Granadeiro, mas garantiu não ter feito qualquer transferência cujo destino fosse o ex-primeiro-ministro José Sócrates, de acordo com as informações reveladas esta quinta-feira em vários órgãos de comunicação.

Sérgio Lemos/Correio da Manhã
02 de Março de 2017 às 13:24
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Ricardo Salgado assumiu os pagamentos feitos a Bava e Granadeiro. Os pagamentos aos dois gestores, através de contas da ES Enterprises, tiveram uma primeira fase em 2007, após a OPA da Sonae sobre a PT, resolvida a contenda do BES, e depois do spin off da PT Multimédia. Também assumiu pagamentos em 2010 e 2011 aos dois gestores.


Granadeiro terá recebido 6,5 milhões e Bava 6,7 milhões em 2007. Salgado explicou a Rosário Teixeira que pretendeu premiar Granadeiro pela vitória na OPA e também para comprometer os gestores com a estratégia da empresa, segundo o Observador. As explicações sobre estas transferências de 2007 não estão, no entanto, pormenorizadas nas notícias hoje vindas a público. A Visão diz mesmo que Salgado não sabia explicar a transferência para Bava em 2007.


Os dois gestores acabariam por receber mais dinheiro em 2010. Em Novembro de 2010, Granadeiro terá recebido mais 3,5 milhões de euros da ES Enterprises. Em 2011 recebeu mais 9,2 milhões de euros, e em 2012 mais 6,5 milhões de euros. No total em todos os pagamentos, incluindo o de 2007, Granadeiro terá recebido 25,7 milhões de euros da ES Enterprises.

Os pagamentos de 2010 e 2011, coincidindo com a venda da Vivo e entrada da PT na Oi, foram, no entanto, explicados por Salgado como pagamento de favores antigos do gestor no tempo em que a família do banqueiro decidira investir em negócios da cerâmica e que também serviria para pagar a aquisição de parte de uma quinta de Granadeiro, "um dos maiores sábios" da área agrícola e produtor de vinho, mas Salgado não soube especificar qual foi a quinta, segundo a Visão. A Sábado escreve, por seu lado, que Salgado atribuiu os pagamentos a Granadeiro pela ajuda dada pelo gestor antes de ir para a PT "na reorganização na área agrícola do grupo relacionada com a Comporta".

Já Bava terá recebido, em 2011, em duas transferências, um total de 18,5 milhões de euros, tal como o próprio já reconheceu. Salgado explicou esta transferência para Bava como "garantia fiduciária", que visava garantir um fundo para garantir que o gestor e os quadros que tinham ido para o Brasil para recuperar a Oi se mantinham na operadora, mas que tinha uma garantia de salvaguarda. Se a operação não se realizasse o dinheiro era devolvido. Bava devolveu-o. "Tudo até ao último cêntimo, incluindo juros".

Granadeiro e Bava já foram constituídos arguidos no âmbito da Operação Marquês, tal como Ricardo Salgado que ainda terminou o interrogatório comentando, segundo a Visão, a coincidência das datas de pagamentos aos gestores da PT com acontecimentos na própria operadora: "isto foi o diabo".

Já em relação a Sócrates, garantiu que nunca tinha falado com o ex-primeiro-ministro sobre a PT, lembrando até dois episódios que o tinham oposto a Sócrates: a venda da Vivo e o pedido de ajuda externa. Aliás Salgado garante que "não são verdadeiras as afirmações de qualquer tipo de relação de influência do primeiro-ministro da altura, o eng. José Sócrates, em relação a qualquer operação que fosse. Nunca falei com o José Sócrates sobre a história da PT, sequer. E muito menos entregar valores a um primeiro-ministro, portanto, subornos, directa ou indirectamente, por qualquer outra forma".

Bataglia não questionava Salgado

Os interrogatórios a Hélder Bataglia e a Ricardo Salgado, no Ministério Público, são esta quinta-feira, 2 de Março, revelados pelas revistas Sábado e Visão e pelo Observador. O depoimento de Bataglia, cujas conclusões já tinham sido reveladas pelo Expresso, é determinante na acusação a Salgado, a que o empresário luso-angolano dizia que devia favores e os pagava sem questionar. Salgado, por seu turno, diz que Bataglia se está a vingar. "Ele fazia o que queria", terá dito Salgado, de acordo com o relatado pela Sábado.

Os temas principais do interrogatório estão relacionados com pagamentos que Salgado teria ordenado tanto para Bataglia, cujo destino final seria Carlos Santos Silva (amigo de Sócrates) e José Pinto de Sousa (primo de José Sócrates), e para Bava e Granadeiro. Salgado tinha explicação para todas as transferências.

Para Salgado, as transferências para Bataglia tinham a ver com pagamentos para ele avançar, em África, com poços de petróleo, expansão imobiliária em Angola e para a comissão (3 milhões) que Bataglia reclamava por ter conseguido a licença para o BESA (Banco Espírito Santo Angola) em Angola. Foram, segundo esses meios de comunicação social, 22 milhões de euros. 15 milhões foram transferidos, como o Expresso já tinha revelado, em 2008, através de offshores para contas de Bataglia na Suíça.

"Foi o dr. Ricardo Salgado que, numa das minhas vindas a Portugal, pediu para eu passar lá no banco e pediu-me se podia fazer um favor, porque tinha uns compromissos em que tinha de pagar cerca de 12 milhões de euros. Disse-me se eu conhecia o Carlos Santos Silva, eu disse que sim, se tinha conta na UBS, eu também disse que sim, e se eu podia fazer esse pagamento. Eu disse ‘sim (…), mas se vais fazer esses 12 vê se vem mais algum devido à nossa dívida antiga’". Eram os tais 3 milhões por conta da ajuda pelo BESA. Bataglia garante que Salgado não lhe deu detalhe nenhum sobre essas transferências, ele também não questionou. Afinal, "ele pedia-me, eu devia-lhe favores, o maior de todos era apoiar-me na Escom, o segundo era se ele cumpria e me pagava as minhas compensações. (…) Em 2008, o dr. Ricardo Salgado pediu-me uma coisa dessas, para mim, era um favor que lhe estava a fazer (…) e não se dizia não ao dr. Ricardo Salgado naquela altura, como deve saber". Salgado defendeu-se, dizendo que nunca tinha ouvido falar de Santos Silva. "O Hélder Bataglia nunca me falou num Carlos Santos Silva, nunca me falou de nada! Ele fazia o que queira", terá dito Salgado, segundo a Sábado.

As declarações de Bataglia visam justificar porque não questionou as transferências. O empresário luso-angolano garantiu, ainda nesse interrogatório, que depois das transferências dava números de contas também na Suíça para Michel Canals (gestor das suas contas na Suíça) para fazer as transferências da sua própria conta para a de terceiros. O destino foi, segundo a investigação, contas de Joaquim Barroca, do grupo Lena, que Bataglia dizia desconhecer, já que achava que as contas eram de Carlos Santos Silva. Antes destas transferências para Santos Silva e Barroca, Bataglia transferiria fundos para José Paulo, de quem se diz ser amigo e primo de Sócrates. Bataglia diz ter emprestado dinheiro a José Paulo, cerca de 7-8 milhões de dólares, dívida que começou a ser paga em 2013. "Hoje deve-me muito pouco", disse Bataglia ao procurador Rosário Teixeira.

Bataglia diz que obedecia a Salgado e este diz que Bataglia tinha uma agenda própria. "Não tenho dúvida nenhuma que fomos completamente enganados em relação a duas coisas: o banco [BESA] e a Escom. E que o Hélder Bataglia foi um elemento determinante nisso". Salgado aproveita também para acatar Álvaro Sobrinho, que liderou o BESA, pondo-o no mesmo saco que Bataglia: "Pássaros com as mesmas penas voam juntos", terá dito no interrogatório, segundo a Visão.

O Ministério Público suspeita que todas estas transferências tinham como destinatário final José Sócrates. 

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