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Líder da Bosch fica "muito feliz" por aumentar salário aos "crominhos" portugueses

A concorrência pela mão-de-obra qualificada chega de várias empresas e países, mas Carlos Ribas prefere encará-la como um indicador positivo. Pelo menos na área tecnológica, Portugal deixou de ser um país "low cost".

Miguel Baltazar
António Larguesa alarguesa@negocios.pt 16 de Fevereiro de 2018 às 18:17

As maiores empresas dos sectores das tecnologias e da engenharia estão a ser "obrigadas a fazer revisões salariais para manter" os trabalhadores qualificados nos seus quadros, mas o presidente executivo da Bosch Portugal garantiu que até fica satisfeito por suportar esse aumento da despesa no final do mês.

 

"Eu fico muito feliz por isso porque significa que os nossos talentos são válidos não só em Portugal mas também noutros países, que estão a tentar caçá-los", justificou Carlos Ribas, dando o exemplo da concorrência por esta mão-de-obra qualificada, proveniente de países como Inglaterra, Alemanha, Holanda, Áustria e até do Liechtenstein.

 

Durante uma conferência organizada pelo Millennium BCP no Porto, em que o secretário de Estado da Internacionalização defendeu o aumento "sustentado" das importações, o gestor da operação portuguesa desta multinacional alemã relatou que, num mundo que está "muito efervescente", esses jovens são inteligentes e dedicados, mas quando recebem ofertas de projectos aliciantes, incluindo noutros países, "mudam facilmente de um lado para o outro".

 

"Os nossos talentos, as nossas pessoas, os nossos crominhos [sic] por quem estou apaixonado – porque são excelentes profissionais e grandes talentos –, estão-nos a ser retirados. E nós precisamos muito de reter os talentos e as competências no nosso país para depois exportarmos cada vez mais", sustentou Carlos Ribas.

 

Precisamos muito de reter os talentos e as competências no nosso país para depois exportarmos cada vez mais. CARLOS RIBAS, PRESIDENTE EXECUTIVO DA BOSCH pORTUGAL

E se na Alemanha praticamente não há desemprego, em Portugal as empresas também "começam a ter dificuldade em manter" esta mão-de-obra qualificada e "[fixá-la de uma forma sustentada no tempo". E concluiu que, pelo menos nesta área do conhecimento, "Portugal já não é conhecido por ser um país ‘low cost’".

 

Em Portugal, onde emprega quatro mil pessoas, exporta 95% da produção e gerou vendas internas de 1.100 milhões de euros no ano passado, o grupo germânico tem uma subsidiária da BSH Electrodomésticos (Lisboa); uma unidade que desenvolve e produz soluções de água quente em Aveiro; uma fábrica em Braga especializada em multimédia automóvel, onde está a investir quase 50 milhões de euros em Braga; e outra na área de sistemas de segurança e comunicação, tendo completado em Setembro de 2017 o alargamento da fábrica de Ovar.

 

Centros da Siemens empregam mais de mil em Portugal

 

A Siemens é outra multinacional alemã de referência a operar em Portugal, neste caso há 113 anos, tendo começado com os fornos eléctricos na Marinha Grande quando a indústria vidreira se instalou em Portugal. Teve depois negócios na área dos telemóveis, que passaram para a Nokia, e dos electrodomésticos, pelos quais ficou aliás conhecido.

 

Actualmente dedicada às soluções industriais e às competências na área de produção e distribuição energética, focada sobretudo no consumo e nos grandes clientes da indústria, a operação liderada por Pedro Pires de Miranda já emprega mais de duas mil pessoas em Portugal. Perto de 1.200 pessoas estão com o mercado nacional, Angola e Moçambique; e outras 1.080 nos vários centros de competências, sejam de serviços partilhados ou de áreas técnicas, onde convivem diariamente 46 nacionalidades e onde se falam 14 idiomas.

 

Os primeiros a serem instalados no país foram os serviços partilhados ("near-shoring"), que funcionam na prática como um "back-office" para várias divisões da Siemens a nível mundial, nos EUA, Europa e Asia. A prestar esses serviços tem já cerca de 600 funcionários, com o gestor a sublinhar que, além do emprego gerado "isto é importante porque cria uma massa crítica também para a atracção de outros centros".

Pedro Pires de Miranda, CEO da Siemens Portugal, apontou a qualidade do ensino, domínio de línguas e flexibilidade laboral como atractivos para acolher centros de competências.
Pedro Pires de Miranda, CEO da Siemens Portugal, apontou a qualidade do ensino, domínio de línguas e flexibilidade laboral como atractivos para acolher centros de competências. Siemens


E foi o que já começou a acontecer nesta segunda fase, que assenta em captar centros de competências tecnológicas. "Ou seja, já não vamos buscar às Universidades e Politécnicos licenciados em Gestão de Empresas, mas em Engenharia, em Tecnologias de Informação e especialidades muito específicas para os nossos clientes finais", detalhou. Nestes chamados centros de competências de exportação já emprega perto de meio milhar de engenheiros portugueses.

 

Durante os Roteiros Millennium Exportação, depois de o embaixador alemão alertar para o "valor simbólico" da Autoeuropa para outros investidores, o CEO da Siemens Portugal elencou os três elementos que convenceram a casa-mãe a instalar aqui esses centros. Além da facilidade em falar línguas e da qualidade do ensino que está ao nível do alemão do ponto de vista tecnológico e "talvez acima" do dos competidores checos, polacos e húngaros, apontou a flexibilidade dos empregados portugueses. "A nível da carga laboral, de trabalhar projectos dinâmicos – há uma curiosidade intrínseca dos portugueses – e da adaptação no trabalho com colegas de outras especialidades", somou Pedro Pires de Miranda.

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