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Embaixador alemão alerta para “valor simbólico” da Autoeuropa para outros investidores
O ambiente de investimento em Portugal pode ser prejudicado pelo conflito laboral em curso na fábrica da Volkswagen em Palmela, adverte Christof Weil, que deixa rasgados elogios à produtividade dos trabalhadores nacionais.
O embaixador da Alemanha em Portugal lamenta o conflito laboral que se tem arrastado na Autoeuropa depois de a multinacional de origem alemã ter decidido fazer um grande investimento na fábrica portuguesa para a produção de um novo modelo, que proporciona a contratação de mais de dois mil trabalhadores no país.
"As adaptações na produção têm de ser feitas. Espero que este conflito laboral seja resolvido, até porque a Volkswagen tem um valor simbólico para outros investidores e para o próprio ambiente de investimento em Portugal", avisou Christof Weil durante uma conferência organizada pelo Millennium BCP, no Porto.
O diplomata de 64 anos, que está colocado em Lisboa desde o Verão de 2016, deixou, porém, rasgados elogios aos trabalhadores "motivados, leais, produtivos, bem treinados, com uma atitude de resolução de problemas e competências linguísticas" que os investidores têm encontrado em Portugal. Com 400 empresas e cerca de 50 mil empregados, a presença germânica é sentida em sectores como a engenharia, automóvel, plásticos, óptica, maquinaria industrial ou farmacêutico.
Christof Weil apontou ainda que os salários em Portugal "desenvolvem-se moderadamente e continuam a ser competitivos" e destacou a produção industrial eficiente ou o apoio dos centros científicos e tecnológicos às empresas, particularizando o caso da cooperação entre a Bosch Car Multimedia e a Universidade do Minho, em Braga. "Há uma boa produtividade em Portugal, mesmo em comparação com a Alemanha", resumiu.
Perante uma plateia repleta de empresários e gestores nortenhos nos Roteiros Millennium Exportação dedicados à Alemanha, o embaixador aludiu ainda à crise política no país de origem. E admitiu que "nunca [testemunhou] algo como nos últimos cinco meses", período que o país atravessou, após as eleições em Setembro, sem conseguir formar um governo estável e em que traiu os princípios clássicos da "confiabilidade, estabilidade e racionalidade" nos alemães.
A grande coligação acordada a 7 de Fevereiro entre os conservadores da CDU/CSU e a SPD ainda aguarda a votação dos militantes social-democratas, agendada para 4 de Março. Se for aprovada, referiu o diplomata, "então os governos português e os outros ficarão aliviados", uma vez que a Europa é um dos principais temas na agenda. "Temos de usar os próximos quatro anos, até às eleições franceses, para fazer progressos em conjunto [a nível da governação europeia]", acrescentou.
"Portugal não pode ser uma moda Primavera-Verão"
A crise contribuiu para uma mudança de imagem de Portugal na Alemanha e o país está na moda naquela que é a maior economia europeia, havendo cada vez mais turistas daquela origem. "Mas esta não pode ser uma moda Primavera-Verão. Tem de ser todo o ano e cobrir vários sectores", advertiu João Mira Gomes. O embaixador de Portugal na Alemanha apontou a economia digital e a "grande escassez de mão-de-obra" como os dois maiores desafios naquele país, deixando também algumas recomendações, como "trabalhar melhor os factores de competitividade da economia portuguesa". "Na Alemanha ainda existe a noção de que investir ou contratar em Portugal é bom por causa dos baixos salários. Temos de transferir este discurso para o das competências e das qualificações. É isso que a Alemanha vai descobrindo quando olha para a mão-de-obra de qualidade e para a flexibilidade da produção em Portugal", concluiu o diplomata em Berlim.