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Proprietários "cépticos" quanto ao programa para a reabilitação urbana

O presidente da Associação Nacional de Proprietários duvida que os 800 milhões de euros de que fala o Governo cheguem aos pequenos e médios proprietários e avisa para o número excessivo de casas vazias em Portugal.

Miguel Baltazar/Negócios
28 de Março de 2016 às 11:13
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"Isto não é um problema de milhões." António Marques, presidente da Associação Nacional de Proprietários (ANP) referiu, em declarações ao Negócios, que a decisão importante a tomar é "para quem" se deve reabilitar as casas. "Há um milhão de casas a mais em Portugal", salientou o mesmo responsável. António Marques disse ainda que "em comparação com o mal-parado nos bancos, 800 milhões [para reabilitação] não é nada". 

O responsável garantiu ainda que já falou com o secretário de Estado, José Mendes, que em entrevista ao Negócios detalhou os planos do Governo para a reabilitação urbana e já lhe falou no problema do número excessivo de casas. E avisou ainda que falar de tantos milhões "atrai tubarões". Para o dirigente associativo, não é claro de que forma serão canalizadas estas verbas. "O secretário de Estado fala em 390 milhões da banca de retalho. Nem dá para classificar isto", lamentou, salientando que as instituições bancárias cobram juros de "agiota".

cotacao O secretário de Estado fala em 390 milhões da bacna de retalho. Nem dá para classificar isto.  António Marques Presidente da Associação Nacional de Proprietários


Mas a principal preocupação de António Marques passa por garantir que os fundos cheguem aos pequenos e médios proprietários, que a ANP representa, até porque "os grandes proprietários não precisam de uma associação. Mandam em tudo". O responsável deu o exemplo do programa "Reabilitar para Arrendar", lançado em Agosto de 2015 e cuja dotação de 50 milhões foi logo esgotada por apenas uma entidade, a Santa Casa da Misericórdia do Porto. António Marques disse que, estas razões, está "céptico" quanto ao sucesso deste programa.

Já Luís Lima, do lado dos promotores, realçou que, depois de uma reunião com o governante, ficou com a convicção que "o mercado da reabilitação urbana será uma das preocupações deste Executivo, que tem demonstrado estar a reunir todos os esforços para a sua dinamização". O presidente da APEMIP - Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal tem opinião contrária à de António Marques. "O valor avançado para apoio à reabilitação é muito positivo, e revela a vontade deste Governo em promover este mercado, mas é importante que estes fundos cheguem, equitativamente, à generalidade das famílias e pequenos e médios proprietários".

Para o dirigente associativo, "a situação de retoma do sector imobiliário a que o nosso país assiste, faz com que estejam reunidas todas as condições para que 2016, seja, finalmente, o ano da reabilitação urbana, e a prova disso são os dados que demonstram que em 2015, a grande maioria das aquisições de activos imobiliários foi feita sem recurso a crédito bancário, demonstrando a importância crescente do investimento privado", referiu. 


Construção garante procura


Manuel Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário, acredita que "haverá certamente" procura dos investidores para as operações de reabilitação urbana. O dirigente associativo referiu que "pôr em marcha, neste momento, este instrumento financeiro é fundamental e irá mobilizar e dimensionar a reabilitação dos projectos". Reis Campos disse que oportunidades de investimento "não faltam".


O responsável tem sido dos que mais tem pedido uma dinamização deste sector, para ajudar a compensar a queda na construção de casas novas. Reis Campos, que também preside à AICCOPN (Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas) tem sido responsável pela publicação de vários barómetros sobre este segmento.


Em Fevereiro, de acordo com o inquérito mensal à Reabilitação Urbana realizado pela associação, "verificou-se um aumento homólogo trimestral de 23,4% no nível de actividade, acompanhado por um crescimento de 2,5% no índice que mede a carteira de encomendas, no mesmo período", segundo o documento.


O nível de confiança também subiu, com um crescimento homólogo trimestral de 7,9%. Houve ainda "um aumento progressivo da produção contratada em meses, ou seja, o tempo assegurado de laboração, considerado um ritmo normal de produção, o qual se situou, igualmente em Fevereiro, nos 7,3 meses, correspondendo a uma melhoria de 1,3 meses (40 dias) face ao mês homólogo de 2015", adiantou o mesmo inquérito.


Reis Campos tem apontado para um total de 3.000 milhões de euros que podem ser canalizados para a reabilitação urbana, com base nos investimentos apoiados pelo BEI e pelo Portugal 2020. 

O mesmo responsável traçou um cenário negro para as empresas de construção civil, caso não seja retomado o investimento público.  

(Notícia actualizada às 13.51 com as declarações de Luís Lima)

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