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Ricardo Salgado elege Carlos Costa como inimigo número 1

O ex-presidente do BES acusa o governador do Banco de Portugal de "julgamento sumário" e de estar a "construir o processo na imprensa". O antigo banqueiro até já levantou um incidente de suspeição contra Carlos Costa por "falta de isenção".

Pedro Elias
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O governador do Banco de Portugal (BdP) foi o alvo de todas as críticas de Ricardo Salgado na segunda audição do ex-presidente do BES na comissão parlamentar de inquérito. O antigo banqueiro acusou Carlos Costa de o ter feito vítima de "um julgamento sumário", responsabilizando-o pela queda do banco. E de estar a "construir na imprensa o processo" contra o ex-líder do banco, com a divulgação "gota a gota" dos resultados da auditoria forense, encomendada à Deloitte.


Mas ainda antes do regresso ao Parlamento, os ataques de Salgado a Carlos Costa já tinham passado das palavras aos actos. Em Fevereiro, o antigo banqueiro levantou "um incidente de suspeição" contra o governador do Banco de Portugal, por "manifesta falta de isenção". Isto depois de o supervisor ter comunicado ao ex-líder do BES um projecto de decisão de um processo em que Salgado é responsabilizado pelo agravamento da situação financeira do banco.


"Solicitei ao Banco de Portugal a consulta do processo administrativo" e, segundo o gestor, foi-lhe dito que não havia nada para consultar a não ser o projecto de decisão.


"Aguardo há mais de um mês a decisão dos restantes membros da administração do Banco de Portugal, apesar de terem oito dias para responder a incidentes de suspeição", revelou Salgado para demonstrar que está a ser vítima de um ataque de Carlos Costa.
Para o antigo banqueiro, "o julgamento sumário" do supervisor contra si começou a 3 de Agosto, quando o governador falou de "esquemas fraudulentos" como sendo a causa por trás da necessidade de aplicar uma medida de resolução ao BES. Houve uma "pré-condenação anunciada de viva voz e em directo", criticou.


Depois da resolução do banco, o Banco de Portugal passou a construir o processo contra o antigo líder do BES através da comunicação social, alega Salgado. "É inadmissível que o BdP esteja a construir o processo na imprensa para uma condenação já decidida", respondeu irritado quando questionado sobre se recebeu dinheiro do BESA. Uma questão que surgiu depois de o segundo bloco da auditoria forense que o supervisor pediu à Deloitte ter concluído que houve transferências de fundos do banco angolano para sociedades "offshores" de antigos responsáveis do BES e do BESA, entre os quais o próprio Salgado.


As críticas do antigo banqueiro ao BdP concentraram-se ainda nas conclusões da auditoria forense, sobretudo do primeiro bloco – quanto à segunda parte, relativa às relações entre o BES e o BESA, Salgado alegou não ter tido tempo de a ler, já que foi divulgada 48 horas antes desta audição. Um "timing" de divulgação que também criticou perante os deputados. E igualmente com o supervisor na mira.


"A grande maioria dos ‘findings’ [conclusões da auditoria forense] não estão bem", denunciou o ex-presidente do BES, criticando o facto de a Deloitte considerar uma desobediência às exigências do Banco de Portugal o reembolso de papel comercial do GES a certos clientes do banco. Salgado garante que só foram feitos pagamentos a clientes de retalho. "A lista de clientes foi enviada e aceite pelo Banco de Portugal", esclareceu, acrescentando que os movimentos na conta dedicada ao papel comercial ("escrow") eram comunicados "diariamente" ao supervisor.


Perante a sucessão de críticas do antigo banqueiro à autópsia ao BES, que na sua intervenção inicial tentou rebater quase todas as conclusões da auditoria, o deputado do PS, Pedro Nuno Santos, perguntou: "Porque não participou na auditoria forense?" Salgado respondeu: "Fiquei profundamente chocado com o julgamento sumário que o governador fez no dia 3 de Agosto, acusando a administração do banco dos maiores desvios de capitais. A partir daí recusei-me a participar".

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