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Projecto da Segunda Circular "peca por excesso de optimismo"

Nunes da Silva, que já foi vereador da Mobilidade na Câmara, não acredita que o polémico projecto da autarquia para a Segunda Circular tenha condições para reduzir o tráfego naquela via e aponta problemas de segurança.

02 de Fevereiro de 2016 às 12:07
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Fernando Nunes da Silva, professor do Instituto Superior Técnico (IST) e antigo vereador de Mobilidade da Câmara de Lisboa não tem dúvidas que o actual projecto da Câmara para a Segunda Circular, que tanta polémica tem dado, precisa de ser alterado, por "razões de segurança" e porque "peca por excesso de optimismo".


Ainda que reconheça que a autarquia já levou a cabo algumas alterações ao projecto, Nunes da Silva apresentou um documento, na reunião da Ordem dos Engenheiros que teve lugar na semana passada, em que aponta fragilidades ao processo.

cotacao O discurso nunca foi contra a requalificação da Segunda Circular. 
Nunes da silva Professor do IST, Urbanista


Ao Negócios, o professor garante que "o discurso nunca foi contra a requalificação da Segunda Circular". No documento, recorda que o projecto de engenharia rodoviária, de Dezembro de 2015, "vem reestabelecer as vias de aceleração e desaceleração nos nós da Segunda Circular, mantendo assim a quarta via à direita da faixa de rodagem, bem como aumenta a largura das outras três vias por sentido dos actuais 3,20 metros para os 3,25 metros".


Apesar disso, o professor não acredita nas estimativas de tráfego para a futura Segunda Circular, depois da requalificação. "Estes ganhos de fluidez não deverão ser suficientes para absorver os aumentos de tráfego gerados pelo acréscimo de procura no aeroporto de Lisboa, além de que, com as premissas do projecto rodoviário, os autores do estudo de tráfego apontam agora para uma diminuição de apenas 8% no volume diário de veículos em circulação na Segunda Circular", explicou.


Para Nunes da Silva, estes dados pecam por "excesso de optimismo", dado que partem "do pressuposto de que 450 dos 850 veículos desviados da Segunda Circular passarão a utilizar a CRIL e o Eixo Norte-Sul para depois entrarem ou sair de Lisboa", ideia com a qual não concorda. "Nem a diferença de velocidade é suficiente (10 quilómetros por hora) para anular a maior distância a percorrer, nem essas vias têm condições de fluidez de tráfego nos períodos de ponta, pelo que não constituem de facto alternativas".


Problemas de segurança


O outro ponto de discórdia é o separador central arborizado que a autarquia pretende. Nunes da Silva garante que vai potenciar "atravessamentos de peões" que no passado já foram fatais para algumas pessoas. Além disso, as árvores escolhidas "não são adequadas", explica o professor do IST.


"A própria escolha de árvores de grande porte (para mais de folha caduca e frutos de baga) e de lancis de pequena altura, não só constitui um problema em termos de aderência no Outono e em períodos de chuva, como não evitam o risco de mudança de faixa de rodagem em caso de despiste e agravam a gravidade dos acidentes em caso de colisão com o separador", salienta Nunes da Silva no documento que apresentou na discussão pública.

cotacao A própria escolha de árvores de grande porte é um problema. 
Nunes da Silva Professor do IST, no documento da duscussão pública


Além disso, "esta largura do separador e a facilidade da sua transposição por peões, acaba por funcionar como um verdadeiro incentivo à travessia da Segunda Circular pelos peões". Nunes da Silva recomenda que se opte por "um separador central com uma largura de 2 metros e com arbustos".


Os problemas colocados pelas obras e falta de alternativas são também abordados no documento. Aliás, as próprias alternativas precisavam de ser intervencionadas.


O professor sugere ainda que se retome "o projecto P+R ("estacione e prossiga em TC"), incentivando os automobilistas a estacionar o seu automóvel nos parques de estacionamento existentes ao longo da Segunda Circular, Gare do Oriente, Sete Rios e Cidade Universitária, prosseguindo a sua viagem até ao ponto de destino em transporte colectivo". Este projecto, que tinha um custo de 49,5 euros mensais, acabou por ser abandonado, por ter sido "contrariado pela EMEL, a quem competia divulgar e gerir" a iniciativa.


O projecto de requalificação da Segunda Circular foi divulgado em Janeiro pela autarquia da capital, com um valor de 10 milhões de euros, com um prazo previsto de 11 meses de obras. Desde lá, choveram críticas que foram desde os automobilistas até aos pilotos dos aviões que circulam no aeroporto de Lisboa. O  Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves alertou para a possibilidade das árvores atraírem aves que colocariam em causa a segurança dos aviões.


Ao debate na Ordem dos Engenheiros, na semana passada, seguiu-se um promovido pela Câmara, esta segunda-feira, em que se falou de ciclovias, passeios e transportes colectivos na infra-estrutura.

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