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Belmiro de Azevedo: "A minha primeira tarefa na Sonae" foi "destruir para voltar a construir"
Agricultura, agro-alimentar e educação: são estas as novas apostas de Belmiro de Azevedo, conhecida que é a sua intenção de sair da administração do grupo Sonae a partir de 30 de Abril. “Saldo” de 50 anos na Sonae, feito pelo próprio, é “muito positivo”.
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Aquele que foi o líder da Sonae nas últimas quatro décadas, mesmo que desde 2007 apenas como "chairman", já tem o novo rumo traçado aos 77 anos. Belmiro de Azevedo, que em 1965 trocou "o primeiro emprego" na Efanor, pela Sonae, avançou esta quarta-feira, 11 de Março, em reunião interna na SGPS, o que prevê fazer no futuro próximo.
Segundo o discurso feito no evento de comemoração dos 50 anos na Sonae, que reuniu cerca de 300 colaboradores e convidados, o gestor explicou que irá dedicar-se "ao sector primário em Portugal, incluindo a primeira e segunda transformação de produtos naturais", que considera, acrescentou, "absolutamente crítico para o sucesso" de Portugal.
Sobre o universo empresarial que desenvolveu nos últimos 50 anos, o ainda "chairman" da Sonae SGPS afirmou: "continuarei também a zelar pelos nossos valores enquanto accionista [a Efanor, liderada pelo gestor, detém 52,65% da Sonae SGPS] e no âmbito do ‘Global Advisory Board’ , que a Sonae está a equacionar criar".
Esta entidade, revelou, que "deverá apoiar as principais decisões estratégicas do grupo em busca de novos negócios e novas tecnologias, com particular ênfase em outras geografias".
Finalmente, fora do universo empresarial, Belmiro de Azevedo elegeu a área educacional para o seu futuro. "Estamos a criar", avançou esta tarde, "um ‘think-tank’ de educação em Portugal, encabeçado pela Fundação [Belmiro Azevedo] ao qual dedicarei substancial do meu tempo no futuro".
Destruir para voltar a erguer
Em seis páginas de discurso, Belmiro de Azevedo fez o resumo do que foi a sua vida profissional, e também pessoal, nas últimas cinco décadas, o que se cruza inevitavelmente com o percurso do universo de empresas Sonae. Assumindo sucessos e fracassos.
"A minha primeira tarefa nesta empresa", disse, "consistiu em destruir para voltar a construir". Porque, justificou, "o que via" em 1965 "não servia para a Sonae".
O que era "imperioso" para a Sonae – sobretudo depois da revolução de 1974 – era "uma gestão completamente profissional", disse-o na altura a Pinto Magalhães. "O que veio a acontecer e me valeu pouca amizade por parte das pessoas da sua família", fez questão de salientar esta quarta-feira.
"Pior é sempre não decidir ou decidir a desoras", afirmou no seu discurso Belmiro de Azevedo, em que assumiu, contudo: "não tive sempre razão". E um desses casos, reconheceu, ficou demonstrado na "história recente da Sonae Indústria".
Houve "muitos sucessos durante esta história", mas também "insucessos", como "a distribuição no Brasil, o processo Portucel, a OPA sobre a PT" – "exemplos que deixaram cicatrizes" mas com os quais "soubemos aprender".
"Mas o saldo é claramente positivo", acredita. "50 anos depois, uma empresa que estava praticamente falida prepara-se para ser efectivamente a maior e mais importante ‘long-living company’ da história portuguesa", disse, "com vocação de perenidade, em ambiente aberto e com rigor, transparência e qualidade".
"Foi neste contexto que tomei a decisão de não me candidatar a integrar nenhum conselho de administração das sociedades cotadas que são participadas pela Efanor", concluiu.
A Efanor tinha já confirmado esta segunda-feira a intenção de Belmiro de Azevedo – que em 2007 tinha passado a liderança da comissão executiva ao seu filho Paulo Azevedo – de sair da administração da SGPS.
Sugere a empresa que controla o capital da SGPS dona dos hipermercados Continente, da operadora de telecomunicações Nos e do jornal Público, que Paulo Azevedo (actual CEO) e Ângelo Paupério, actual administrador financeiro da Sonae SGPS, passem a ser co-CEO. Para "chairman" é sugerido Paulo Azevedo. Os accionista reúnem-se em assembleia-geral no próximo dia 30 de Abril.