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Vítor Bento: Portugal é a “cobaia” das novas regras europeias da banca

Em entrevista ao Observador, esta quarta-feira, 27 de Abril, o economista criticou a união bancária e a Comissão Europeia pela maneira como está a ser tratado o problema da banca. Vítor Bento avisa que não se pode tomar a Europa como “garantida”.

Vítor Bento foi o primeiro economista a ser recebido pelo Presidente da República. No final do encontro afirmou que a 'economia precisa de estabilidade política, de propósitos para poder planear a prazo, com rigor e estabilidade financeira, de flexibilidade e de baixos custos de contexto'.
Miguel Baltazar/Negócios
Negócios 27 de Abril de 2016 às 09:51
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Vítor Bento não tem dúvidas: Portugal é a "cobaia" das novas regras europeias da banca. Em entrevista ao Observador, o economista salientou que "as regras em vigor hoje parecem indicar que antes de haver qualquer intervenção tem de haver bail-in de credores e, eventualmente, de depositantes. É claro que as regras estão muito pouco testadas — o único país que verdadeiramente testou as regras foi Portugal; Itália mais ou menos. Portugal tem sido uma cobaia nesse exercício de definição do quadro regulamentar", criticou.


O economista é muito crítico também do papel das instituições europeias nesta questão. "Estamos com um problema sério a nível europeu porque acho que a DG Comp [responsável pela Concorrência] tem um papel que é quase de ditadura ideológica. Eu percebo os problemas a que a DG Comp quer atender, mas estas coisas, como em tudo na vida, têm sempre algum grau de elasticidade e julgo que a forma como as ajudas de Estado são interpretadas é excessivamente restrita", atirou Vítor Bento.


Para o economista, o processo de construção da união bancária não foi bem conseguido. "A união bancária não caiu do céu — foi acordada pelos vários países, que na altura viam isso como a grande salvação da união monetária, de tal forma que aceitaram começar a construir uma união bancária pelo telhado. Transferiu-se poder de decisão mas manteve-se responsabilidade financeira", referiu.


Quanto à espanholização da banca, Vítor Bento defende que "o problema da gestão e do capital não é a nacionalidade das pessoas nem do capital". Para o economista, as consequências deste processo só podem ser nefastas caso sejam instituições com muito peso, como o BPI ou o Novo Banco. "As consequências só são significativas se a massa envolvida for significativa. Se estivermos a falar de quotas de mercado de 15, 20 e 25%, não tem importância. Se tivermos a falar de quotas de mercado de 60% tem implicações significativas porque o sector bancário é estruturante da economia", referiu o economista.


Vítor Bento não deixou de comentar a actuação do Banco de Portugal nos últimos anos. "Temos um defeito em Portugal, gostamos mais de discutir pessoas do que processos ou instituições", referiu o economista, que salientou que há questões que estão a influenciar a percepção de risco de Portugal. "Há sempre algum investimento oportunista, interessado em comprar activos desvalorizados. Mas capital que tenha um efeito no crescimento potencial da economia, está retraído. Porque ainda não é claro qual é o caminho de médio-longo prazo que este governo conseguirá assumir", justificou o economista.


O ex-presidente do Novo Banco está preocupado com a situação da Europa. "A economia é amoral e se temos uma situação em que os países devedores são obrigados a ajustar sozinhos, o conjunto de procura neste universo vai diminuir. A menor procura de Portugal, França, Itália, Espanha vai influenciar os outros países. O resultado é uma recessão ou, pelo menos, um crescimento medíocre e assimetricamente distribuído", lamentou.


E deixa um alerta: não podemos tomar a Europa como garantida. "Como em tudo na vida, a receita para a perda de alguma coisa é tomá-la como garantida e deixar de lutar por ela", salientou. 

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