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Imprensa portuguesa aplaude decisão encontrada para o BES mas critica Banco de Portugal
Os jornais nacionais consideram que, encontrada uma solução para o banco, é preciso apurar responsabilidades e que os responsáveis pela má gestão do Banco Espírito Santo devem prestar contas na justiça e na Assembleia da República.
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A intervenção estatal no Banco Espírito Santo (BES) foi recebida com sentimentos mistos pela imprensa nacional. Se por um lado, é aplaudida a solução encontrada para o banco, por outro, é criticada a actuação do Banco de Portugal por enviar sinais errados ao mercado.
No jornal Público, o editorial aplaude a "engenharia financeira que, apesar de deixar cair os accionistas, salvaguarda o dinheiro dos depositantes".
"Ao emprestar dinheiro ao Fundo de Resolução (e não ao BES directamente), o Estado minimiza as perdas que poderá incorrer no futuro e evita que o dinheiro emprestado tenha de ser contabilizado como défice".
No mesmo jornal, o jornalista Luís Villalobos aponta que a "instituição que funcionou como uma espécie de galinha dos ovos de ouro para os principais accionistas e várias empresas passou a ser uma galinha dos ovos podres".
Além de visar a instituição, o jornalista também aponta o foco na direcção de Ricardo Salgado e do regulador. "Como é que isso se passou ainda terá de ser mais bem explicado. Para já fica a ideia de que o responsável do galinheiro era também uma raposa, e que os vigilantes da quinta foram lidando com os buracos na rede à medida que estes iam aparecendo, até se perceber que havia mais buracos do que rede".
No Diário de Notícias, o editorial considera que deixou de "haver margem de erro: se houver mais alguma surpresa nas contas, fica tudo em causa, desde a administração do BES/Novo Banco, ao regulador, ao Governo e às próprias autoridades europeias".
No entanto, ainda existem muitas questões no ar. "Fica a grande dúvida: como foi possível ter-se destruído uma das mais sólidas instituições financeiras do país em tão pouco tempo e à vista de todos? A resposta deve ser dada pela justiça, pelo regulador e pelos ex-gestores. Nos tribunais e no Parlamento."
No jornal i, Ana Sá Lopes chama à atenção que, apesar das garantias dadas pelo Banco de Portugal, o BES acabou por cair por terra.
O Banco de Portugal de Carlos Costa, assim como o BES de Vítor Bento são visados, com a directora-adjunta a considerar que as instituições foram "dois exércitos paralisados durante demasiado tempo enquanto o BES se desfazia aos pedaços"
"A obsessão em separar o Grupo Espírito Santo do Banco Espírito Santo poderia ter boas razões, mas era uma escolha com um enorme problema: não tinha qualquer adesão à realidade", escreve a directora-adjunta da publicação.
"A situação era catastrófica e grave e por agora vai ser paga pelos do costume", acusa a directora-adjunta, sublinhando que até o empréstimo ser pago de novo à troika, a "responsabilidade" é dos "contribuintes".
Também no Diário de Notícias, André Macedo levanta várias questões. Primeiro, a ausência do Governo "no momento de ser anunciado ao país que o banco iria ser resgatado", pode provocar uma de duas situações.
"Se os depositantes e clientes do Novo Banco se mantiverem firmes, isso significa que a palavra do governador foi o bastante para tranquilizar o país", escreve o director do Dinheiro Vivo. "Mas se surgisse algum tipo de histeria, estou certo de que Passos se arrependeria de não ter dado a cara neste Domingo". Outra das questões prende-se com a necessidade de "perceber que juros e em que prazo terá de ser pago este empréstimo".
No Diário Económico, António Costa escreve que "alguém vai ter de explicar o que se passou, o que falhou, outra vez. Os reguladores, os auditores, uma comissão de inquérito, os tribunais".
O director do Económico também urge ao novo CEO do BES passar das palavras às acções. "Já não chegam palavras, é preciso conhecer o que Bento quer e vai fazer, tão depressa quanto possível."
O Correio da Manhã aponta que "esta nacionalização encapotada não é a melhor solução. E tem efeitos nefastos na pequena Bolsa portuguesa, cada vez mais uma micro bolsa", escreve o director-adjunto Armando Esteves Pereira.
Com o resgate ao BES, os fantasmas do BPN voltam a estar no ar, escreve, considerando que agora como então, o Banco de Portugal voltou a falhar na supervisão.
"Desconfia-se que esta tragicomédia seja uma reedição mais sofisticada do golpe BPN-SLN. Tal como nos crimes de Oliveira e Costa & companhia, o Banco de Portugal não viu o roubo. No BES só colou as trancas à porta depois do assalto".