Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

British Hospital: de Oliveira Costa à Fosun passando pelo Estado

Pertencia à SLN mas o Estado é que mandava no seu destino, graças aos créditos herdados do BPN. Foi assim que passou para um fundo belga, que o vendeu a uma sociedade de capital de risco, que por sua vez o alienou depois à Luz Saúde. Assim foram os anos mais recentes do British Hospital.

03 de Junho de 2017 às 10:00
  • ...

O Estado teve uma palavra a dizer nos anos mais recentes da vida do British Hospital, localizado em Lisboa. A unidade hospitalar de saúde privada da antiga Sociedade Lusa de Negócios está de passagem para as mãos da Luz Saúde, integrando assim a estrutura da Fosun.

Na prática, o hospital que pertencia ao universo do BPN, e que integrara o denominado Grupo Português de Saúde, foi comprado por uma empresa que, no passado, esteve no Grupo Espírito Santo. 

 

O desinteresse de 2015

 

2 de Novembro de 2015. A Luz Saúde, comprada um ano antes pela Fidelidade após a falência do Grupo Espírito Santo, assume-se interessada em aquisições. "A Luz Saúde continua no projecto normal de expansão, organicamente, como acontecerá com o Hospital da Luz, mas também continua a analisar oportunidades de aquisição, como aconteceu com Guimarães", dizia a presidente executiva, Isabel Vaz (na foto).
 

 


"Não está no mercado". Era assim que a líder do grupo se referia, em declarações ao Negócios, a um potencial interesse no British Hospital, fundado ainda no século XIX para a prestação de cuidados de saúde à comunidade britânica em Portugal. Para a antiga Espírito Santo Saúde, o British Hospital, que a par do centro de imagiologia IMI integrava a Galilei Saúde, não era uma prioridade. Pelo menos publicamente. 

 

A queda da SLN

 

Naquele final de 2015, o Grupo Galilei estava a cair. A antiga SLN, que era a dona do nacionalizado BPN, tinha dívidas de 1,3 mil milhões de euros ao Estado português, concentradas na Parvalorem e na Parups, sociedades públicas que ficaram com os activos considerados tóxicos do banco fundado por José Oliveira Costa. Para se escapar à insolvência, estava em curso um Processo Especial de Revitalização.

 

Um dos objectivos da Galilei era que a área de saúde, com o British e o IMI, escapasse à queda e servisse para pagar as suas dívidas. Mas a Parvalorem queria poder definir o futuro daqueles activos. A gestão do grupo, que tinha a SLN Valor, com Oliveira Costa como accionista, entrava em diferendo com a Parvalorem, comandada por Francisco Nogueira Leite.

 

Houve dois PER. Um deles, o da Galilei, foi chumbado pela Parvalorem no arranque de 2016. Logo, aí, a Galilei Saúde quis proteger-se da queda do grupo. Avançou ela própria com um PER. Também aqui o Estado era o maior credor, seguido do Montepio. A intenção da área de saúde com o PER era "virar a página do estigma BPN/SLN/Galilei, entrando num novo capítulo de devolução à plenitude da dinamização das suas unidades no mercado de saúde privada".

 

O plano de recuperação da Galilei Saúde foi aprovado. Mas mereceu contestação.

 

A recuperação da Saúde

 

Herdeira de créditos tóxicos do BPN, a Parvalorem tinha 20 milhões de euros a receber da Galilei Saúde. Nesse contexto, chegou a acordo com um fundo belga, o FPB Invest, para ceder aqueles créditos no PER, processo que passaria por uma conversão de créditos: ou seja, o fundo passaria a accionista da Galilei Saúde.

O contrato foi assinado mas houve mais interessados. Pelo menos quatro. Só que a sociedade estatal rejeitou as suas propostas: já tinha fechado tudo com os belgas, pelo que, se o PER avançasse, seria a eles que cederiam os créditos.


Um dos grupos que olhou para a Galilei Saúde foi o Montepio, segundo maior credor da Galileu Saúde que, segundo o Público, manifestou a sua discordância junto do Ministério das Finanças face ao modelo fechado pela Parvalorem. Não foi o único: um outro interessado que também fez essa exposição foi a Capital Criativo, sociedade de capital de risco liderada por Nuno Gaioso Ribeiro, também administrador do Benfica. 

 

Apesar disso, o negócio com os belgas do FPB avançou. Passaram, em 2016, a ser os donos da Galilei Saúde. "Nós somos investidores e empreendedores e não um fundo de investimento sem rosto, como foi mencionado na imprensa portuguesa nos últimos dias. Estamos aqui para desenvolver a actividade e não para especular à custa dos trabalhadores da Galilei Saúde", responderam, em entrevista ao Negócios, os gestores do FPB Invest Henri de Meyer e Yves Désiront, quando questionados sobre se o objectivo final era a venda do British Hospital e do IMI. Um deles não ficaria muito tempo. 

 

A Capital Criativo

 

O negócio ficou concluído em Fevereiro de 2017. O grupo belga ficou com 99% do capital da Galilei Saúde, depois da operação, que passou por uma reestruturação do balanço, que reduziu a dívida financeira.

 

E, nessa altura, a Galilei Saúde foi dividida: o centro de radiologia IMI ficou no FPB; o British não. A Capital Criativo assinou, naquela mesma data, um acordo para a compra dos hospitais daquela insígnia aos belgas. Ou seja, um dos interessados em adquirir a Galilei Saúde (ou parte dela) à Parvalorem, negociou directamente com o fundo FPB a compra do British.

 

O processo ainda demorou depois disso. Foi preciso, como em qualquer compra, a realização de uma "due dilligence", a auditoria feita habitualmente para se perceber a verdadeira situação financeira e patrimonial do activo comprado. Iniciada em Fevereiro, a mesma demorou alguns meses. A transmissão de acções acabou por só acontecer em Maio. Pelo meio, o Montepio, que queria uma palavra no processo, teve a sua dívida reclamada rembolsada. 

 

De novo, a Luz Saúde

 

Nesse mês percebeu-se que a Capital Criativo não iria ficar com o British para si – seria vendido à Luz Saúde, pertencente à Fidelidade, detida pela Fosun. Afinal, o interesse da empresa de saúde existia. 

 

Foi a 31 de Maio que se concretizou a venda do British pela Galilei Saúde à Capital Criativo. E nesse mesmo dia, veio o anúncio da dona do hospital da Luz: "A Luz Saúde, S.A. informa que assinou hoje um contrato de compra e venda com a Capital Criativo – SCR, S.A. através do qual adquiriu a totalidade do capital social e direitos de voto das sociedades British Hospital – Lisbon XXI, S.A. e Microcular – Centro Microcirurgia Ocular, Laser e Diagnóstico, S.A., e 90,41% do capital social e direitos de voto da sociedade British Hospital Management Care, S.A., sociedades que detêm, respectivamente, o British Hospital Torres de Lisboa, o British Hospital Saldanha Microcular e o British Hospital Management Care (integrado no campus das Torres de Lisboa)".

 

Foram duas vendas no mesmo dia. Agora, falta a luz verde da Autoridade da Concorrência à operação de concentração - uma transacção que não foi feita directamente entre duas empresas do sector da saúde, já que houve uma sociedade de capital de risco pelo meio. 

 

Ver comentários
Saber mais Luz Saúde British Hospital Fidelidade Fosun Galilei Galilei Saúde IMI
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio