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Almofada de capital do BES é superior à exposição directa e dos clientes de retalho ao GES

O BES diz que tem uma almofada de capital de 2.100 milhões de euros. Um valor que supera a soma da exposição directa que o banco tem às empresas do Grupo Espírito Santo (1.183 milhões de euros) e à exposição dos seus clientes de retalho (853 milhões de euros). A exposição dos clientes institucionais supera os 2 mil milhões de euros, mas sobre este montante o banco não tem responsabilidade.

Bruno Simão/Negócios
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A exposição directa do Banco Espírito Santo (BES) e dos seus clientes às empresas do Grupo Espírito Santo (GES), a 30 de Junho, tem uma dimensão inferior à almofada de capital que o banco afirma ter, tendo em conta o final do primeiro trimestre e o aumento de capital realizado em Junho.

 

Esta conclusão pode retirar-se de um comunicado emitido na noite de quinta-feira pelo BES, cerca de 12 horas depois da CMVM ter determinado a suspensão das acções do banco, numa altura em que estas desvalorizavam mais de 17%. A incerteza sobre a exposição do BES ao GES determinou uma queda acima de 4% no PSI-20 e uma pressão negativa nas praças europeias e norte-americanas. Bem como nos títulos de dívida pública de Portugal.

 

Neste comunicado, o BES começa por dizer que "detinha em 31 de Março de 2014, em base consolidada e considerando o montante do aumento de capital realizado em Junho, um buffer de capital de 2,1 mil milhões de euros acima do rácio mínimo regulamentar Common Equity Tier I", que é de 8%.

 

O banco não quantifica as estimativas das perdas potenciais com a exposição que tem ao GES, uma vez que este ainda não publicou o seu plano de reestruturação (o que deverá acontecer até ao final do mês). Contudo, a comissão executiva do BES, ainda liderada por Ricardo Salgado, "considera que as potenciais perdas resultantes da exposição ao Grupo Espírito Santo não põem em causa o cumprimento dos rácios de capital regulamentares".

 

A Comissão Executiva do Banco considera que as potenciais perdas resultantes da
exposição ao Grupo Espírito Santo não põem em causa o cumprimento dos rácios de capital
regulamentares

 
Comunicado do BES

Esta conclusão é corroborada pelos números que o BES depois detalha sobre a exposição directa e através dos seus clientes que tem ao GES, que no total ascende a 2.036 milhões de euros.

 

Num cenário extremo de incumprimento total do GES face ao banco e aos seus clientes, tendo em conta os números agora revelados ("provisórios" e "ainda não sujeitos a revisão pelos auditores externos"), o BES teria capital suficiente para suportar estas perdas e permanecer com um rácio de capital em linha com o mínimo exigido pelos reguladores.

 

O Banco de Portugal reiterou esta quinta-feira à tarde que a situação de solvabilidade do BES é sólida".

 

Exposição directa de 1.183 milhões do GES

 

Os activos que o Banco Espírito Santo detinha, a 30 de Junho, junto de empresas do Grupo Espírito Santo, totalizava 1.183 milhões de euros

 

O crédito concedido a estas entidades do GES soma 749,2 milhões de euros, existindo ainda aplicações e disponibilidades em instituições de crédito no valor de 357,7 milhões de euros, mais 71,4 milhões de euros em títulos e 4,5 milhões de euros em outros. Tudo somado, dá uma exposição total de 1.183 milhões de euros. Acresce a este total 56,9 milhões de euros de garantias prestadas a estas empresas do GES.

 

No comunicado o banco detalha que dentro deste total está uma exposição de 858,1 milhões de euros à ESFG, a holding financeira do GES e 224,3 milhões de euros à Rioforte e outras subsidiárias da área não financeira do GES.

 

Fora deste total da exposição directa ao GES, o banco acrescenta uma exposição bruta de 297 milhões de euros relativa ao Grupo ESCOM que, "segundo informação prestada pelo Grupo Espírito Santo, terá sido vendida, processo ainda não encerrado mas com conclusão prevista para breve".

 

Clientes de retalho do BES com exposição de 853 milhões de euros ao GES

 

No mesmo comunicado, o BES detalha também a exposição que os seus clientes têm ao GES, que soma 853 milhões de euros.

 

Os títulos de dívida emitidos pelo GES e detidos directamente pelos clientes de retalho do grupo BES correspondem a 255 milhões de euros em papel comercial emitido pela Espírito Santo International; a 342 milhões em papel comercial emitido pela Rioforte; a 44 milhões em papel comercial emitido por subsidiárias da Rioforte ES Saúde e ES Property); e a 212 milhões em papel comercial e obrigações emitidas pela ESFG e suas subsidiárias. 

 

Sobre este montante, lembra o BES, a ESFG ("holding" que detém 25% do capital do banco) emitiu uma garantia incondicional e irrevogável destinada a assegurar o cumprimento das obrigações da Espírito Santo International associadas aos instrumentos de dívida por esta emitidos e colocados através do Grupo BES junto dos seus clientes de retalho.

 

Esta garantia é de 700 milhões de euros e "abrange actualmente instrumentos de dívida emitidos por outras entidades do Grupo Espírito Santo, nomeadamente a Rioforte".

 

BES não se responsabiliza pelas perdas potenciais dos investidores institucionais

 

Num cenário de incumprimento do GES aos clientes de retalho do BES, é o banco que tem de assumir o reembolso do montante em dívida, uma vez que estes títulos de dívida foram comercializados aos seus balcões.

 

Estes investidores são considerados investidores qualificados de acordo com os critérios legais aplicáveis, e portanto com maior capacidade de avaliação de risco
 
Comunicado do BES

O mesmo já não acontece com os clientes institucionais do BES que compraram títulos de dívida do GES, pois neste caso o banco já não pode ser responsabilizado. Estes investidores são considerados investidores qualificados de acordo com os critérios legais aplicáveis, e portanto com maior capacidade de avaliação de risco".

 

No comunicado hoje emitido, o BES revela que o montante de títulos de dívida emitidos por empresas do Grupo Espírito Santo detido directamente por clientes institucionais e em custódia no Grupo BES, a 30 de Junho de 2014, ascendia a 2.011 milhões de euros.

 

Este total divide-se entre 511 milhões de euros emitidos pelo Espírito Santo International e 1.500 milhões de euros em títulos emitidos pela Rioforte e subsidiárias. O comunicado do BES não o revela, mas neste total deverá estar os 900 milhões de euros que a Portugal Telecom aplicou em dívida de curto prazo da Rioforte.

 

Depois dos esclarecimentos prestados neste comunicado, as acções do BES deverão voltar a negociar em bolsa esta sexta-feira, após a CMVM levantar a suspensão.

 

Exposição directa do BES ao GES:

 

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