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Winterkorn abandona cargo de CEO da Volkswagen
Martin Winterkorn vai abandonar o seu cargo enquanto CEO da Volkswagen. A decisão surge na sequência da falsificação de resultados por parte da fabricante alemã em testes de emissões em veículos com motores diesel (isto é, a gasóleo) nos Estados Unidos da América.
Rolou a primeira cabeça no escândalo Volkswagen. Martin Winterkorn vai abandonar as suas funções enquanto CEO da fabricante automóvel alemã. A decisão foi comunicada esta quarta-feira, 23 de Setembro, na sequência do caso da manipulação de resultados em testes de emissões em veículos com motores a diesel (isto é, a gasóleo) nos Estados Unidos da América.
"Aceito a responsabilidade pelas irregularidades que foram encontradas nos motores a diesel e, portanto, já solicitei ao Conselho de Supervisão que aceite o término das minhas funções como CEO do Grupo Volkswagen", anunciou o gestor de 68 anos.
No seu discurso, o responsável reconheceu tomar a decisão "pelo interesse da empresa", admitindo contudo não ter conhecimento "de qualquer irregularidade" da sua parte. "A Volkswagen precisa de um novo começo, também em termos de pessoal. Estou a abrir o caminho para esse novo começo com a minha demissão", reforçou.
Martin Winterkorn diz-se chocado com "uma má conduta em tal escala tenha sido possível no Grupo Volkswagen", que lidera desde 2007. Mesmo abandonando o cargo, o responsável garante que "a Volkswagen foi, é e será sempre" a sua vida.
Para o gestor, o "processo de clarificação e transparência" na empresa deve continuar, uma vez que esta é a "única maneira de ganhar de volta a confiança". Winterkorn despede-se garantindo a sua confiança na equipa da fabricante alemã quanto à superação desta "grave crise".
A imprensa alemã já tinha avançado esta terça-feira, 22 de Setembro, com a possibilidade de saída de Martin Winterkorn, mas a empresa classificou tal cenário como um "disparate". Já durante a manhã desta quarta-feira, o CEO esteve a responder às questões do Conselho de Supervisão da Volkswagen. O encontro culminou na sua saída.
Quanto ao sucessor, deverá ser preciso esperar até à reunião do Conselho de Administração marcada para a próxima sexta-feira, 25 de Setembro. Apesar disso, o nome do actual CEO da Porsche, Matthias Müller, tem sido apontado como o mais provável. Também o CEO da Audi, Rupert Stadler, entra agora nesta corrida.
Martin Winterkorn sai da Volkswagen depois de na Primavera passada ter protagonizado uma crise de sucessão com Ferdinand Piëch. Piëch, à altura presidente do grupo, questionou as capacidades de Winterkorn em continuar como CEO da fabricante automóvel. Os accionistas tomaram posição e Piëch acabou por apresentar a sua demissão.
Antes de se tornar CEO da Volkswagen, Winterkorn foi responsável pelo desenvolvimento técnico na companhia alemã. Nas duas funções, o responsável sempre privilegiou a protecção ambiental como uma prioridade, mesmo com os custos que tal poderia representar para a empresa. Outra das suas grandes metas era o reforço da Volkswagen em território americano. É a falha nesses ideais de expansão que ditam agora a sua saída.
A Volkswagen admitiu ter instalado um "dispositivo manipulador" que permitia adulterar os resultados dos testes de emissões em laboratório. Em contexto de estrada, os veículos com motores diesel poderiam produzir até 40 vezes mais emissões ao permitido por lei. Ao todo, terão sido 11 milhões de veículos onde foi instalada esta tecnologia.
A fabricante alemã já separou 6,5 mil milhões de euros para cobrir os custos deste escândalo. Mas poderá não ser suficiente. As coimas em território americano podem chegar aos 16 mil milhões de euros. Só em três sessões em bolsa, a empresa já perdeu um valor superior a 26 mil milhões. Há investigações em curso em vários pontos do globo.
Entretanto, a Volkswagen já informou que irá criar um grupo de trabalho para examinar este escândalo. Em comunicado, a Comissão Executiva da companhia adverte que novas consequências podem chegar nos próximos dias, uma vez que as investigações internas decorrem "a grande velocidade".
O órgão aproveitou para agradecer as "contribuições inestimáveis" de Martin Winterkorn, realçando que o mesmo não tinha conhecimento da manipulação em curso nos testes de emissões dos veículos a gasóleo.
"Todos os participantes no presente processo que resultou em dano imensurável para a Volkswagen estarão sujeitos a todas as consequências", acrescentou. Novas cabeças podem rolar já na sexta-feira.
"Estou chocado com os acontecimentos dos últimos dias. Acima de tudo, estou chocado que uma má conduta em tal escala tenha sido possível no Grupo Volkswagen.
Como CEO, aceito a responsabilidade pelas irregularidades que foram encontradas nos motores a diesel e, portanto, já solicitei ao Conselho de Supervisão que aceite o término das minhas funções como CEO do Grupo Volkswagen. Faço-o pelo interesse da empresa, embora não tenha conhecimento de qualquer irregularidade da minha parte.
A Volkswagen precisa de um novo começo, também em termos de pessoal. Estou a abrir o caminho para esse novo começo com a minha demissão.
Fui sempre conduzido por um desejo de servir esta empresa, especialmente os nossos clientes e funcionários. A Volkswagen foi, é e será sempre a minha vida.
O processo de clarificação e transparência deve continuar. Esta é a única maneira de recuperar a confiança. Estou convencido de que o Grupo Volkswagen e sua equipa vão superar esta grave crise."