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Escândalo Volkswagen. O que marca este terceiro dia?

A polémica com o "dieselgate" da Volkswagen continua a multiplicar caracteres na imprensa internacional. Da política ao ambiente, as reacções sucedem-se. A nuvem de poluição criada pesa um milhão de toneladas anuais. O impacto na fabricante alemã promete ser muito maior.

Bloomberg
23 de Setembro de 2015 às 16:04
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A falsificação dos testes de emissões dos veículos com motor diesel (movidos a gasóleo) da Volkswagen terá originado um milhão de toneladas de poluição adicional por ano. As contas são do The Guardian, assente nos 11 milhões de veículos que onde terão sido instalados os dispositivos manipuladores dos resultados.

O jornal britânico admite que o impacto das emissões pode ser superior na Europa, onde a presença do diesel é mais forte do que nos Estados Unidos da América, país onde o escândalo rebentou este fim-de-semana.


Os níveis de poluição adicionais provocados por este cenário pode variar entre os 237 mil e as 958 mil toneladas de óxidos de nitrogénio por ano, substâncias fortemente associadas ao desenvolvimento de doenças respiratórias.


Tal nível de poluição representa as emissões combinadas de todas as centrais energéticas, veículos, indústria e agricultura do Reino Unido. A título de comparação, a maior central energética da Europa Ocidental, Drax no Reino Unido, emite 39 mil toneladas por ano.

 

BERLIM APANHADA NO ESCÂNDALO

A dúvida surgiu, mas foi rapidamente esclarecida. No início deste ano, o partido ecologista alemão questionou o Ministério dos Transportes daquele país sobre a discrepância encontrada entre os níveis de emissões aquando dos testes em laboratório e durante a própria condução.


A resposta chegaria a 28 de Julho, numa carta onde o Executivo liderado por Angela Merkel reconhecia estar ciente desse problema e prometia aplicar regras mais rígidas a esse nível à indústria. O documento não fazia referência a nenhuma companhia específica ou manipulação deliberada.


Apesar disso, a resposta foi encarada como um conhecimento prévio de Berlim em relação a este assunto. O ministro dos Transportes já veio recusar as acusações, explicando o contexto da referida missiva.

 

ACELERAR LEIS EM TERRITÓRIO COMUNITÁRIO

O escândalo também trouxe mais pressão às entidades comunitárias. A Comissão Europeia já veio dizer que é "precoce" avançar com investigações a essa escala, apesar da contestação de países como França e Reino Unido.


Já esta quarta-feira, 23 de Setembro, a Comissão de Ambiente do Parlamento Europeu votou para que fosse acelerada a adopção de novas regras no que respeita aos limites à poluição produzida pelos veículos automóveis.


Os deputados estão cientes da discrepância dos resultados entre os testes realizados nos laboratórios e no chamado "mundo real", querendo por isso diminuir esse fosso. A nova legislação deve estar em vigor em 2017.

 

WOLFSBURG. A NOVA DETROIT?

O escândalo poderá ter consequências tremendas para a cidade onde está sedeada a Volkswagen, Wolfsburg. "Sem a Volkswagen, a cidade e a região inteira morreriam", admite a agência noticiosa. Wolfsburg foi criada em 1930 para produzir o Beetle (conhecido em Portugal como Carocha). Seria assim a nova Detroit, a cidade americana que declarou falência em 2013.


Com este escândalo num dos seus "pilares", é a própria viabilidade da marca Alemanha que está em causa. Não fossem os carros e o ambiente dois dos pilares da sua economia. O impacto nas exportações pode traçar-se a partir da seguinte escala: sete em cada dez veículos são vendidos fora das fronteiras alemãs.


O jornal alemão Die Welt classifica mesmo este acto da Volkswagen como o "mais caro acto de estupidez na história da indústria automóvel". A fabricante automóvel já reservou 6,5 mil milhões de euros para cobrir os custos. Nos Estados Unidos, as coimas podem chegar aos 16 mil milhões de euros. Em três dias a empresa já deslizou quase 38% em bolsa, perdendo 26,2 mil milhões de euros em valor.

 

DEFESA EXPERIENTE

A Volkswagen contratou o escritório de advogados Kirland & Ellis para acompanhar a empresa durante este escândalo. Esta sociedade assumiu a defesa da petrolífera BP na investigação criminal no caso Deepwater Horizon, na sequência do desastre petrolífero de 2010.


Também esta quarta-feira, 23 de Setembro, a ACEA veio reconhecer a gravidade da situação. Ainda assim, a associação automóvel europeia alertou que este é um caso isolado. "Não há evidência de que se trata de um problema à escala da indústria", reforçou. O compromisso com a redução de emissões mantém-se nos 15 fabricantes que a ACEA representa, incluindo a própria Volkswagen.


Apesar disso, as autoridades norte-americanas já fizeram saber que decorrem averiguações adicionais para verificar se outras fabricantes não terão falsificado os dados relativos às suas emissões nos veículos com motores diesel.


Já há quase uma dezena investigações a decorrer em países como os Estados Unidos e Alemanha e outros onde essa vontade está latente. É de França que vêm as críticas mais duras, com a ministra francesa da Energia, Ségolène Royal, a prometer que o país vai ser "extremamente severo" com a Volkswagen. E os privados também estão a juntar-se ao movimento.

 

A PORTA DE SAÍDA DE WINTERKORN

As reuniões multiplicam-se, mas só na sexta-feira, 25 de Setembro, é que o futuro de Martin Winterkorn como CEO da Volkswagen fica fechado. Para esse dia está marcada uma reunião do conselho de administração. Antes, o intuito da conversa era debater a extensão do contrato de Winterkorn até 2018. Agora poderá ser mesmo a sua saída, não estivessem alguns dos accionistas a fazer pressão nesse sentido.


A imprensa alemã avançou o nome de Matthias Müeller, actual CEO da Porsche, como o nome que se segue. Esta terça-feira, 22 de Setembro, Winterkorn veio novamente a público pedir desculpa pelo sucedido, mas não abandonou o cargo. De acordo com o New York Times, o salário do gestor de 68 anos atinge os 16 milhões de euros anuais.

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