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Merkel vence fragilizada com subida da extrema-direita

Grandes partidos afundam e extrema-direita entra no Parlamento como terceira força política. Merkel tem o seu pior resultado de sempre e perde margem de manobra na formação do governo.

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Antecipadas como não tendo grande margem para surpresas, as eleições gerais alemãs deste domingo acabaram, contudo, por surpreender.

As sondagens davam como certa a vitória de Angela Merkel (CDU/CSU), atribuíam o segundo lugar a Martin Schulz (SPD), e colocavam mais quatro partidos na câmara baixa do Parlamento alemão (Bundestag), com a extrema-direita em terceiro. Mas não previam uma quebra eleitoral tão profunda dos "grandes partidos" do centro (CDU e SPD) nem uma votação tão expressiva nos partidos mais pequenos, em particular na formação de extrema-direita, AfD. 

De acordo com as projecções, Merkel registou o seu pior resultado em quatro eleições federais disputadas: com 32,9% dos votos, segundo as projecções do DW, perde cerca de 10 pontos face a 2013 e fica até abaixo do resultado alcançado em 2005. À hora de fecho desta edição tudo apontava para o pior resultado de sempre também para a CDU.

Mas se a noite não foi tão feliz para Merkel como se esperaria, para Martin Schulz foi um pesadelo. Os socialistas registaram o pior resultado desde a Segunda Guerra, com apenas 20,8% dos votos, segundo o DW.

Juntos, os dois maiores partidos alemães representam agora pouco mais de metade dos eleitores que votaram, perdendo 148 lugares no Parlamento, segundo a projecção da ZDF. Repete-se assim uma tendência que se tem verificado um pouco por toda a Europa, tal como no Reino Unido, França, Espanha, Holanda, para dar alguns exemplos. O corolário disso são parlamentos mais fragmentados. Em vez de quatro, o parlamento alemão passa a contar, pela primeira vez, com seis partidos, após a entrada do AfD e o regresso dos liberais.

Extrema-direita é o terceiro maior partido

A grande revelação da noite eleitoral foi, como se previa, o partido de extrema-direita. O AfD não se limitou a entrar no parlamento, fê-lo com estrondo: segundo o DW, terá tido cerca de 13,1% dos votos (bastam 5% para entrar no hemiciclo), tendo sido a terceira força mais votada e a segunda em vários Estados do Leste alemão.

Este partido xenófobo e anti-islão beneficiou do descontentamento do eleitorado relativamente à política de portas abertas de Merkel que, entre 2015 e 2016, fez chegar à Alemanha mais de um milhão de refugiados.

Estas eleições marcam ainda o reforço do peso eleitoral dos pequenos partidos, com os liberais (FDP, 10,5%) a regressarem ao parlamento depois de há quatro anos terem ficado de fora, penalizados pelo desgaste provocado pela governação em aliança com Merkel. Verdes (8,9%) e a Esquerda (Die Linke, 8,9%) também crescem marginalmente. 

Merkel perde margem de manobra

À partida para o acto eleitoral de ontem, eram três os cenários de coligações governativas credíveis para Angela Merkel, que rejeita coligar-se ao Die Linke e ao AfD. Porém, a chanceler, que está a caminho de igualar o recorde de 16 anos na chancelaria detido pelo seu mentor, Helmut Kohl, ficou limitada a um cenário de coligação. Em primeiro lugar porque uma aliança com os liberais não permite alcançar a maioria absoluta, e em segundo porque Schulz e outros importantes dirigentes do SPD puseram de parte a possibilidade de reeditar a "grande coligação" com que Merkel governou em oito dos 12 anos como chanceler. Num debate televisivo, realizado após o fecho das urnas, entre os candidatos, Merkel tentou manter a porta aberta a um entendimento com o SPD dizendo que, "aritmeticamente", tal solução ainda é possível.

Mas se a recusa do SPD persistir, resta então a Merkel uma nunca tentada aliança entre democratas-cristãos (CDU/CSU), liberais e Verdes. Esta solução política levanta muitas dúvidas, dadas as divergências evidentes entre os dois partidos juniores, principalmente em questões europeias, sobretudo ao nível do reforço de integração da Zona Euro. Outra consequência de peso é a possível saída do popular e carismático ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, já que os liberais insistem que não farão parte de um governo sem controlarem a crucial pasta das Finanças.

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