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Ferro Rodrigues pede Europa menos centrada "nas décimas das finanças públicas"
"Se queremos mais Europa, não nos deixemos tolher pelo medo ou pelo cinismo, lutemos para que a nossa Europa volte a ser o farol dos direitos humanos", defendeu o presidente da Assembleia da República.
O presidente da Assembleia da República defendeu esta segunda-feira, 25 de Abril, uma Europa mais concentrada na solidariedade social e menos na disciplina financeira e disse que as grandes instituições mundiais não aprenderam com a crise financeira.
"Como é possível que, depois da brutal crise financeira de 2007 e 2008, os pilares do pensamento que a gerou – desregulamentar, liberalizar, privatizar, flexibilizar - ainda não tenham sido definitivamente relativizados e apagados, apesar de todo o arrependimento que então nos chegava do FMI, do Banco Mundial, da OCDE e da própria União Europeia?", questionou na sua intervenção no Parlamento, na sessão evocativa dos 42 anos da Revolução de Abril.
Num discurso em que usou palavras de Sérgio Godinho – "Só se pode querer tudo quando não se teve nada. Só quer a vida cheia quem teve a vida parada", Sophia de Mello Breyner ou Alexandre O’Neill, o deputado socialista pediu ainda uma Europa mais centrada nos temas sociais do que "nas décimas das finanças públicas".
"Debatamos tudo, mas tentemos nunca perder de vista mudanças que precisamos de fazer para trazer esperança a Portugal, falar a uma só voz na Europa. Uma Europa mais centrada na solidariedade social do que nas décimas das finanças públicas. Se queremos mais Europa, não nos deixemos tolher pelo medo ou pelo cinismo, lutemos para que a nossa Europa volte a ser um farol dos direitos humanos", defendeu.
Recordando os períodos do Processo Revolucionário em Curso (PREC) e da normalização democrática, entre 1974 e 1976, comparou a "abstenção mínima e alegria máxima" nas eleições desses anos e o actual envolvimento cívico para concluir que o contraste "é demasiado evidente para passar despercebido".
Contudo, para Ferro, a confiança institucional não tem apenas a ver com o desempenho dos actores políticos, lembrando a responsabilidade da justiça e da comunicação social e a necessidade de maior transparência das instituições públicas.
"Uma democracia não se faz só de partidos e deputados, faz-se também de um poder judicial respeitável e prestigiado, necessita de uma comunicação social pluralista e respeitadora das regras deontológicas.(...) Não se pode esperar dos portugueses respeito por quem não se dê ao respeito ou por quem não respeite as regras e as normas do Estado de Direito Democrático", afirmou.
Num elogio às propostas do Parlamento para a reforma do sistema eleitoral e o reforço da transparência nos titulares de cargos públicos, anunciou que vai levar à próxima conferência de líderes uma proposta de estratégia para reforçar a democracia digital no Parlamento e para "trazer mais a revolução digital para dentro da democracia".
"Precisamos de ser um Parlamento à altura do nosso tempo", afirmou, referindo o exemplo do Parlamento do Reino Unido, onde foram implementadas "formas inovadoras de caminhar para uma nova democracia".