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"Centrão" perde europeus e socialistas perdem cabeças
Os partidos pró-europeus ainda controlam. Já o domínio britânico do espaço anti-Europa está com os dias contados: a caminho de Estrasburgo está o exército eurocéptico vindo de França.
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Conservadores, socialistas e liberais – as forças partidárias que têm estado por detrás da construção europeia – nunca tiveram uma representação tão curta, mas ainda dominam. No novo Parlamento Europeu controlarão cerca de 60%, em vez de mais de 70%, dos 751 assentos, depois de terem perdido quase 80 lugares para as forças mais eurocépticas (caso da Esquerda Unida, onde se encaixam o Syriza grego e a CDU portuguesa) ou abertamente anti-europeias.
Os movimentos adversos à integração europeia deverão passar a ter dois grupos em Estrasburgo: um, como até agora, liderado pelo nacionalista britânico Nigel Farage, e possivelmente uma outra facção comandada pela francesa Marine Le Pen.
A nova configuração em Estrasburgo não impedirá os partidos pró-europeus de determinarem a agenda, mas isso exigirá que passem a concertar estreita e regularmente posições: em vez da clássica clivagem esquerda/direita, o Parlamento terá de passar a funcionar numa lógica de confrontação entre adeptos e adversários da integração europeia. O primeiro teste será a eleição do sucessor de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia, que começará a ser esta noite discutida em Bruxelas durante um jantar informal entre os líderes europeus.
As projecções mais recentes dos resultados oficiais - ainda parciais - confirmam a vitória dos conservadores do Partido Popular Europeu (PPE) que, ainda assim, perdem peso em Estrasburgo, ao recolherem 28,4% dos votos (contra 35,8% nas eleições europeias de 2009), elegendo 213 eurodeputados num total de 751.
Em conferência de imprensa, Jean-Claude Juncker, o candidato do PPE à sucessão de Durão Barroso, voltou nesta segunda-feira a reclamar a presidência da Comissão Europeia, pedindo, porém, consensos com o grupo socialista (S&D), que apresentou o alemão Martin Schulz como candidato. A menos de quatro pontos percentuais de distância do PPE, a família a que pertence o PS terá recolhido 25,3% dos votos, elegendo 190 deputados e encurtando a distância face ao PPE na nova configuração parlamentar.
Exército eurocéptico a caminho de Estrasburgo
No Reino Unido, tradicionalmente muito "europrudente", essa escalada foi vertiginosa. Embalado num feroz discurso anti-imigração, o UK Independence Party de Nigel Farage recolheu 30% dos votos. Na última legislatura, Farage liderou o grupo da Europa da Liberdade e Democracia (EFD), sétima força no PE, com 31 lugares de 12 países. Até agora, o EFD conseguiu 35 lugares nas eleições, permanecendo o único grupo anti-europeu no PE. Esse domínio britânico do espaço anti-Europa estará, porém, com os dias contados.
A caminho de Estrasburgo está o exército eurocéptico vindo de França, onde o Frente Nacional, partido de extrema-direita de Marine Le Pen, quadruplicou a percentagem de votos obtida em 2009 e garantiu um resultado histórico na casa de 25%.
Pelo caminho ficaram os destroços do partido socialista do presidente François Hollande, que recolheu o pior resultado de sempre – 14% – o que explica, em boa medida, a vitória da família conservadora europeia face ao grupo socialista que acabou por ter em Itália o seu melhor resultado. O Partido Democrata do primeiro-ministro Matteo Renzi obteve 40% dos votos, quase o dobro dos 21% do Movimento "Cinco Estrelas" de Beppe Grillo. Prestes a assumir a presidência semestral da União Europeia, a partir de Julho, Renzi tenderá a aproveitar este resultado para suavizar o Tratado Orçamental.
Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia vão reunir-se esta noite em Bruxelas num jantar informal para iniciar negociações sobre o novo presidente da Comissão Europeia, mas também outros altos cargos, designadamente o de presidente do Parlamento, do Conselho Europeu e de Alto Representante para a Política Externa - todos eles em fim de mandato. O luxemburguês Jean-Claude Juncker é o candidato melhor posicionado à sucessão de Durão Barroso, depois da vitória do PPE, mas só no próximo mês deverá sair "fumo branco".