Notícia
Partidos europeístas controlam agora 60% do novo Parlamento
A nova conjuntura vai obrigar os partidos pró-europeus a concertar estreitamente posições, e o primeiro teste será a eleição do sucessor de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia.
O Partido Popular Europeu (PPE), que integra o PSD e o CDS, foi o mais votado nas eleições europeias, com mais 25 mandatos do que o grupo socialista europeu (S&D), a que pertence o PS, que mantém o segundo lugar. A projecção mais recente, divulgada nesta manhã de segunda-feira, indica que o PPE elegerá 212 eurodeputados (menos 61 do que em 2009) e os socialistas 187, perdendo nove em relação à composição do parlamento cessante.
A Aliança dos Liberais e Democratas para a Europa (ALDE) continua a ser a terceira força política europeia, com 72 eurodeputados (menos 11 do que no parlamento anterior). Juntos, os três partidos que estiveram na base da construção europeia controlam agora 60% do novo Parlamento, perdendo 10 pontos percentuais face à configuração parlamentar anterior. Somados ao grupo dos Verdes (onde estão partidos favoráveis à integração europeia), passarão a sentar-se em Estrasburgo 526 eurodeputados (à partida) europeístas num total de 751, contra 612 na legislatura cessante.
Esta nova conjuntura vai obrigar os partidos pró-europeus a concertar mais estreita e regularmente posições, e o primeiro teste será a eleição do sucessor de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia.
Os actualmente não-inscritos - em que se inclui a francesa Frente Nacional, de Marine Le Pen, e outras formações de extrema-direita da Áustria e da Holanda - passam a contar com 39 eurodeputados. O líder dos populistas eurocépticos holandeses e a presidente da Frente Nacional francesa estão a negociar em Bruxelas a formação de um novo grupo parlamentar europeu.
De acordo com o diário holandês De Telegraaf, Geert Wilders e Marine Le Pen contavam com o Partido Nacionalista Eslovaco, que não conseguiu representação no Parlamento Europeu (PE), como previram as sondagens. Wilders e Le Pen poderão eventualmente ter o apoio dos Democratas Suecos (SN), do FPO austríaco, do Vlaams Belang belga e dos italianos da Liga do Norte, antes integrados no grupo eurocéptico liderado pelo UKIP de Nigel Farage.
Para formar um novo grupo no PE, os dois líderes precisam de 25 deputados - o que seria possível com uma aliança -, mas agora a dificuldade está em conseguir representantes de sete países europeus.
A FN foi o partido mais votado nas europeias em França e conquistou 24 lugares, enquanto o Partido da Liberdade (PVV) de Wilders foi o terceiro mais votado na Holanda, com quatro lugares, depois de ter perdido votos e assentos face às europeias de 2009.
Outra formação eurocéptica que venceu as eleições europeias foi o Partido Independentista do Reino Unido (UKIP) de Nigel Farage, que conseguiu 30% da representação do país. Na última legislatura, Farage liderou o grupo da Europa da Liberdade e Democracia (EFD), sétima força no PE, com 31 lugares de 12 países. Até agora, o EFD conseguiu 35 lugares nas eleições, permanecendo o único grupo anti-europeu no PE.
Há ainda partidos como o italiano Movimento Cinco Estrelas de Beppe Grillo, o anti-euro alemão AFD e os neonazis gregos da Aurora Dourada que integram pela primeira vez o PE e contam, para já, com 63 assentos.
"Se associarmos a esta abstenção elevada o facto de o Parlamento Europeu se encontrar agora sem uma maioria política clara e polarizado entre grupos políticos que não procuram o consenso, facilmente antevemos que os próximos 5 anos serão um desafio perigoso para o reconhecimento do Parlamento Europeu como grande espaço de discussão política", prevê Armando Rocha.
Na opinião do professor da Faculdade de Direito da Universidade Católica, a "fragmentação política que se verificou neste processo eleitoral permite antecipar que muitas discussões ficarão agendadas para as calendas gregas, designadamente o acordo comercial com os EUA, e que muitos projectos serão aprovados pelos mínimos olímpicos".