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Mais estímulos agora ou depois? As seis perguntas a que Draghi deverá responder

O presidente do BCE apresenta hoje novas previsões para crescimento e inflação com a maioria dos analistas a antecipar novos estímulos até ao final do ano. Draghi enfrenta decisões e dilema difíceis.

Mario Draghi, presidente do BCE, é o 2.º Mais Poderoso de 2016.
08 de Setembro de 2016 às 12:08
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O BCE apresenta hoje novas previsões para o crescimento e inflação, as primeiras depois do Brexit, e está sob pressão para apresentar novas medidas de estímulo que a maioria dos analistas considera inevitável, se não agora, até ao final do ano. Na conferência de imprensa da tarde, em que explicará as decisões do Conselho do BCE, Draghi enfrentará muitas questões sobre os desafios que a Zona Euro enfrenta. E os seus planos para lidar com eles.


1. As compras de activos continuarão para lá de Março de 2017?


Com a inflação teimosamente próxima de zero (0,2% em Agosto, igual a Julho e abaixo do que se esperava) e perspectivas macroeconómicas mais negativas para a Zona Euro, parece cada vez mais certo que o BCE deverá apresentar novas medidas de estímulo monetário até ao final do ano. Uma das hipóteses mais prováveis passa por prolongar o programa de compra alargada de activos para lá de Março de 2017. A extensão da duração, como aliás um aumento do ritmo mensal de compras – que em Março subiu de 60 mil milhões de euros para 80 mil milhões de euros – colocam de imediato um desafio ao BCE: a escassez de títulos disponíveis no mercado que resulta das regras actuais de elegibilidade.


2. Que novos activos ou novos limites de compras de activos poderão ser considerados?


O actual programa de compras define que o BCE não pode adquirir obrigações do tesouro de um país quando:


1- A taxas de juro de mercado dos títulos for inferior a -0,4% (que é o valor dos juros praticados pelo BCE nos depósitos que os bancos fazem em Frankfurt);

2- Detenha mais que 33% do valor da emissão do título, quando estas obrigações tenham Cláusulas de Acção Colectiva (para evitar ter poder de veto em caso de reestruturação da dívida);

3- Tal implique ultrapassar um total de obrigações de um país igual que, em termos relativos, supere o seu peso na chave de capital do BCE.


Para reforçar o programa de estímulo, como explica hoje o Negócios, o BCE poderia tentar flexibilizar estas regras, cortar a taxa de depósito para valores ainda mais negativos, ou acrescentar novos títulos à lista de activos elegíveis, como acções de empresas ou obrigações de bancos. Portugal está particularmente interessado nestas alterações, visto que as compras do BCE poderão estar a atingir o limite dos 33%.

Como evidenciou em Março, no último reforço do programa de estímulo, não tem faltado imaginação e Frankfurt, ainda que sem os resultados pretendidos: hoje Draghi poderá novamente apresentar uma revisão em baixa das previsões de inflação.


3. A credibilidade do BCE está em risco?


Esta é talvez a maior ameaça existencial ao BCE. São cada vez mais os indícios de que as expectativas de inflação de médio prazo estão a afastar-se da meta de 2% que o banco central tem como missão garantir. A estabilidade de preços é o seu único objectivo estatutário explícito nos Tratados, e a confiança das empresas e famílias sobre a capacidade do banco central o cumprir está pressionada, como destacámos no Negócios esta semana, com base num estudo publicada pelo próprio BCE.


A ameaça poderá aumentar se o BCE cortar mais uma vez a estimativa de evolução da inflação, que nos último ano foi sucessivamente revista em baixa.


Draghi poderá ser questionado sobre o tema e deverá reforçar que o BCE não hesitará em actuar se considerar que o seu mandato está em causa. Na última reunião, o risco de desancoragem das expectativas esteve em cima da mesa, mas o debate revelou-se inconclusivo.


4. Os bancos aguentam mais tempo de juros e rendibilidades baixas?


As taxas de juro próximas de zero estão a dificultar a vida à banca que vê a sua margem financeira cair – e a muitos investidores institucionais que não conseguem as rendibilidades em activos com pouco risco. Este é um dos grandes desafios colocado pelas políticas de estímulo do BCE e um risco cuja gravidade depende dos efeitos na estabilidade financeira da banca da Zona Euro. Essa é uma das principais preocupações de Daniele Nouy, a líder do Mecanismo Único de Supervisão, o braço regulador do BCE, como sublinhou várias vezes nas últimas semanas.

5. Como o Brexit afecta a Zona Euro?


Em Junho, antes da decisão britânica de sair da União Europeia, o BCE avançou com previsões que apontavam para uma recuperação lenta da economia – com pontos médios de crescimento de 1,6%, 1,7% e 1,7% em 2016, 2017 e 2018, respectivamente – e da inflação, com pontos médios de 0,2%, 1,3% e 1,6% em 2016, 2017, e 2018, respectivamente.

Em Julho, Draghi garantiu que o BCE está "preparado, disponível e capaz de actuar" se identificar uma ameaça ao seu objectivo de inflação, e sublinhou que "ao longo dos próximos meses, quando tivermos mais informação, incluindo novas projecções do staff, estaremos em melhor posição para reavaliar as condições macroeconómicas subjacentes".

Hoje é dia de apresentação de novas previsões do staff (as seguintes surgirão em Dezembro). E se é certo que, pelo menos por agora, o Brexit não parece estar a constituir uma grande ameaça ao desempenho económico da Zona Euro, por outro as perspectivas macroeconómicas têm vindo a ser revistas em baixa. Draghi terá a oportunidade para explicar a visão do BCE sobre a evolução da economia da Zona Euro e as principais ameaças ao objectivo de inflação.

6. Que riscos políticos vê na Europa?


Aos riscos económicos que afectam a região – evolução do preço do petróleo, risco de estagnação da inflação, elevado endividamento num contexto de crescimento baixo, e novos problemas na banca italiana e portuguesa, para citar alguns –  a Zona Euro enfrenta vários riscos políticos.

Entre eles estão um cenário de necessidade de novas eleições legislativas em Espanha, de agravamento das relações diplomáticas com o Reino Unido no contexto das negociações de saída, de eleições legislativas na Alemanha e França em 2017 com a popularidade de Angela Merkel e François Holande em baixa e movimentos políticos extremistas em alta, e ainda a possibilidade de demissão de Mateo Renzi em Itália caso perca um referendo sobre alterações à Constituição a decorrer até final do ano.

As posições do BCE sobre assuntos políticos são sempre um tema sensível, mas poder-se-á esperar de Draghi pelo menos um apelo à continuação das reformas estruturais, em particular as que flexibilizem o funcionamento da economia.

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