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Draghi: Bancos portugueses e italianos têm de conseguir vender malparado em mercado
O presidente do BCE considerou os elevados níveis de malparado “um problema”, mas também propôs a solução, e ela implica apoio público. Declarações de Draghi levaram acções da banca a subir.
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Mario Draghi não foi tão longe quanto o FMI em considerar que a fragilidade e os elevados níveis de crédito malparado em Portugal e Itália constituem um risco para a estabilidade da Zona Euro, mas reconheceu que representam um problema, que é preciso tratar "tão rápido quanto possível", sendo certo que levará sempre tempo. A boa notícia é que em Frankfurt parece haver uma ideia clara de como se pode resolver o problema: os bancos têm de conseguir vender esses créditos em mercado para limparem os respectivos balanços e voltarem a poder ser rentáveis e a emprestar dinheiro à economia. E para isso é essencial que os governos criem um enquadramento legal adequado e, tão ou mais importante, que sejam criados mecanismos de apoio público que evitem que os títulos sejam vendidos a preço de saldo.
"Os créditos malparados são um problema significativo para os lucros futuros e para a capacidade dos bancos concederem crédito. É um problema que tem de ser tratado", defende o presidente do BCE que, de seguida, propôs a solução, lembrando no entanto que esta é uma questão que levará sempre algum tempo a resolver. "Foi assim em quase todo o lado", defendeu.
Mais à frente viria a considerar que o "apoio público, respeitando as regras da Comissão Europeia, seria muito útil", como forma de evitar vendas a preços de saldo que aumentariam as perdas dos bancos, exigindo recapitalizações públicas, com inevitáveis resoluções de instituições e perdas para investidores.
As declarações de Mario Draghi vão ao encontro dos planos que estão a ser desenhados em Itália – e olhados com atenção em Portugal – de criar um mercado de titularização de créditos malparados, suportado num sistema de garantias públicas que, pelo menos parcialmente, proteja os compradores de perdas.
Esta é uma forma incentivar compras e vendas a preços "justos". A ideia por detrás deste tipo de mecanismo é a de que existe uma falha de mercado, que resulta dos investidores estarem receosos em excesso em relação à qualidade destes activos, o que impede a sua transacção a preços de mercado.
Um problema que se coloca é que à luz das regras europeias de concorrência, os governos podem criar um mecanismo de garantias sem problema, mas estas têm de ser "vendidas" aos compradores a preços de mercado. Isto apesar de não haver qualquer mercado.
As declarações de Draghi, embora cuidadosas e diplomáticas em relação aos poderes da Comissão Europeia, e em particular da Direcção-geral da Concorrência, dão força aos que defendem uma solução mais expedita para o mal-parado na Europa que inclua apoio dos governos. As acções dos bancos reagiram positivamente.
Às 15:30 de Lisboa, uma hora após as declarações de Draghi, o índice Stoxx600 para a banca, composto por 48 membros, estava a subir 1,25%, com apenas seis cotadas em queda. A liderar os ganhos estava o italiano Banca Popolare Emilia Romagna, a subir 4,96%, seguido pelo Unicredit, que ganhava 4,17%. As subidas foram generalizadas: o espanhol Popular apreciava 4,3% enquanto o Santander estava a valorizar-se mais de 2,5%. O alemão Deutsche Bank também estava a ganhar mais de 3,5%. E na banca portuguesa, o destaque ia para o BCP, ao apreciar 3,61% para 0,201 euros.
Em geral, Mario Draghi considerou que "os bancos da [Zona Euro] estão melhor, até muito melhor do que antes" da crise, melhor capitalizados e beneficiando de uma estruturar de supervisão e regulação mais robusta.
Portugal, como Itália, permanece com níveis elevados de crédito malparado, e este é um dos factores que está a impedir a concessão de novo crédito à economia, concordam a generalidade das análises publicadas sobre a economia nacional. Os bancos nacionais contam com quase 20 mil milhões de euros de créditos em incumprimento, o que representa quase 10% da carteira de créditos e 11% do PIB. No caso italiano, os empréstimos em incumprimento ascendem a 200 mil milhões de euros (12% do PIB ) e representam apenas 60% de uma carteira de activos tóxicos avaliada de 370 mil milhões de euros. Os dois países não criaram estruturas específicas para lidar com este problema durante a crise, em parte pelos elevados níveis de dívida pública (próximos de 130% do PIB), mas também pela resistência da banca, que se veria forçada a registar perdas, o que implicaria volumosas necessidades de recapitalização.