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Draghi avisa para os riscos de ímpetos proteccionistas e de desregulação
O presidente do BCE não deixou pistas sobre a retirada dos estímulos. Mas alertou para os efeitos do maior proteccionismo e juntou-se a Janet Yellen na mensagem de que é necessário preservar a regulação.
Janet Yellen já tinha deixado o alerta esta sexta-feira. As medidas de regulação que foram colocadas no terreno desde a crise financeira não deveriam ser revertidas, numa altura em que Donald Trump defende mais desregulação. Mario Draghi aproveitou também o discurso na conferência de Jackson Hole para salientar a importância de se ter uma regulação forte. E alertou para os riscos do proteccionismo, outra das direcções das políticas defendidas pelo presidente dos EUA.
"A abertura comercial está sob ameaça e isto significa que as políticas para responder a este retrocesso são uma parte vital do ‘mix’ de políticas para dinamizarem o crescimento", disse o presidente do BCE no discurso desta sexta-feira na conferência de Jackson Hole, colocado no site do banco central. Draghi referiu que "algumas destas políticas podem ser implementadas internamente, mas outras apenas podem ser efectivas através da cooperação multilateral".
Mario Draghi observou que "o consenso social em relação aos mercados abertos enfraqueceu nos anos mais recentes". Considera que isso foi consequência "não tanto da crença de que os mercados abertos já não criam riqueza, mas pela percepção de que os efeitos colaterais dessa abertura pesam mais que os seus benefícios". E acrescenta: "As pessoas estão preocupadas sobre se a abertura é justa, se é segura e se é equitativa". E diz que se o deslocamento criado pelo mercado aberto for além de determinado ponto "o proteccionismo é a resposta natural da sociedade".
Mas para fomentar uma recuperação económica saudável, Draghi considera que "precisamos de resistir a ímpetos proteccionistas. Mas, para o fazer, necessitamos também de identificar a melhor forma de responder ao proteccionismo". A solução passa, defendeu, pela cooperação multilateral.
A regulação e o risco dos incentivos que levam a crises
Mario Draghi defendeu que os reguladores têm de ter cautela para não darem os sinais errados ao mercado. Principalmente numa altura em que as políticas monetárias são expansionistas. "Com a política monetária muito expansionista a nível global, os reguladores devem ser cautelosos para não reacenderem os incentivos que levaram à crise".
Explicou que "quando a política monetária é acomodatícia, uma regulação mais frouxa corre o risco de provocar o risco de criar desequilíbrios financeiros". E considera que "o regime regulatório mais forte que temos actualmente permitiu que as economias tivessem um período longo de baixas taxas de juro sem haver qualquer significativo efeito colateral para a estabilidade financeira, o que foi crucial para estabilidade a procura e a inflação a nível mundial".