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Trump impõe tarifas aos principais parceiros comerciais

A Casa Branca anunciou a imposição de novas tarifas aduaneiras às importações de aço e alumínio vindas da UE, e também do Canadá e México. Retaliação a caminho agrava perspectivas de uma guerra comercial de largo espectro que também incluirá a China.

Rafael Marchante/Reuters
David Santiago dsantiago@negocios.pt 31 de Maio de 2018 às 22:25

Donald Trump deu um passo decisivo rumo a uma guerra comercial de largo espectro. Esta quinta-feira, a Casa Branca anunciou que a partir de hoje o aço e o alumínio importados da União Europeia, Canadá e México vão ser alvo das novas taxas alfandegárias de 25% e 10%, respectivamente.

Ao não renovar as isenções temporárias concedidas até 1 de Junho sem que tenha sido encontrada uma solução de compromisso, os Estados Unidos estão a declarar guerra comercial aos seus principais parceiros comerciais, já que a escalada proteccionista promovida por Trump abrange também a China.

Foi o secretário do Comércio dos EUA, Wilbur Ross, quem verbalizou a decisão, invocando razões de segurança nacional. "Consideramos que sem uma economia forte não podemos ter uma segurança nacional robusta", explicou.

Ao anúncio da decisão seguiram-se as inevitáveis consequências e reacções. No primeiro caso, os títulos accionistas do sector siderúrgico somaram ganhos enquanto Wall Street reagiu em queda, com os investidores a mostrarem receio quanto às consequências de uma provável escalada de contra-medidas capaz de fazer tremer a actual ordem do comércio global.

Desde que em Março Trump anunciou as novas taxas, a UE encetou negociações para tentar garantir isenções permanentes, considerando que as taxas impostas violam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Retaliação a caminho

Não tardou a resposta de Bruxelas. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, prometeu medidas de retaliação que serão conhecidas "nas próximas horas". Juncker defendeu ser "completamente inaceitável" que um país aplique "medidas unilaterais que concernem ao comércio mundial". Juncker  anunciou ainda que a UE vai contestar de imediato, junto da OMC, a decisão dos EUA.

Para a comissária europeia do Comércio, Cecilia Malmström, que nas últimas semanas tentou negociar, aparentemente sem sucesso, uma solução de compromisso, resume o estado de alma numa frase: [foi] um mau dia para o comércio mundial".

A Bloomberg adianta que a UE pretende aplicar tarifas sobre bens importados dos EUA num valor de 2,8 mil milhões de euros, devendo estas entrar em vigor até 20 de Junho. A agência noticiosa adianta que as motas Harley-Davidson e o whiskey norte-americano constarão da lista de produtos alvo das tarifas europeias.

Consideramos que sem uma economia forte não podemos ter uma segurança nacional robusta. wilbur ross
Secretário do Comércio dos EUA

Também o Canadá e o México já reagiram anunciando medidas recíprocas. O Canadá promete tarifas sobre aço e alumínio dos EUA, bem como sobre outros produtos. Na quarta-feira a ministra dos Negócios Estrangeiros, Chrystia Freeland, considerou como "francamente absurdo" o argumento de segurança nacional invocado pelos EUA. E o México vai aplicar "medidas equivalentes sobre vários produtos" importados dos EUA. "Perante as tarifas impostas pelos EUA. O acordo NAFTA que Trump quer renegociar, fica ainda mais posto em causa.

Desilusão para o "optimista" Costa

Esta decisão foi um balde de água fria para a UE e, em particular, para o optimismo do primeiro-ministro português. Esta quinta-feira, na conferência de imprensa conjunta que finalizou a visita oficial da chanceler Angela Merkel a Portugal, António Costa dizia que enquanto "optimista" esperava que Trump publicasse um "tweet que traga boas notícias" sobre as relações comerciais entre os dois blocos económicos. Pelo seu lado, Angela Merkel reiterou em Lisboa que o objectivo seria "ter uma isenção permanente".

Merkel garante resposta conjunta

Talvez a antecipar uma decisão desfavorável para o bloco europeu, Merkel garantiu que a Europa irá "decidir e responder em conjunto", apoiada por Costa que assegurou que a União vai continuar a ter "uma política comercial comum".

O primeiro-ministro garantiu que as políticas divisionistas de Trump, um presidente que se opõe ao multilateralismo e que privilegia acordos bilaterais numa lógica negocial ganhador-perdedor, não terão efeito na Europa: "como mostrámos a propósito do Brexit, não nos deixaremos dividir".

A União Europeia vai decidir e responder em conjunto. angela merkel
Chanceler da Alemanha


Esta foi uma semana em que a administração liderada por Donald Trump voltou à carga, e em força. Na terça-feira, a Casa Branca revelou que será publicada até 15 de Junho a lista final dos produtos importados da China que serão alvo da nova tarifa aduaneira de 25%, a entrar em vigor "pouco depois" dessa data.

O objectivo é alcançar um valor de 50 mil milhões de dólares por forma a equilibrar a relação comercial entre as duas maiores economias mundiais. Mais de metade do défice da balança comercial dos EUA diz respeito ao desequilíbrio nas trocas comerciais com a China.

Pequim recebeu este anúncio da Casa Branca com "surpresa" e dificilmente deixará de voltar a retaliar.

OPA à EDP. Costa não se pronuncia

A OPA lançada pelos chineses da China Three Gorges sobre a EDP não foi tema nas conversas mantidas entre Costa e Merkel. E nem o primeiro-ministro nem a chanceler alemã se alongaram nas respostas aos jornalistas sobre a questão. "Obviamente não foi objecto de conversação entre nós visto que o Estado português não tem de se pronunciar sobre uma operação de mercado que decorre de acordo com as regras de mercado", afirmou Costa. Já Angela Merkel também disse não ter "nada a opor" à operação, mas disse ser "importante haver reciprocidade" nas relações entre a UE e a China. Numa altura em que se discute na UE a premência de não colocar sectores estratégicos nas mãos de investidores externos, Merkel assumiu ser possível negociar com Pequim uma posição que beneficie ambas as partes no que concerne ao investimento chinês na Europa.

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