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Trump declara guerra comercial à UE. Juncker promete retaliação
Os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos não vão escapar à fúria proteccionista do presidente norte-americano. EUA impõe taxas aduaneiras sobre as importações de aço e alumínio oriundas da União Europeia, Canadá e México.
Foi o secretário do Comércio dos EUA, Wilbur Ross, a confirmar que a isenção temporária concedida à UE não será prolongada nem substituída por uma isenção permanente como pretendido por Bruxelas. Estas tarifas aduaneiras vão também incidir sobre as importações de aço e alumínio oriundas do Canadá e do México, países-membros do NAFTA, um acordo de livre comércio que o presidente norte-americano, Donald Trump, quer renegociar.
O primeiro prazo para o fim das isenções terminou em 1 de Maio, a que se seguiu um novo prolongamento que terminava à meia-noite desta quinta-feira. Isto significa que todas as exportações de aço e alumínio para os EUA, a partir da UE e dos outros países alvo das tarifas, terão a partir de amanhã que pagar as novas taxas alfandegárias.
"Consideramos que sem uma economia forte não podemos ter uma segurança nacional robusta", explicou Ross em declarações feitas aos jornalistas. A visão proteccionista de Donald Trump volta assim a ganhar um novo impulso.
A União Europeia vinha negociando com as autoridades norte-americanas com vista à obtenção de isenções permanentes, considerando que as taxas impostas violam as regras comerciais estabelecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em reacção a esta decisão, as acções das cotadas americanas ligadas ao sector do alumínio valorizaram e Wall Street, que até aí negociava em alta, inverteu para terreno negativo com os investidores a percepcionarem o agravar do risco de uma guerra comercial e uma escalada nas reacções dos parceiros comerciais.
UE promete retaliar contra medidas "inaceitáveis"
Não tardou a resposta de Bruxelas. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, prometeu medidas de retaliação que serão conhecidas "nas próximas horas" e assegurou que a União não vai aceitar estas medidas "inaceitáveis". Juncker defendeu ser "completamente inaceitável" que um país aplique "medidas unilaterais que concernem o comércio mundial".
O dirigente europeu anunciou ainda que a UE vai contestar de imediato, junto da OMC, a decisão dos Estados Unidos. Também o México já reagiu anunciando que irá aplicar "medidas equivalentes sobre vários produtos" importados dos EUA. Já a comissária europeia para o Comércio, Cecilia Malmström, que nas últimas semanas tentou negociar, aparentemente sem sucesso, uma solução de compromisso com Washington resume o estado de alma numa frase: "hoje é um mau dia para o comércio mundial".
"Perante as tarifas impostas pelos Estados Unidos, o México vai impor medidas equivalentes a vários produtos, como aços planos e lâmpadas", informou hoje, em comunicado, o Ministério da Economia do México.
Esta decisão foi um balde de água fria para a UE e, em particular, para o optimismo do primeiro-ministro português. Esta quinta-feira, na conferência de imprensa conjunta que finalizou a visita oficial da chanceler Angela Merkel a Portugal, António Costa dizia que enquanto "optimista" esperava que Trump publicasse um "tweet que traga boas notícias" sobre as relações comerciais entre os dois blocos económicos.
Por seu lado, Angela Merkel reiterou hoje em Lisboa que o objectivo seria "ter uma isenção permanente", lembrando que "as taxas não estão de acordo com as regras da OMC".
Talvez a antecipar uma decisão desfavorável para o bloco europeu, Merkel garantiu que a Europa irá "decidir e responder em conjunto", apoiada por Costa que assegurou que a União vai continuar a ter "uma política comercial comum". O primeiro-ministro garantiu ainda que as políticas divisionistas de Trump, um presidente que se opõe ao multilateralismo e que privilegia acordos bilaterais numa lógica negocial ganhador-perdedor, não terão efeito na Europa: "como mostrámos a propósito do Brexit, não nos deixaremos dividir".
Esta foi uma semana em que a administração liderada por Donald Trump voltou à carga e em força. É que na terça-feira a Casa Branca revelou que será publicada até 15 de Junho a lista final dos produtos importados da China que serão alvo de uma nova tarifa aduaneira de 25%, a entrar em vigor "pouco depois" dessa data. O objectivo desta tarifa é o de alcançar um valor de 50 mil milhões de dólares por forma a equilibrar a relação comercial entre as duas maiores economias mundiais. Mais de metade do défice da balança comercial dos EUA diz respeito ao desequilíbrio nas trocas comerciais com a China.
Com negociações em curso entre Washington e Pequim, este anúncio da Casa Branca foi recebido com "surpresa" pelas autoridades chinesas. Uma decisão que poderá estar relacionada com as críticas dirigidas a Trump sobre uma alegadamente pretendida suavização das medidas proteccionistas face ao inicialmente anunciado pelo presidente americano.
Logo após a imposição desta taxa pelos Estados Unidos, a China respondeu com a adopção de tarifas no valor de 3 mil milhões de dólares aos bens importados dos EUA, o que reforçou o receio dos investidores quanto às consequências de uma guerra comercial de larga escala.