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Vice-presidente do Parlamento Europeu e deputado de Maduro quase chegaram a "vias de facto" em Lisboa

"Ditadura!, dizia um, "mentira!", respondia o outro. O relato é feito pelo Observador. Motivo: a situação na Venezuela. Cenário: os corredores da Assembleia da República.

Bruno Simão/Negócios
Negócios 17 de Maio de 2016 às 16:40
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Antonio Tajani (na foto), o italiano vice-presidente do Parlamento Europeu e ex-comissário, e Dario Vivas, deputado venezuelano do partido de Nicolas Maduro, tiveram de ser separados nos corredores do Parlamento português, depois de uma violenta discussão acerca da Venezuela. O relato é feito pelo Observador, segundo o qual os ânimos aqueceram na reunião Eurolat — que juntou esta manhã parlamentares europeus e da América do Sul na Assembleia da República, em Lisboa.

O que começou como uma conversa entre colegas nos corredores da Assembleia da República, rapidamente deu origem a uma acesa discussão, com berros à mistura. Gritando inicialmente um com o outro directamente, Tajani ainda virou as costas ao venezuelano, dirigindo-se para a escadaria principal da Assembleia, mas voltou atrás para gritar mais algumas vezes "ditadura". Os dois parlamentares tiveram mesmo de ser afastados pelos deputados presentes e funcionários do Parlamento.

Tajani condenava o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, dizendo que se trata de "uma ditadura", enquanto Dario Vivas dizia que isso não era verdade. O episódio durou alguns minutos, acrescenta o Observador, gerando tensão entre os presentes. Tajani foi afastado do corredor, prosseguindo para o almoço, enquanto Vivas se dirigiu aos jornalistas presentes.

"Há organizações de direita, dentro do próprio Parlamento Europeu, que estão a atacar a Venezuela e dizem mentiras. Dizem que há violações dos direitos humanos, mas não dizem que Antonio Ledezma [presidente da Câmara de Caracas] e Leopoldo Lópezas [coordenador do partido Voluntad Popular], que estão presos e assim vão continuar, são responsáveis pela morte de 43 pessoas", afirmou Dario Vivas, deputado do Partido Socialista Unido da Venezuela, a força política de Nicolás Maduro.


No seu discurso de abertura deste encontro interparlamentar, que decorre até quarta-feira, Antonio Tajani, que integra o grupo do Partido Popular Europeu – a que pertencem o PSD e CDS no Parlamento Europeu – tinha mencionado que os direitos humanos na Venezuela não estão a ser respeitados, devido à intervenção do regime na detenção de figuras políticas da oposição.


Tajani: Europa deve intervir na Venezuela, não no Brasil

Em declarações à Lusa, Tajani já antes havia considerado que a Venezuela representa "um problema de Direitos Humanos" que a União Europeia deve abordar.

 

"Na Venezuela falta democracia. Não se pode fazer oposição a partir da prisão. Nem se pode ser empresário a partir da prisão. O respeito pelos Direitos Humanos para nós é uma prioridade", considerou à agência Lusa o europarlamentar, que também foi vice-presidente da Comissão Europeia.

 

Tajani, que falava à Lusa à margem da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-americana, que decorre no parlamento português, criticou as opções políticas do presidente venezuelano Nicolas Maduro, especialmente o encarceramento de elementos da oposição e empresários contrários ao regime bolivariano.

 

"Ganhe quem ganhar, são os venezuelanos que decidem quem ganha. Mas não se pode reagir como fez o presidente Maduro, a mandar toda a gente para a prisão. Estão a enviar para a prisão presidentes de Câmara e empresários porque não estão a favor do presidente Maduro", realçou.

 

O presidente da Câmara de Caracas e opositor do regime, Antonio Ledezma, está detido há mais de um ano na Venezuela. Também o opositor do regime de Maduro, Leopoldo López, se encontra detido.

 

Antonio Tajani classificou a situação na Venezuela como "preocupante", como revelam recentes relatos, e considerou que a União Europeia tem de fazer todos os esforços para contribuir para uma solução para a crise política naquele país. "Defender os Direitos Humanos é um trabalho da UE não só no seu interior, mas também fora. É isso que está nos Tratados. Na Venezuela há que defender os Direitos Humanos", sublinhou.

 

Sobre a situação política no Brasil, Tajani fez questão de a distinguir do caso venezuelano. "O Brasil é outra situação de instabilidade. Há um problema de corrupção, mas não é nosso trabalho [solucioná-la], isso é trabalho para o Brasil. Para nós é importante a estabilidade de um país tão importante, mas no Brasil há uma guerra política, não há um problema de Direitos Humanos [como na Venezuela]", disse.

 

Tajani deixou ainda a possibilidade de esta reunião da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-americana aprovar uma declaração conjunta que inclua uma posição sobre a situação na Venezuela.

Senadores brasileiros do PT de Dilma Rousseff também queriam uma declaração de condenação sobre o afastamento da presidente. "A comunidade internacional quer falar sobre o Brasil, quer debater e entender o que está acontecendo no nosso país. Nós viemos a Lisboa para explicar a eles, porque sabemos que não é fácil entender esse processo", afirmou à BBC Brasil o senador Lindbergh Farias (PT), que viajou com os colegas Vanessa Grazziotin (PC do B), Gleisi Hoffmann (PT), Lídice da Mata (PSB) e Roberto Requião (PMDB).


"Não foi por acaso que trouxemos o principal time (equipa) de defensores da presidente Dilma na comissão de impeachment. Nós temos certeza de que vamos sair de Portugal com uma postura forte da comunidade internacional contra o golpe, e isso será fundamental para reverter a situação actual", justificou. Lindbergh Farias é um dos vários senadores brasileiros que o Procurador-geral da República quer investigar após denúncias no âmbito da operação Lava Jato.  Em relação a Gleisi Hoffman, o PGR apresentou já uma denúncia junto do Supremo Tribunal Federal.

Ferro Rodrigues: "Querer transparência é sinal de qualidade da democracia"

Falando na sessão de abertura das reuniões das comissões parlamentares permanentes da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-americana (Eurolat), Ferro Rodrigues, o presidente do Parlamento português, disse ser normal que a nova classe média na América Latina tenha novas exigências democráticas, "no que se refere a padrões de transparência no exercício de cargos políticos ou acerca da qualidade dos serviços públicos em geral, a saúde e o ensino em particular".

"É um sinal de qualidade democrática e não o contrário. O que não é sinal de qualidade democrática é quando vemos adversários que não respeitam os princípios básicos da lealdade institucional e o convívio democráticos", afirmou.

 

"Só posso desejar que a América Latina, em particular países como a Argentina, Brasil, Bolívia e a Venezuela, reencontre o caminho do crescimento económico e da justiça social fazendo, tal como nós na Europa temos de fazer, as adaptações e as reformas justas que se impõem mas em condições sociais e políticas compatíveis com esse valor supremo que é a democracia e a estabilidade democrática", disse ainda, citado pela Lusa. 

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